Edição 355 13 de setembro de 2011
Em declaração feita durante evento da área de mídia e tecnologia em São Paulo, Suzana Singer, a ombudsman do jornal Folha de S. Paulo, afirmou que jornalistas não devem possuir contas abertas no site Twitter. Segundo ela, o profissional não pode ter Twitter pessoal “principalmente porque ele pode tuitar algo ofensivo e não sabe onde estará ou quem entrevistará amanhã”. Palestrante do painel “Crises no mundo virtual. É possível sair ileso”, em 2 de setembro, no “Info@Trends”, Suzana ressaltou que é difícil separar a vida pessoal da profissional no jornalismo: “Não tem como ter dupla personalidade, separar a vida pessoal da profissional, assim como não dá para ter duas contas no Twitter”.
O Twitter é hoje visto como a menina dos olhos dos investidores em mídias digitais, pois é uma das redes sociais que mais crescem no mundo. Com esse sucesso, certos veículos e conglomerados de comunicação criaram regras para a utilização do aplicativo por seus funcionários. O jornal carioca O Globo, por exemplo, tem seus colunistas Ancelmo Gois e Miriam Leitão no site, com perfis vinculados ao periódico onde trabalham e divulgador de suas opiniões e notícias.
Já Artur Xexéo, ex-editor do suplemente “Segundo Caderno” e colunista das quartas-feiras e domingos em O Globo, possui uma conta pessoal e independente. Também, como não se esquecer do apresentador e editor do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, o famoso “tio” da internet? Possuindo mais de dois milhões de seguidores, Bonner se deu conta de que seu Twitter seria uma grande publicidade para aumentar a audiência juvenil do telejornal.
Porém, Cristina Rego Monteiro, pesquisadora e professora de Jornalismo em Mídias Digitais da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, não concorda com a opinião da ombudsman da Folha. “Penso que esta forma de posicionar-se reflete a realidade de uma profissão domesticada, engolida pela estrutura empresarial com finalidades comerciais que se sobrepõe à função simbólica da atividade”, afirma. Ela vê a declaração de Suzana Singer como uma tentativa de inibir a liberdade de expressão civil cidadã utilizando a força corporativa: “Parece haver mais uma preocupação (de fundo) em preservar o ‘valor –notícia’ dos veículos em relação ao ‘produto notícia’ ao qual seus profissionais contratados tem acesso”.
Vinícius Cunha, estudante do 5º período de Jornalismo da ECO/UFRJ e assessor da Escola Politécnica da UFRJ, pondera. Para ele, é correto o jornalista compartilhar notícias relevantes no Twitter, mas que não deveria expor sua vida pessoal, já que isso pode ferir sua imagem e a do veículo onde trabalha. “Se bem utilizado, o Twitter tem a função de complementar a notícia, mas cuidado para não dar o furo antes daquele que paga seu salário”, conclui.
O ombudsman é um profissional independente de um veículo de comunicação, contratado por um jornal para comentar e criticar as notícias veiculadas por ele e pela mídia em geral.