A UFRJ tem aproximado cada vez mais, nos últimos anos, suas três atividades-fim: Ensino, Pesquisa e Extensão. Através desse conceito, a universidade sustenta seu conhecimento acadêmico e se projeta para o futuro, tentando integrar-se cada vez mais à sociedade. Essa integração é possível, fundamentalmente, através de suas atividades de Extensão. Incentivadas e apoiadas pela Pró-Reitoria de Extensão (PR-5), diferentes unidades da universidade desenvolvem 15 programas e 292 projetos que, em 2008, beneficiaram mais de um milhão de pessoas.
A PR-5 tem realizado uma política de integração das unidades através de programas e projetos de Extensão por meio do edital do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Pibex), que se tornou um forte estímulo ao desenvolvimento de atividades. Inicialmente, eram oferecidas 500 bolsas; agora, 600. “Isso provocou um estímulo dos alunos, que ficam orgulhosos por trabalharem em programas de Extensão. A demanda do edital Pibex tem crescido exponencialmente a cada ano e demonstra também o crescimento da Extensão na UFRJ”, declara Laura Tavares, pró-reitora de Extensão.
Além disso, há os editais governamentais que também estimulam a integração, através do Programa de Extensão Universitária (Proext), fomentado pela Secretaria de Ensino Superior (SESU-Mec). Este ano, a universidade teve 15 propostas aprovadas pelo Proext, com o valor de R$ 20 milhões – inédito para Extensão. “Nós tivemos quatro programas e três projetos aprovados”, destaca Ana Inês de Souza, superintendente acadêmica da PR-5.
Outra política implementada pela PR-5 para o desenvolvimento das atividades de Extensão tem sido mediar as demandas da população, alcançadas pelos projetos, com o poder público, articulando-se com prefeituras e outros órgãos governamentais, a fim de que novas ações venham se tornar políticas públicas, o que garante a continuidade dessas ações. “Chegar numa comunidade carente e não dar conta de todos os problemas tem sido o grande problema dos extensionistas de todo o Brasil, mas não podemos substituir o estado”, destaca a pró-reitora de Extensão.
Outra proposta de trabalho da PR-5 é trabalhar o território como eixo integrador. Na Maré esse trabalho já vem sendo realizado há anos com intervenções nas áreas de Arquitetura, Direito, Educação, Serviço Social e Cultura. Vamos ampliar como segurança pública, além da área dos direitos humanos.
A ideia é tentar implementar programa semelhante em Macaé e integrar o território daquela região. No interior, há programas em Paraty e Cabo Frio. De acordo com a pró-reitora de Extensão, a PR-5 vai pleitear junto à Reitoria a expansão das bolsas Pibex para contemplar os programas oriundos do campus de Macaé.
Para debater a importância da Extensão além de suas fronteiras e entender como as unidades da universidade vêm desenvolvendo as atividades de Extensão baseadas na indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, o Olhar Virtual entrevistou Laura Tavares, pró-reitora de Extensão, e Ismar de Souza, professor do Instituto de Geociências da UFRJ.
“O desafio da Extensão hoje é a indução para a criação de programas integrados e interdisciplinares”
“A indissociabilidade entre Ensino-Pesquisa-Extensão é uma ideia interna da UFRJ. A Lei Nacional de Educação determina que 10%, no mínimo, dos créditos curriculares sejam de Extensão. Porém, isso não vem sendo feito de maneira homogênea na UFRJ. Algumas unidades cumprem essa exigência; outras, não. Mas isso é provocado em parte pela estrutura departamental da universidade. A fragmentação é também uma barreira das disciplinas e do conhecimento. Porque, na verdade, o caráter interdisciplinar vem sendo garantido, além da pesquisa, nos programas e projetos de Extensão que congregam vários professores e alunos de diferentes unidades. Há, atualmente, vários programas que são interdisciplinares, como o UFRJMar, o da Vila Residencial, o Pré-universitário de Nova Iguaçu.
Nas atividades de Extensão ocorrem, em geral, duas experiências: a primeira é quando uma disciplina já existente passa a ser integrada ao currículo como disciplina de Extensão e a segunda é quando, a partir de um projeto de Extensão, cria-se uma disciplina nova. Um exemplo disso é o Núcleo de Solidariedade Técnica da Escola Politécnica (Soltec), que já criou duas disciplinas a partir do projeto de Extensão, assim como o Instituto de Biologia e outras unidades.
Na pós-graduação, a partir da pesquisa, também pode-se desenvolver projetos de Extensão, como o Programa de Pós-graduação em Urbanismo (Prourb), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que tinha um projeto de pesquisa e agora está desenvolvendo um projeto de Extensão em Paraty.
