Pretendendo mudar a linha de discurso único das áreas das Ciências Sociais, o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da UFRJ acaba de lançar a revista Versus. O cenário de lançamento foi de grande tensão, por conta da recente crise mundial, e o objetivo é justamente instigar o debate para entender o Brasil e a realidade internacional a partir de múltiplos pontos de vista.
Os criadores da revista discorrem que é preciso pensar nas alternativas, não importa o quão difícil seja a situação. Alcino Câmara, decano do CCJE e editor da Versus, afirma que, ao se curvarem às teses do neoliberalismo, áreas das Ciências Sociais passaram a viver sob a alegação da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher: “Não fizemos diferente porque não há alternativas.” Segundo ele, a motivação principal para a criação da revista foi garantir que há alternativas sim, se houver o debate consciente.
Quanto ao plano editorial da revista, ele tem formato inédito, combinando o conteúdo mais amplo de uma publicação de temas diversificados com o de uma revista acadêmica. “A Versus mostra a capacidade de a UFRJ vencer o desafio de criar uma publicação com assuntos de grande densidade apresentados de forma agradável graficamente e com edição dinâmica. Na verdade, são duas revistas em uma”, garante o editor.
Há, também, a versão online da Versus, que deseja alcançar maior número de leitores que a revista impressa, que tem a tiragem de dois mil exemplares por edição neste primeiro momento. O público-alvo principal do portal são os estudantes. “Serão publicados artigos de professores, num ambiente de interdisciplinaridade, composto por entrevistas, reportagens e resenhas que buscam audiência e participação externa.”
Inspiração
O nome “Versus”, que batiza a revista, foi inspirado no título de um dos mais reconhecidos jornais alternativos do Brasil, da década de 70. Assim como a atual revista, o jornal procurava trazer à tona debates capazes de refletir sobre a política vigente.
Luiz Carlos Maranhão, editor executivo da versão atual da revista, afirma: “A Versus criada nos anos 1970 foi um projeto de vanguarda, na forma e no conteúdo. Aproximou os temas da América Latina, seus dramas, sua cultura. Foi uma experiência que se deu num contexto de ditadura militar, enfrentando perseguições políticas, prisões e torturas. A nossa versão se orgulha de ter herdado o título e esse compromisso com a reflexão e o jornalismo independente. Mas a conjuntura é outra, ganhou complexidade. O mundo é diferente.”
A América Latina
Os leitores da revista percebem que há forte preocupação na discussão de temas relacionados ao contexto latino-americano. A principal questão, nesse aspecto, é encarar o subdesenvolvimento político dos países latinos. É essencial que se pense em como romper com as barreiras dessa dependência. Alcino Câmara explica que países como a China estavam em situação de inferioridade por uma série de razões, mas nunca foram concebidos para servir aos outros, o que acontece com o Brasil. É preciso pensar por que isso acontece e como solucionar.
Já Maranhão garante que “de fato a América Latina é preocupação preferencial na pauta de Versus. Por sua importância geopolítica e pelo seu histórico de inserção subordinada na economia global, com consequências históricas de opressão, especialmente para grandes massas desprotegidas, à margem dos ganhos econômicos”.
Motivação Intelectual
Os editores revelam esperar que as pessoas se interessem, intelectualmente, por aquilo que forem ler. Além disso, que a revista sirva de motivação para pesquisas e estudos nas áreas sociais, a partir do maior conhecimento sobre o que acontece no Brasil, no continente e no mundo.
Há, inclusive, a parte mais intra-acadêmica, a Versus Acadêmica, uma espécie de revista indexada dentro da própria revista. Essa tem um caráter maior de difusão e pretende atingir a todos, com a contribuição externa sendo de grande importância para a formulação de temas bem-vindos.
– Agora, esperamos que sejam provocados mais debates e movimentos intelectuais, como acontecia no passado – reflete Alcino.
Nesta primeira etapa do projeto, a distribuição é feita de forma dirigida, por meio de mala-direta, numa rede onde estão incluídas todas as universidades públicas do país. Mas a revista chega ao parlamento em todos os níveis, ao Executivo; e é enviada para instituições, organizações não governamentais, a mídia especializada e formadores de opinião. “A receptividade do projeto nos anima a pensar em voos mais ambiciosos.” Os interessados em obter a publicação podem fazer a solicitação acessando o site www.versus.ufrj.br.