Edição 246 22 de abril de 2009
Nascido e criado no Morro da Chatuba, zona norte do Rio de Janeiro, Adriano conseguiu realizar o sonho que muitos meninos de origem pobre, assim como ele, não conseguem: tornar-se um grande jogador de futebol. Com vigor físico e talento que impressionaram os dirigentes do clube italiano Internazionale, para o qual foi vendido em 2001, o jogador conquistou fama, dinheiro, títulos e o apelido de “Imperador”.
No entanto, no início deste mês, após a última rodada das eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, Adriano não embarcou de volta para Milão nem retornou para casa, na Barra da Tijuca. O “sumiço” do atacante, encontrado três dias depois na favela onde nasceu, provocou boatos na imprensa de que ele estaria deprimido e envolvido com drogas. No último dia 9, Adriano declarou que permaneceu no Brasil porque estava infeliz na Itália e que pretende parar de jogar futebol por tempo indeterminado.
Para Waldyr Mendes Ramos, diretor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, a exposição do caso de Adriano na mídia e as especulações criadas em torno da situação vivenciada pelo jogador devem ser analisadas com cuidado. “A imprensa é multifacetada. Há setores que se baseiam no Jornalismo sério e outros que se apoiam no sensacionalismo. Por ser um atleta de visibilidade internacional, Adriano é o tipo de personalidade que vende notícias e, dessa forma, sempre está nos jornais. Entretanto, é preciso que os próprios jornalistas avaliem até que ponto é ético expor o lado humano do jogador”, afirma. O professor cita a recente publicação de fotos do nadador norte-americano Michael Phelps usando maconha como um exemplo do que deve ser o papel da mídia. “A função da imprensa é informar o que está ocorrendo. O que acontece, muitas vezes, é que os próprios atletas criam situações negativas para eles sem se dar conta do que eles representam”, explica.
Segundo Waldyr, esportistas que alcançam projeção internacional estão mais vulneráveis a ações da mídia que enaltecem sua carreira e performance, mas também precisam estar preparados para o declínio e esquecimento. “A criação e a destruição de ídolos pelos veículos de comunicação fazem parte da lógica do capitalismo, em que tudo é transitório. Como a imprensa não tem apenas o desejo de informar, mas de vender jornais e gerar competição, o surgimento e a decadência de estrelas acabam se tornando parte dessa engrenagem. A vantagem do atleta é que ele pode mostrar nas competições o que realmente é”, diz.
Trabalho psicológico é fundamental
O diretor salienta que uma das maiores dificuldades dos esportistas, em geral, é lidar com as constantes pressões de torcidas e dirigentes por resultados positivos. Por isso, é importante que os atletas tenham acompanhamento psicológico desde o início da carreira, para que estejam aptos a enfrentar superexposições, favoráveis ou desfavoráveis, na mídia. “As consequências para um atleta despreparado nesse sentido são as piores possíveis. O trabalho psicológico deve ser feito de forma gradativa, a fim de que o esportista aprenda a lidar com as pressões à medida que vai crescendo profissionalmente”, ressalta.
Waldyr acredita que a transferência de jogadores de futebol cada vez mais jovens para o exterior dificulta o processo de amadurecimento do atleta. Para o professor, esse é um problema não só do futebol, mas de esportes como a ginástica artística, na qual se inicia a carreira muito cedo. “Quanto mais tarde o esportista chegar ao ápice, mais fácil é para ele criar condições de lidar com a enorme pressão externa”, destaca Waldyr, acrescentando que o trabalho psicopedagógico precisa ser mais bem considerado pelos clubes brasileiros. “Isso ainda é uma novidade no Brasil, mas é fundamental que o atleta tenha este tipo de acompanhamento”, finaliza.