Edição 175 11 de setempro de 2007
Neste mês, o projeto Ciência às Seis e Meia, organizado pela Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contou com a presença de Domício Proença Júnior, um dos pesquisadores do Grupo de Estudos Avançados da UFRJ, para discutir o tema “Outro setembro diante da guerra”. O estudioso fez um breve histórico do ataque às torres gêmeas do World Trade Center nos Estados Unidos, no ano de 2001, e comentou a política anti-terrorista instaurada no país desde então; a forma como isso afeta a vida cotidiana da população local e, principalmente, da população de imigrantes no território norte-americano.
De que forma a política anti-terrorista instaurada no país desde o atentado de 11 de Setembro afeta a vida cotidiana da população local e, principalmente, de pessoas que tentam ingressar no país, ainda que legalmente?
Métodos contra o terrorismo criam situações desconfortáveis e facilmente preconceituosas. Para entrar nos Estados Unidos é necessário preencher um formulário com as perguntas “Qual é a sua religião?” e outra, que adoro, “Qual sua cor preferida?” Por isso, aconselho os leitores: se vocês gostarem de verde, podem se tornar suspeitos de terrorismo.
Como você vê a participação do corpo social contra a violência organizada?
No ataque de 11 de Setembro, pode-se citar o último avião, em que os passageiros se uniram contra os transgressores, impedindo que o vôo atingisse seu destino contra a Casa Branca. O problema é, em geral, logo depois predominar um remorso, um medo de se assemelhar ao terrorista. Uma idéia ilustrada pelo filósofo Nietzsche, ao dizer que quem muito luta contra monstros, acaba se tornando um. Por esse e outros motivos, fica o conflito em cada indivíduo sobre a manera como reagir contra o terror.
Nesta mesma luta, deve-se pensar os governantes e as saídas estabelecidas para evitar ataques violentos. Uma sugestão é controlar as informações circulantes pelo fluxo virtual online?
Felizmente, isso é bastante criticado. O terrorismo, jamais deve servir de desculpa para controlar o conteúdo na internet.
A decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de comprar 20 aviões de guerra representa uma ameaça para os países da América do Sul?
Não é uma corrida armamentista, como alguns mais histéricos definem, porém, não deixa de ser um perigo possível. O Brasil deveria se preparar para isso, entretanto, ter os aviões esbarra em complicações tais como seu alto custo de manutenção.
Como você analisa os entraves nos sistemas de defesa brasileiros e a não-exploração do potencial brasileiro? Entre eles, os problemas na Marinha em vigiar as fronteiras marítimas, expondo o país à pirataria.
Além de prejuízos em mercadorias, acontecimentos assim inibem investimentos no Brasil. Outro problema envolve a Força Aérea, com situação de falência decretada no ano de 2000. Este fato se reflete, ainda hoje, em carências estruturais capazes de pôr em risco a vida de muitos cidadãos. A delicadeza deste quadro deve receber a devida atenção. Um país cuja população não confia nas suas Forças Armadas, logo estaria imerso em uma Guerra Civil. A primeira medida do povo seria definir o desarmamento do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O passo seguinte seria recriar estes sistemas de defesa. Um impasse de difícil solução.