Edição 146 01 de fevereiro de 2007
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de produzir conhecimento, tem cumprido seu papel de disseminá-lo pela sociedade. Prova disto está no curso Teorias Sociais e Produção do Conhecimento, concretizado pela parceria entre a Pró-reitoria de Extensão (PR-5), a Decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), principal centro de formação de integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST). Trata-se de um curso de extensão, oferecido a militantes de quase todos os estados da federação - de diferentes movimentos sociais, rurais e urbanos, com predominância do MST -, cuja proposta é proporcionar uma visão mais ampla da realidade brasileira, a partir do estudo de tradições teóricas da modernidade e de uma leitura dos processos históricos da sociedade.
Com um grupo discente variado e tão rico em experiências, o curso gera um saldo positivo tanto para alunos e professores quanto para sociedade, por unir conhecimento teórico e sabedoria popular em um único e forte instrumento de ação em prol da transformação da realidade brasileira. “Ao trazer para a nossa instituição, em torno de 70 lideranças, criou-se um processo de trocas entre a cultura e o saber das classes populares e o conhecimento produzido na academia, cujas perspectivas são de um enriquecimento de ambos com grande visibilidade na sociedade brasileira”, atesta Selene Alves Maia, assessora de Projetos Especiais da PR-5 e coordenadora geral do curso.
Além de favorecer a sociedade e de proporcionar conhecimento acadêmico aos militantes, que têm dificuldade de acesso ao ensino superior, o curso ainda renova os ânimos da universidade, que ganha fôlego e redescobre seus valores. De acordo com Sara Granemann, professora da Escola de Serviço Social da UFRJ (ESS/UFRJ) e uma das coordenadoras acadêmicas, o contato com os militantes faz a universidade entender que precisa participar da construção de mudanças profundas na sociedade: “oferecemos o nosso trabalho e recebemos do movimento social, no mínimo, enormes injeções de otimismo e de vontade de transformar a sociedade. O movimento nos põe mais vivos para estas necessidades; balança com as estruturas formais da universidade”.
O curso Teorias Sociais e Produção do Conhecimento, cuja coordenação acadêmica é composta, além da professora Sara, pelos professores Maria Lídia Souza da Silveira, Marildo Menegat, também da ESS, e pela militante do Setor de Formação do MST, Roberta Lobo, tem duração de dois anos e meio - com cinco etapas, divididas entre os períodos de férias letivas da universidade -, e é ministrado por docentes de várias instituições de ensino superior do país. A primeira turma, Apolônio de Carvalho - que celebrou a conclusão dia 26 de janeiro, no auditório da ESS/UFRJ –, teve início em fevereiro de 2004 e prossegui até fevereiro de 2006. Com uma segunda turma já em andamento, a proposta é que esta parceria permaneça por muito tempo: “Enquanto a universidade pública julgar ser importante abrir-se aos movimentos sociais, nós continuaremos com este curso”, declara Granemann.
A democratização do conhecimento produzido na universidade não se limita ao curso de extensão oferecido. A PR-5, a Decania do CFCH e a ENFF firmaram um Convênio de cooperação acadêmica, cujo objetivo é, segundo Selene Maia, perpetuar a troca de conhecimentos técnicos, científicos e culturais, mantendo a aliança entre ensino, pesquisa e extensão, assim como, elaborar e executar políticas públicas nas áreas da educação e da cultura, numa interlocução entre universidade e movimentos sociais.