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Edição 154      12 de abril de 2007


No Foco

Programa de tratamento e recuperação ambiental dos Canais do Fundão e do Cunha

 

Kadu Cayres e Nathália Perdomo

foto no foco

Na última terça-feira, dia 10 de abril, foi apresentado para a comunidade acadêmica da UFRJ o programa de tratamento e recuperação ambiental dos canais do Fundão e do Cunha. Num stand localizado, temporariamente, na rua Lobo Carneiro (novo local ainda será definido) – próximo ao Centro de Ciências da Matemática e da Natureza (CCMN) – membros do Conselho Superior de Coordenação Executiva (CSCE) e do Conselho Universitário (Consuni) puderam conhecer o projeto desenvolvido por profissionais da COPPE e da Escola Politécnica da universidade, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Petrobras.

Antônio da Hora, subsecretário de Meio Ambiente, esteve na apresentação e explicou o projeto para os presentes. Segundo ele, a recuperação restabelecerá a circulação de uma área do canal que está degradada, possibilitando assim, o reequilíbrio do ecossistema aquático. Ele mostrou-se bastante otimista: “acredito muito na qualidade deste programa. Neste primeiro momento estamos iniciando a discussão com a sociedade acadêmica e expondo a vontade política de executar”.

O subsecretário destacou a questão da sustentabilidade. A seu ver, o projeto torna-se mais atraente por girar em torno da contenção do lixo flutuante, do tratamento dos cursos de água contaminada que chegam aos canais, da possiblidade de urbanização das margens do canal do Fundão, da recuperação dos manguezais, da renovação paisagística e da redução do impacto negativo, visual e olfativo para os moradores e visitantes do Rio de Janeiro.

Antônio da Hora também comentou que será montado, na região da Maré, um centro de reciclagem para a comunidade, que poderá trabalhar os materiais recolhidos, entre eles, as garrafas PETs.

Propostas semelhantes já foram apresentadas e recusadas devido a problemas relativos à inviabilidade de espaço para o depósito de resíduos, já que envolveria uma área muito grande da ilha; e a exposição de resíduos a céu aberto, com agentes de risco para a comunidade.

O processo

O processo consiste em: retirar a lama por duas dragas e colocá-la em barcos de calado-d’água baixo, pois, devido ao assoreamento do canal, só é possível a circulação de embarcações desta natureza. Em seguida, ela passa por uma malha fina, responsável por impedir a passagem de detritos de grande porte como, por exemplo, pneus. Saindo da malha, a lama é bombeada para dentro de tubos que vão contê-la e desidratá-la. Esse processo se repete até o ponto máximo de armazenamento dos tubos, que após chegar a seu limite, é enterrado e impermeabilizado.

Em resumo, todo o sistema de despoluição consiste na limpeza e remoção dos detritos e sedimentos, no processo de desassoreamento dos canais, na escavação, na separação do lixo grosso, no transporte hidráulico do material dragado, no restabelecimento da circulação da água, e no confinamento e desidratação do material recolhido em tubos geotêxteis.

Nathália de Castro, uma das representantes da Geotube — empresa privada responsável pela fabricação dos tubos — , fez questão de falar sobre a tecnologia que envolve o projeto. “O lodo que sai dos canais é floculado e logo em seguida segue para o geotube (malha filtrante de polipropileno, resistente a degradação química e biológica), que separa/filtra a parte sólida da líquida. O líquido filtrado sai com uma ótima qualidade, pois no processo não acontece quebra de flocos”, esclarece a representante, acrescentando que o Geotube é uma solução tecnológica que proporciona a segurança através da disposição adequada dos sedimentos contaminados, a redução drástica do impacto ambiental e favorece a visibilidade, por permitir total cobertura com tratamento paisagístico. O tempo previsto do início ao término da execução da obra é de 18 a 20 meses.

Posição da UFRJ em relação ao projeto

Segundo Carlos Antônio Levi, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, a postura da UFRJ obviamente não podia ser outra, senão favorável à concretização do projeto, mesmo sendo a universidade um espaço de reflexão crítica onde convivem várias visões. “O projeto atual tem toda a possibilidade de ser bem recebido. Tecnicamente, a solução está respaldada e tenho certeza que vamos conseguir aprová-la nos conselhos necessários”, esclarece Levi, acrescentando que numa primeira etapa, o projeto passará pela aprovação do CSCE (Conselho Superior de Coordenação Executiva) e, por fim, pelo Conselho Universitário (Consuni).

Antes de chegar ao processo de aprovação, Levi sugere — e já conversou com a Secretaria de Meio Ambiente a respeito disso — que seja apresentada uma descrição do projeto com os detalhes que foram incorporados, para facilitar a aprovação nos conselhos. “A partir dessa organização poderemos até identificar uma estratégia para que no Consuni, fórum decisivo, o projeto possa passar com mais convicção”.

O professor de geotecnia da Coppe/UFRJ, Márcio Almeida, falou sobre a preocupação com a saúde dos entornos e com a chegada dos jogos Pan-americanos. “Isso não pode continuar assim. Essa região é o cartão de visita da cidade”.

O professor acredita no sucesso da tecnologia, no entanto, ressalta os riscos. “Ao remover os sedimentos pode haver uma bio-disponibilização — liberação para a atmosfera — dos contaminantes que estão agregados a eles.

Maria Ângela Dias, representante do Escritório Técnico da Universidade (ETU/UFRJ), apresentará a nova proposta de recuperação dos canais ao CSCE. “Foi criado um protocolo de execuções, em que cada organização envolvida terá participação”, comentou. O projeto será assessorado por uma equipe multidisciplinar da universidade, entre engenheiros, bioquímicos, paisagistas e outros profissionais. Maria Ângela reforçou o que foi dito por Antonio da Hora, ao comentar que o grande diferencial do projeto é a sustentabilidade. “O projeto agora visa não somente à limpeza do canal, mas também sua manutenção”.

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