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Edição 236      22 de janeiro de 2009


Ponto de Vista

Verão ou inverno?

Lorena Ferraz

imagem ponto de vista

Temperaturas variando entre os 20 e 25 graus, céu nublado e chuvas constantes; nas ruas, as pessoas vestem casaco, calça comprida e têm sempre um guarda-chuva à mão. Esse cenário não causaria nenhum tipo de estranheza se não fosse uma descrição do verão de uma das cidades mais quentes do país, o Rio de Janeiro.

Embora o verão de 2009 não tenha começado com dias de sol e altas temperaturas não há motivos para preocupação; é o que esclarece Isimar dos Santos, professor do Departamento de Meteorologia da UFRJ, “Daqui a uma semana ou quinze dias quando a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) não estiver mais sobre a região Sudeste voltaremos a ter dias quentes com o Sol a todo o vapor”.

Essas mudanças climáticas inesperadas geram muitas dúvidas, como sua possível ligação com um fenômeno que está muito em voga no momento, o aquecimento global. Em entrevista ao Olhar Virtual, Isimar dos Santos, professor do Departamento de Meteorologia e do Laboratório de Prognóstico de Mesoescala (LPM) da UFRJ, explicou o porquê desse verão com cara de inverno.

Olhar Virtual: Tempo quente e abafado durante o dia seguido de pancadas de chuva no fim da tarde são características marcantes do verão fluminense. O verão de 2009 será uma exceção a essa regra?

Este verão está sendo um pouco diferente dos outros verões porque a Zona de Convergência do Atlântico Sul, fenômeno típico do verão no Sudeste do país, está atuando por um período maior do que o esperado. A ZCAS deixa o clima mais ameno por duas razões: a nebulosidade impede a chegada dos raios solares à superfície e a formação dessa zona de convergência, que é uma frente fria semi-estacionária, isso é, ar frio trazido do pólo Sul pelos ventos.

Ao contrário do que as pessoas possam imaginar as chuvas e as temperaturas baixas não são fenômenos excepcionais na região em questão, já que a Zona de Convergência do Atlântico Sul caracteriza essa estação do ano no Sudeste. Entre os anos de 2001 e 2002, tivemos sérios problemas envolvendo desmoronamentos na estrada Rio-Santos, como a dificuldade de acesso à região de Angra dos Reis onde está localizada a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto – formada pelo conjunto das usinas nucleares de Angra I, II e III. Essa situação foi provocada pelas intensas chuvas decorrentes da ZCAS durante o verão daqueles anos.

Olhar Virtual: O que podemos esperar com relação às chuvas para esse verão?

Com exceção de alguns fatos isolados como os que aconteceram em Belo Horizonte, no início do ano, e em Santa Catarina, no fim da primavera, não temos observado chuvas muito intensas com nuvens carregadas e relâmpagos, mas sim chuvas continuadas. Isso acontece porque a queda das temperaturas impede a formação das nuvens mais vigorosas chamadas de cumulus nimbus uma vez que essas nuvens dependem do calor e da evaporação das águas dos oceanos, das superfícies líquidas e da vegetação para se formarem. Embora não estejam previstas muitas tempestades para esse ano os índices pluviométricos estão dentro da normalidade.

Chuvas fracas e contínuas causam muitos danos porque deixam o solo úmido e as encostas mais pesadas contribuindo para o aumento do número de deslizamentos de terra.

Olhar Virtual: Sabemos que o aquecimento global está provocando diversas alterações no clima mundial, como a onda de calor que atingiu a Europa em 2003 e o degelo das calotas polares. Essa alteração no regime de chuvas pode ser consequência do aquecimento global?

Assim como a maioria dos cientistas que estudam o clima, evito associar este ou aquele fenômeno ao aquecimento global porque nosso conhecimento tecnológico ainda não nos permite fazer esse tipo de ligação de forma objetiva. No entanto, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) já divulgou alguns dos efeitos desse fenômeno como o aumento das tempestades, a maior freqüência de ondas de calor e frio, as secas prolongadas, as enchentes, o aumento no nível do mar. Uma conseqüência da elevação da temperatura do planeta pouco conhecida pelo grande público é a intensificação das correntes de jato, isto é, ventos que ocorrem em torno de 10 ou 12 km de altura e que aceleram a rotação da Terra de 1 a 2 segundos por ano.

Olhar Virtual: Em 2009, estaremos mais sujeitos aos desastres provocados pelo aumento dos índices pluviométricos, como as enchentes e os deslizamentos?

Fora alguns eventos, como as enchentes que aconteceram em Santa Catarina e as que estão acontecendo no Espírito Santo, acredito que não teremos muitos problemas com as chuvas nos próximos meses. O que pode acontecer é alguma alteração climática que cause a redução da oferta de alimentos, no entanto, a perspectiva é favorável para 2009 porque o oceano Pacífico está sob a ação de La Niña – as águas desse oceano estão um pouco mais frias do que o normal. Essa situação é muito boa para o Brasil, pois ela permite que chova mais no Nordeste e menos no Sul do país, onde a maior parte das plantações já utiliza o sistema de irrigação.

Olhar Virtual: Qual é o tipo de tecnologia de que a meteorologia brasileira dispõe para prever as alterações climáticas?

Trabalhamos com modelos numéricos, modelos de computador e estamos mais ou menos em compasso com o primeiro mundo no que se refere à previsão dos cenários climáticos para o futuro. No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) temos um supercomputador que faz esse tipo de estudo, além disso, temos computadores menores em universidades, como a UFRJ e em centros de pesquisa.

O que fazemos é colocar os modelos numéricos nos computadores para que eles projetem o clima dos próximos meses e das próximas décadas baseados no que está acontecendo na atmosfera e no que aconteceu no passado.

Olhar Virtual: Em entrevista concedida ao Olhar Virtual;, em 2004, o senhor disse que o Departamento de Meteorologia da UFRJ ainda não fazia medições climáticas, mas que estava preparado para atender a população com três serviços importantes: a previsão do tempo, com até 7 dias de antecedência, a previsão de ressacas e ondas em nosso litoral e o índice de radiação ultra-violeta. Como o senhor avalia a situação do instituto, agora, em 2009? Quais são os planos futuros desse Centro de Pesquisas?

Continuamos com essas três linhas de ação que são importantíssimas, no que diz respeito à previsão do tempo, estamos antecipando-a para 10 dias e há possibilidade de anteciparmos para até 15 dias, além disso, temos o site http://www.lpm.meteoro.ufrj.br/ onde informamos a previsão do tempo para todo o estado do Rio.

Através do estudo das formas de precipitação nas regiões Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Sul e da associação com as áreas de Engenharia estamos prestando auxílio a algumas usinas hidrelétricas do país.

Para nós do Departamento de Meteorologia da UFRJ tem sido muito difícil fazer pesquisa climática porque ela exige uma capacidade computacional de que ainda não dispomos, por isso estamos nos aproximando de centros de pesquisas mais avançados como o INPE e o Laboratório Nacional de Computação Científica, localizado em Petrópolis. Há dois motivos, dar nossa pequena contribuição para o avanço desse tema no Brasil e trazer esse conhecimento para os nossos alunos de graduação e pós-graduação em Meteorologia para que assim possamos cumprir com a nossa responsabilidade que é a de formar as gerações futuras com o que há de melhor.

 

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