Edição 251 26 de maio de 2009
Há 100 anos, um crime passional tirava a vida de Euclides da Cunha, o famoso autor de Os Sertões, livro que mistura literatura e jornalismo e conta a saga da Guerra de Canudos no interior da Bahia do início do século XX. Euclides morreu devido a um tiro disparado pelo amante de sua esposa. Porém, antes do dia trágico, o escritor teve uma trajetória que o faz ser hoje um dos grandes nomes da Literatura Brasileira. Para marcar o centenário de morte do literato, foi criado o projeto de extensão interinstitucional “100 anos sem Euclides”, do qual participa a UFRJ.
O projeto foi criado em abril de 2008, em um conselho formado por representantes da UFRJ e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e que, em seguida, firmou parcerias com professores, poetas e agentes culturais de Cantagalo, cidade natal de Euclides, no interior do estado do Rio de Janeiro. Desde então, o projeto busca realizar ações culturais e educativas, de preferência naquela comunidade e nas de seu entorno. Segundo Anabelle Loivos, professora da Faculdade de Educação da UFRJ e coordenadora do “100 Anos sem Euclides”, o projeto pretende incitar uma série de ações que visem ao resgate da obra e da memória euclidianas para que o autor seja, assim, cada vez mais lido.
Anabelle esclarece ainda que o “100 anos sem Euclides” pretende disseminar uma faceta do autor que é pouco conhecida. “A gente conhece muito o Euclides de Os Sertões, que se notabilizou por ser uma obra que de certa forma marca a entrada do Brasil na Modernidade”, afirma a professora. No entanto, há outra vertente do escritor fluminense que é a de abordagem das questões amazônicas, mostrando uma preocupação ambiental que parecia antever os tempos atuais. “Os textos sobre a Amazônia que Euclides escreve já dão conta de uma visão ambientalista muito antes de isso virar moda. Nosso objetivo é, portanto, incentivar a garotada com as obras do autor, tentando a aproximação por essa vertente com um pé na sociedade atual”, completa a professora.
Além disso, Anabelle lembra que ler Euclides da Cunha hoje ajuda a entender um pouco mais o Brasil do período em que nascia a Primeira República e, consequentemente, compreender os resquícios daquela época nos dias atuais. “Euclides é um intelectual visionário que acreditava ter como missão mostrar ao Brasil litorâneo o desconhecido Brasil profundo, o Brasil do sertões. E sertão não é aquela região árida, mas o lugar onde o processo civilizatório e o poder público não chegaram”, conclui a coordenadora do projeto.
Ações do projeto
Dentre as ações firmadas pelo projeto, destaca-se o seminário internacional “100 anos sem Euclides”. O seminário ocorre nos dias 25, 26 e 27 de setembro em Cantagalo e reúne, além de estudiosos na área de Letras e Literaturas, leitores e admiradores de outras áreas. Bertold Zilly, tradutor oficial de Euclides para a língua alemã, e Vanice Galvão, professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP), já confirmaram presença no evento. Aqui na cidade do Rio de Janeiro, teremos a Semana Euclides da Cunha, organizada pela professora Anélia Pietrani da Faculdade de Letras da UFRJ, que acontece logo após o seminário internacional, nos dias 28 e 29 de setembro.
Além disso, outra ação realizada será a distribuição do livro infanto-juvenil Quatro Cantos de Euclides, de autoria de Thiago Cascabulho. A obra é composta por quatro poesias que podem ser interpretadas em forma de música com ritmos brasileiros. Anabelle conta que o livro será interpretado durante a FLIP (Feira Literária Internacional de Parati) por um grupo teatral. “A ideia é que depois o livro seja impresso e distribuído gratuitamente para as escolas. Nos propomos também a manter cursos de capacitação para professores para que eles possam trabalhar o livro, mostrando seus links com a obra de Euclides. A proposta é tornar Euclides mais palatável, já que ele tem uma linguagem anacrônica”, diz a professora.
As ações do projeto “100 anos sem Euclides” podem ser conhecidas com mais detalhes na página oficial www.projetoeuclides.iltc.br.