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Edição 299      16 de junho de 2010


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Religião e política: limites e desafios



Marcio Castilho

Ilustração:Caio Monteiro

As próximas eleições de outubro, quando os brasileiros escolherão os representantes para ocupar os cargos de presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais, colocam em debate a participação de grupos religiosos na política. As origens, as esferas de poder onde se concentram as lideranças e a análise da atuação desses segmentos na política são objeto de estudo do Núcleo de Pesquisa Religião, Gênero, Ação Social e Política da Escola de Serviço Social (ESS-UFRJ). Para a professora Maria das Dores Campos Machado, coordenadora do núcleo, a participação de integrantes de diferentes religiões, incluindo católicos, evangélicos e grupos afro-brasileiros, dentre outros, são uma “expressão do alargamento da democracia”.

Segundo a pesquisadora, que publicou o livro Política e religião: a participação dos evangélicos nas eleições (FGV, 2006), o fenômeno de lideranças evangélicas ocupando cargos em diferentes instâncias do poder mostra uma “pluralização” do campo religioso na política. “Sempre tivemos uma participação quase naturalizada da Igreja Católica em várias instituições, incluindo a política. O surgimento dos evangélicos tem um componente de democratização, expressa a entrada de outros segmentos na política, que não estavam presentes”, avalia Maria das Dores.

A coordenadora do núcleo observa que a religião exerce historicamente um papel importante na cena política. Instituições como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) costumam ser consultadas pelo Estado na formulação de políticas públicas, como o combate a Aids. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) convocou diferentes representantes da sociedade civil para audiências tratando de questões controversas no campo ético, como o uso de células-tronco embrionárias e a prática do aborto nos casos de confirmação de anencefalia dos fetos.

Maria das Dores ressalta, contudo, a importância de a sociedade estabelecer certos limites ou constrangimentos para a participação de grupos religiosos na política. “A sociedade tem que ficar atenta quando a religião começa a desenvolver estratégias e passa a atuar em paralelo com a lógica partidária, levando a campanha para dentro das igrejas e dos templos. Isso proporciona uma diferença em relação aos outros segmentos. Os limites devem ser estabelecidos para que essa participação não se transforme em algo que ameace a democracia ou passa favorecer grupos em detrimento de outros”, salienta a professora da ESS-UFRJ.

Uma das conseqüências desse tipo de relação é a prática do clientelismo religioso ou troca de favores para conquista de votos nas eleições. A pesquisadora afirma, no entanto, que esse risco pode existir em qualquer modelo clientelista, não se restringindo, portanto, a grupos religiosos. “O uso político da religião parece algo extremamente novo e ameaçador, mas quando isso ocorre, os grupos acabam reproduzindo vícios da cultura política brasileira”, assinala Maria das Dores.

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