Edição 271 14 de outubro de 2009
No último dia 2, o Rio de Janeiro, após duas tentativas frustradas, foi escolhido como cidade-sede dos Jogos Olímpicos. No entanto, uma reportagem publicada na imprensa estadunidense, às vésperas da eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI), chegou a abalar a confiança da delegação brasileira. Trata-se de “Gangland – Who Controls the Streets of Rio de Janeiro?” (Terra de Gangues – Quem Controla as Ruas do Rio de Janeiro, em português), assinada pelo jornalista John Anderson Lee, na revista New Yorker.
O texto de 12 páginas expõe a situação da cidade, partindo do princípio do poder que o tráfico de drogas exerce sobre seus habitantes. A matéria ainda contém fotos que exibem suspeitos deitados no chão com armas da polícia apontadas para os rostos, bem como de enterros de policiais e traficantes.
O episódio trouxe novamente à tona a pergunta: como é a imagem da cidade na imprensa internacional? Para o professor da Escola de Comunicação da UFRJ e coordenador do Laboratório de Pesquisa Mídia e Medo do Crime, Paulo Vaz, “este tipo de informação já está presente há bastante tempo nos meios de comunicação do Brasil e do mundo”. Vaz cita filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite como exemplos emblemáticos. “Através deles”, argumenta, “os estrangeiros passam a ter uma noção clara sobre a violência do Rio de Janeiro.” Entretanto, não necessariamente possuem uma visão tão negativa da pobreza, como uma classe de perigo iminente. “Talvez eles apresentem um olhar mais generoso a respeito do problema”, opina.
“Lá fora, o Brasil não é visto apenas como um lugar de crimes; também é tipicamente narrado como um país de grandes desigualdades sociais. Aqui, no entanto, a disparidade surge nas páginas dos jornais apenas como uma representação de que ‘existem criminosos naqueles locais’”, acrescenta.
Jogos Olímpicos e a segurança pública
Para a realização dos jogos em 2016 será necessária a realização de diversas reformas e, incontestavelmente, a segurança é um dos fatores que chama mais a atenção. Vaz relata que um dos pontos mais importantes da candidatura do Rio de Janeiro está no fato do quanto será possível reduzir a imagem de violência que a cidade tem atualmente.
Questionado se publicações como a New Yorker, que exibem a realidade violenta da região, podem afetar o número de visitantes à cidade, Paulo Vaz afirma que “com certeza artigos deste gênero podem reduzir o turismo, e isso já ocorreu. Desde que o Rio de Janeiro passou a apresentar taxas de violência mais altas – a partir de meados da década 90 – e a imprensa passou a notificar, a metrópole perdeu seu lugar privilegiado e passou a disputar um espaço com outros locais, como Salvador e outros destinos do Nordeste. É claro que a cidade perde visitante devido a isso, seja nacional ou internacional”, comenta.
O professor também esclarece o porquê do fenômeno. “A única imagem que estas pessoas possuem da cidade é aquela fornecida pela mídia. O que está nos meios de comunicação tende a ser mais assustador do que o cotidiano da população que a habita. Neles, encontra-se apenas o excepcional. O cotidiano, o ordinário, onde nada acontece, não vira notícia”, conclui.