Edição 178 02 de outubro de 2007
Nas últimas semanas, a grande mídia divulgou casos de assaltos ocorridos nos ônibus circulantes na Cidade Universitária. As notícias, referentes, principalmente, às ocorrências nos veículos da linha 696A (Fundão – Del Castilho), contribuíram para disseminar a sensação de insegurança entre membros da comunidade acadêmica e colocaram em evidência a questão da segurança no campus. Na sexta-feira (28), a Prefeitura Universitária se reuniu com representantes das empresas de ônibus e com a Polícia Militar para discutir meios de coibir a ação de assaltantes nos coletivos.
Apesar do alarde midiático, as estatísticas mostram que o Fundão está mais seguro. Os dados da Divisão de Segurança da UFRJ (Diseg) apontam uma diminuição no número de furtos no campus. Em agosto de 2003, foram roubados dez automóveis. No mesmo mês de 2006, não foram registrados ilícitos desse tipo. Houve avanços também entre o período de 2006 e 2007. De janeiro a agosto do ano passado, a Diseg notificou 120 casos de furtos, 93 deles relacionados a veículos. Em 2007, os índices marcam 80 ocorrências, sendo que 57 são furtos de veículos ou em veículos.
Outra irregularidade fortemente combatida nos últimos anos foi o despejo de cadáveres. Durante muito tempo, a Ilha da Cidade Universitária foi utilizada por criminosos como local de desova de corpos. Com o fechamento dos portões de acesso à universidade na parte da noite (das 23h30 às 5h30), as estatísticas caíram de treze casos em 2003 para três em 2006.
Os assaltos a ônibus, de fato, aumentaram. Mas, segundo Leandro Buarque, diretor da Diseg, eles estariam associados às maiores condições da segurança no Fundão: “Com o aumento do patrulhamento dos pontos de ônibus e da ronda na Cidade Universitária, ficou mais difícil realizar ilícitos dentro do campus. Tanto que os índices de assaltos nos ônibus internos são muito baixos. É mais fácil o assaltante entrar nos ônibus que circulam para fora da UFRJ. A maioria dos crimes acontece fora dos limites do Fundão, mas como os passageiros são, em sua maioria, alunos, acabam associando a violência à questão da segurança do campus”, explica.
Melhorias nos equipamentos e na auto-estima
Para Leandro Buarque, as melhorias na segurança refletem os investimentos feitos nessa área. Ele conta que, desde a posse do prefeito Hélio de Mattos, em julho de 2004, a Diseg passou por reformulações que conferiram melhores condições de trabalho aos vigilantes, aumentando a auto-estima do grupo.
Dentre as modificações, constam a reforma no prédio da Divisão de Segurança e a aquisição de novas viaturas para o patrulhamento. Em 1999, a UFRJ ficou 93 dias sem carro para a ronda. Atualmente, são oito veículos com equipes de 12 profissionais para cobrir a extensão da Cidade Universitária. Além disso, depois de 15 anos sem reciclagem, os vigilantes realizaram cursos de capacitação e avaliação psicológica promovidos pela Pró-reitoria de Pessoal (PR-4).
A implantação do sistema de comunicação via rádio e de 16 câmeras localizadas em pontos estratégicos do campus foi outro avanço conquistado nos últimos anos. “As câmeras são monitoradas por grupos de quatro funcionários que se alternam. O monitoramento é feito 24 horas por dia. Ao se deparar com qualquer irregularidade no Fundão, o monitor avisa, via rádio, a patrulha da Diseg, imediatamente se desloca para o local”, elucida Leandro Buarque. O diretor elege ainda a obtenção do porte de arma para os vigilantes como um importante passo na construção da sensação de segurança da comunidade universitária.
O que falta fazer
Embora o sistema de segurança tenha evoluído sensivelmente, ainda há casos de violência no campus. A construção de estacionamentos nos espaços ociosos da Ilha da Cidade Universitária e a adoção de mecanismos de controle de entrada e saída dos prédios da universidade, através da instalação de catracas eletrônicas e do uso de crachás de identificação, são algumas medidas que, na opinião de Leandro Buarque, melhorariam a segurança no Fundão. O funcionário destaca que a presença de guaritas policiais nos acessos à UFRJ também asseguraria maior tranqüilidade à comunidade acadêmica.
As pesquisadoras Denise Pinheiro Machado e Lúcia Costa, do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (Prourb), acreditam que a ocorrência de violência no Fundão se deve ao seu isolamento em relação à cidade. Para as professoras, a ocupação do local é uma das possíveis soluções para o problema. “O Fundão em si não provoca violência. Ela ocorre, principalmente, por ele estar vazio. Todo lugar vazio é mais suscetível à criminalidade. Por ser grande e não ter conexões eficientes com o transporte público, o campus é sempre rarefeito em termos de ocupação. Então quanto mais ele for ocupado e vivenciado, mais os índices de violência vão diminuir”, enfatizou Lúcia Costa.