Teatro no Museu. A iniciativa parecer ser inusitada, mas vem dando certo desde 2008. O projeto de Extensão “Temporada de Teatro no Museu” é fruto de uma parceria entre o Museu Nacional (MN) e o curso de Direção Teatral da Escola Comunicação da UFRJ. Nele, os alunos-diretores apresentam peças montadas como trabalhos de conclusão de curso, no auditório Roquete Pinto, do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista.
Os espetáculos acontecem, gratuitamente, sempre nos finais de semana em duas épocas do ano. A temporada desse ano acaba no próximo final de semana com as peças “A Solução Brasileira” e “A Oração” (7/3), sob a direção de Joana Mendes e Amazona Angélica, respectivamente, e “O Arquiteto e o Imperador da Assíria” (8/3), sob a direção de Ticiano Diógenes.
Mais do que ser apenas exibições de peças teatrais no MN, o projeto tem a intenção de formar um público cativo que aprecie os espetáculos e ser difusor de conhecimento. Para a coordenadora de extensão do MN, Rhoneds Aldora, e para a coordenadora do curso de Direção Teatral, Carmem Gadelha, inserir os espetáculos no cotidiano daquela localidade é um dos objetivos do projeto. Na Praia Vermelha, com a Mostra de Teatro da UFRJ, as apresentações reúnem um grande quantitativo de público, que foi formado ao longo dos anos, havendo a inclusão daqueles espetáculos naquela região.
A preocupação em tornar as apresentações teatrais no Museu parte do cotidiano do público da Quinta da Boa Vista ocorre em função de a região ser também muito carente de teatros. Além disso, segundo Rhoneds, o teatro é uma linguagem que alcança com mais facilidade um número grande de pessoas e, por isso, torna-se um importante instrumento na formação cidadã, na transmissão de saber e de divulgação da ciência. “Por usar a emoção, o teatro consegue atingir mais facilmente as pessoas e ser um agente de transformação”, enfatiza.
Vocação para a extensão
A Quinta da Boa Vista é uma opção de lazer para os moradores da Zona Norte. Com o desenvolvimento do projeto de Extensão, que traz para dentro do Museu uma mostra teatral, mais possibilidades de lazer, entretenimento e cultura são levadas para o público dessa região.
De acordo com a coordenadora de Extensão, o MN tem um potencial muito forte para o desenvolvimento da Extensão na universidade. Através de iniciativa como essa, a UFRJ ratifica seu compromisso com a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão. Com esse tripé de sustentação, a universidade estreita seus laços com a sociedade, ampliando a troca de saberes com ela. “Sempre percebi o Museu Nacional como um forte instrumento de Extensão da Universidade. Essa foi a percepção que sempre tive dessa casa. O Museu por si só é uma entidade emblemática e representativa. É o primeiro museu do Brasil – tem 190 anos de história -, por isso tem um papel para a nação brasileira. Ele é uma referência”, ressalta Rhoneds.
Produção acadêmica
A parceria entre o Museu e a Direção teatral é também uma oportunidade de oferecer aos alunos do curso a possibilidade de mostrar o que estão produzindo, bem como de lançar um novo olhar sobre sua peça e amadurecer o trabalho, uma vez que ele já passou pela avaliação de final de curso.
Outro aspecto relevante na montagem da obra é o fato de o Museu oferecer um espaço multiuso e não o espaço engessado de um teatro. Isso permite ao aluno-diretor a adaptação da peça ao local.
Segundo Carmem, o trabalho acadêmico realizado pelos alunos-diretores é muito vivificante porque é a montagem prática do espetáculo e é onde eles têm a possibilidade de testar sua capacidade de criação de maneira concreta. “Ao mesmo tempo em que eles têm um trabalho acadêmico no qual, obviamente, é dada liberdade para que possam expandir seus horizontes de criação, de especulação e experimentação de linguagem de maneira protegida do mercado, afinal somos uma universidade, os docentes têm que transmitir o saber acumulado”, destaca a coordenadora do curso de Direção Teatral.