Segundo balanço divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na terça-feira, 26 de maio, 46 países confirmaram casos da nova gripe A (H1N1), ao todo quase 13 mil pessoas foram infectadas e 92 morreram. No Brasil o Ministério da Saúde confirmou 9 casos da doença, além de outros 14 casos suspeitos e 14 sob monitoramento. Ainda segundo a OMS, os países do Hemisfério Sul devem ficar em alerta com a chegada do inverno, estação que favorece os surtos gripais. No domingo passado, 24, o governo do Kuwait informou que 18 soldados americanos foram contagiados pelo vírus H1N1.
No final do mês de abril, quando confirmados os primeiros casos de gripe suína nos EUA e no México, epicentro da doença, a gripe foi destaque nos principais meios de comunição do mundo. A mídia consultou especialistas sobre diversas questões: a eficiência do uso das máscaras e dos medicamentos, a fiscalização nos aeroportos internacionais, a possibilidade de uma pandemia e as formas de contágio.
O professor Maulori Cabral, do Instituto de Microbiologia, analisa a cobertura midiática sob dois parâmetros: o racional, segundo o qual ele considera que houve exagero por parte da grande mídia, e o emocional, abordagem classificada como "necessária para alertar e esclarecer a população sobre fatos do passado e sobre os fundamentos da Virologia como ciência, afinal, os próprios dados estatísticos da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram que as viroses representam 66% de todas as doenças infecciosas que acometem os seres humanos. Mas, infelizmente, a situação vigente é que faltam virologistas para resolver esse tipo de problema que é tão frequente no seio da população”, afirma Cabral.
Nos últimos dias, ao que parece, as matérias relacionadas ao tema deram uma estagnada. De acordo com o professor essa mudança aconteceu porque o assunto passou da categoria “novidade” para a categoria “normalidade”: “Novidade porque a gripe pelos vírus do tipo H1N1 foi apresentada com um toque de terror, pois esse tipo de vírus esteve associado à tragédia provocada pela gripe espanhola em 1918. Além disso, deve-se considerar que o tema em questão é do âmbito da Virologia, e existem poucos virologistas em nosso país. Menos ainda são aqueles que se dedicam ou se dedicaram à compreensão do fenômeno gripe na natureza. O estado de pânico ou histeria propagado pela mídia inicialmente agora está dando lugar a uma colocação mais racional, ou seja, de normalidade. Racional porque as informações sobre o assunto começaram a ser reunidas. Tais informações, particularmente aquelas disponibilizadas pelo órgão de Controle de Doenças Transmissíveis (CDC) dos Estados Unidos, mostram que a gripe por vírus H1N1 é uma doença enzoótica e endêmica naquele país. Enzoótica no âmbito veterinário, já que é relatada frequentemente nos rebanhos suínos, e endêmica porque, ao longo do ano e detectada em seres humanos, ocorre com mais frequência nos meses de dezembro a fevereiro, quando o clima está mais frio no hemisfério norte”, explica Cabral.
O professor destacou ainda a importância do papel desempenhado pelos meios de comunicação em casos como este. Segundo ele, os meios de comunicação são responsáveis pela disseminação das informações, evitando que a população fique à mercê do perigo. “Deve-se atentar para a responsabilidade social da mídia, pois ela detém o maior potencial para formação de opinião. Se errar, a consequência é imprevisível”, alerta Maulori.
Algumas pessoas chegaram a argumentar que a epidemia seria uma criação da mídia. Sobre esse posicionamento Cabral opina: “A mídia contribuiu para alertar a população, que passou a procurar meios laboratoriais para diagnosticar corretamente os casos de gripe. O resultado é que a cada dia dispomos de mais informações sobre novos casos confirmados. Se não tivesse ocorrido o alerta divulgado pela mídia, provavelmente esses casos de gripe passariam despercebidos das estatísticas. Em suma, a mídia cumpriu o seu papel e prestou grande colaboração em prol da divulgação da profissão de virologista”, finaliza o virologista.