Apesar de a realização das atividades de Extensão não ser homogênea, a grande maioria já possui alguma atividade dessa natureza. Em uma parte delas já existe também institucionalização da Extensão. Nas unidades mais avançadas, que já criaram um novo regimento, já há uma diretoria-adjunta de Extensão, como é o caso do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc).
Uma área voltada aos jovens precisa ser fortalecida na Extensão. Atualmente, existe um projeto nacional chamado “Conexão de Saberes”, que está relacionado a jovens universitários carentes. Isso é um projeto de Extensão. Através dele, queremos manter o vínculo com sua comunidade de origem e aproximar a universidade dessa comunidade.
Os editais do governo também têm sido importantes no estímulo à criação de programas integrados. Os Ministérios da Justiça, da Educação, da Cultura, do Desenvolvimento Social, do Trabalho, das Cidades, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, a Secretaria Especial da Mulher, entre outras, já publicaram editais com esse potencial. O Ministério de Ciência e Tecnologia acabou de publicar um edital junto com o CNPq e as fundações de apoio à pesquisa, que estão entendendo que a Extensão é uma atividade universitária que pode vir junto com a pesquisa.
O desafio da Extensão hoje é a indução para a criação de programas integrados e interdisciplinares. O outro lado é o desejo da universidade em realizar projetos a partir de suas atividades de Ensino e Pesquisa. Como promover o casamento do interesse e a autonomia da universidade com as demandas dos editais? Aqui na UFRJ esse casamento tem sido bem-sucedido.”
Ismar de Souza
Professor do Instituto de Geociências
“A integração com as comunidades do entorno é uma maneira adequada de romper os muros institucionais e demonstrar o quão importante é o conhecimento científico que geramos para uma vida melhor”
“Creio que por vezes a Cidade Universitária é, na verdade, a ‘Ilha da Fantasia’, imersa em uma realidade fantasiosa, cujos habitantes são incapazes de perceber o que realmente se passa além dos limites de seu território. Assim, a integração com as comunidades do entorno é uma maneira adequada de romper os muros institucionais e demonstrar o quão importante é o conhecimento científico que geramos para uma vida melhor.
O Museu da Geodiversidade tem recebido alunos e professores de escolas públicas e privadas situadas no entorno da Cidade Universitária para o desenvolvimento de atividades relacionadas à educação não-formal em geociências, tais como apresentação de vídeos, oficinas e cursos de curta duração. Também têm sido realizadas visitas guiadas com o apoio dos estudantes de graduação da UFRJ. Em todas as atividades já realizadas, a participação do público é enorme, já que os temas que versam sobre a história geológica de nosso planeta, bem como o entendimento de fenômenos naturais, como terremotos e vulcões, têm grande apelo popular.
As atividades mais recentes relacionam-se à exposição ‘Caminhos do Passado, Mudanças no Futuro’, realizada em conjunto com a Casa da Ciência e o Museu da Maré. Parte do acervo do Museu da Geodiversidade foi cedida ao Museu da Maré para a elaboração de uma exposição temática que aborda a história geológica do Brasil e a importância de nossos recursos minerais para o desenvolvimento econômico e social.
Os trabalhos apresentados no Congresso de Extensão – evento ocorrido na primeira semana de outubro, no qual foram apresentados trabalhos de alunos do Ensino Médio de escolas públicas próximas ao campus da Cidade Universitária – refletem os projetos em desenvolvimento no Museu da Geodiversidade: arte, ciência, tecnologia, integração com comunidades e difusão da informação são temas desenvolvidos por alunos do Instituto de Geociências e de outras unidades da UFRJ, sob a orientação de nossos pesquisadores e professores. Nossas outras ações têm sido a utilização do espaço no entorno do museu para exposições e a atuação na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.
Encontra-se também em avaliação uma parceria com o Museu da Vida (Fiocruz) para uma exposição versando sobre os fósseis brasileiros. A parceria tem como objetivo a mais ampla difusão da informação geocientífica produzida na UFRJ. Geralmente nossas pesquisas têm grande relevância econômica e social, porém são incompreensíveis para a sociedade. Isto é comum em nossa instituição.
Para o ano de 2010 planejamos uma grande reforma física na área do Museu, com o apoio de instituições governamentais e agências de fomento, o que possibilitará a ampliação de nossas ações educacionais. Uma nova exposição e a integração com os demais espaços expositivos e museus da UFRJ também estão entre nossas metas.”