Daniela Lazzaro,
Pesquisadora e professora de pós-graduação em Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional.

Têm certas coisas que fazem sentido nessa frase do Stephen Hawking, mas outras não. Quanto à questão de Colombo na América, isso foi ruim para os nativos, mas para a humanidade, de um modo geral, foi fundamental. Senão, nós não estaríamos aqui. Tudo, como uma moeda, tem duas faces. A procura de vida além da Terra é um processo de conhecimento ainda, por isso não concordo ou discordo com o que ele disse.

No que concerne à busca em si, há duas vertentes. A procura de vida no sistema solar é restrita a missões espaciais. Já a busca em planetas além do sistema solar se dá pela espectroscopia, que visa a identificar componentes químicos desses planetas recém-descobertos e tentar achar entre esses componentes aqueles liberados exclusivamente por reações biológicas. Ambos os métodos não conseguiram produzir qualquer conclusão.

“Tudo, como uma moeda, tem duas faces. A procura de vida além da Terra é um processo de conhecimento ainda”.

 Para Marte, por exemplo, nós já temos muitas missões. A procura nesse âmbito é por água líquida. Sabemos que em Marte já houve água no passado e que há água no subsolo, mas não há qualquer sinal de vida. Penso que seria possível achar algum fóssil, evidências da existência de micróbios, talvez, mas tudo isso ainda é uma grande especulação. O satélite de Saturno, Titã, também é outro alvo. O problema lá é a grande quantidade de metano e o fato de estar muito distante do Sol.

Se já é difícil acharmos algo dentro do próprio Sistema Solar, imagine em planetas que estão fora dele. Existem programas que buscam sinais de vida advindos desses planetas, mas a grande dificuldade está em observá-los. Eu acredito que não vai ser nos próximos 50 anos que veremos algo nessa área de busca de vida extraterrestre nesses planetas.

A questão de levar o homem a Marte, o que seria um avanço na busca por sinais de vida também, esbarra na questão biológica humana e não na questão tecnológica de levar uma sonda a esse planeta. Nesse aspecto, vale mais a pena enviar os robôs, que não correm o risco de ter seus ossos e músculos atrofiados e nem precisam beber água, duas das dificuldades enfrentadas para enviar um ser humano. A questão da água, inclusive, só pode ser resolvida se uma grande quantidade for transportada na nave espacial, deixando-a muito pesada, ou o homem terá de achar água lá para viver, o que é arriscado.

Gustavo Frederico Porto Mello

Pesquisador e professor de Astronomia do Observatório do Valongo da UFRJ.

A respeito de evitar o contato, não há muita coisa que se possa fazer, pois nós estamos anunciando nossa presença de maneira passiva desde os anos 30, quando a emissão de rádio ficou intensa o suficiente para viajar pelo espaço. Qualquer um que esteja próximo e tenha uma antena poderosa pode nos ouvir. Acredito que o que Stephen Hawking coloca é que é bom ter um pouco de cautela em relação à busca ativa por vida fora da Terra, cuidados dos quais eu compartilho pessoalmente.
 
O tipo de opinião que vê com perigo o contato com civilizações extraterrestres não é novo, ele tem de 30 a 40 anos de idade. Quando houve o amadurecimento do pensamento sobre vida extraterrestre, em meados do século XX, uma das primeiras e talvez majoritária opinião era a de que os seres extraterrestres inteligentes poderiam ser hostis. Quando esse pensamento começou a se tornar mais ou menos científico, em torno dos anos 1960 e 1970, começou a surgir uma escola que muitos consideram “otimista”. Ela não apenas achava que haveria muitas possibilidades de outras civilizações no universo, como também que muito provavelmente elas seriam benignas.

“É claro que é uma especulação quase que filosófica, porque nós conhecemos apenas uma civilização”.

A respeito de evitar o contato, não há muita coisa que se possa fazer, pois nós estamos anunciando nossa presença de maneira passiva desde os anos 30, quando a emissão de rádio ficou intensa o suficiente para viajar pelo espaço. Qualquer um que esteja próximo e tenha uma antena poderosa pode nos ouvir. Acredito que o que Stephen Hawking coloca é que é bom ter um pouco de cautela em relação à busca ativa por vida fora da Terra, cuidados dos quais eu compartilho pessoalmente.
 
O tipo de opinião que vê com perigo o contato com civilizações extraterrestres não é novo, ele tem de 30 a 40 anos de idade. Quando houve o amadurecimento do pensamento sobre vida extraterrestre, em meados do século XX, uma das primeiras e talvez majoritária opinião era a de que os seres extraterrestres inteligentes poderiam ser hostis. Quando esse pensamento começou a se tornar mais ou menos científico, em torno dos anos 1960 e 1970, começou a surgir uma escola que muitos consideram “otimista”. Ela não apenas achava que haveria muitas possibilidades de outras civilizações no universo, como também que muito provavelmente elas seriam benignas.


Mas enquanto essas ideias se tornavam populares, havia outros físicos e pesquisadores que colocavam a ideia oposta. É claro que é uma especulação quase que filosófica, porque nós conhecemos apenas uma civilização. Alguns autores acham que tomando o exemplo humano quando se pensa no contato entre duas civilizações com uma disparidade muito grande de sofisticação existem muitos riscos. Os riscos não são apenas de agressividade, de ataque, de conquista, de invasão, mas também de choque cultural, através do qual a cultura mais sofisticada, entra em contato com uma cultura mais simples, e o mero conhecimento da existência da outra cultura, do ponto de vista psicológico, pode ser um golpe tão forte que torna impossível a existência da cultura mais básica.

Acho que, quando consideramos ser detectados por uma civilização, nos baseamos na hipótese de que no Sistema Solar, onde já visitamos todos os planetas — com exceção de Plutão —, não vemos evidências de outras civilizações. Portanto, as buscas que fazemos no nosso sistema não devem ter consequência para revelar nossa presença. As civilizações que imaginamos capazes de nos detectar devem existir em outras estrelas e a maneira mais fácil das nossas informações chegarem até elas é por ondas de rádio.