Edição 195 18 de março de 2008
O desejo de falar sobre o papel da beleza na sociedade pós-moderna e das possibilidades estéticas existentes no campo da produção cultural impulsionou Denílson Lopes, professor da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), a lançar seu quinto livro, terceiro do qual é autor, A delicadeza: estética, experiência e paisagens.
No momento em que o mundo se volta para as manifestações da cultura de massa, como sentir presente a delicadeza? O Olhar Virtual entrevistou o autor da obra, que respondeu a esta e outras questões ligadas ao espaço ocupado pela estética em um mundo passível de constantes transformações.
Olhar Virtual: Escrever um livro é um processo demorado, que muitas vezes exige algumas renúncias. Por que a decisão de publicar esta obra?
Este livro é fruto de uma pesquisa, realizada entre 2002 e 2006 com o apoio do CNPq, mas que, devido aos trâmites editoriais, só está sendo lançado agora. A partir desta investigação, passei a questionar como é possível ser de uma sociedade calcada na Comunicação de massa sem deixar de pensar em uma estética voltada para os produtos culturais massivos.
Diversas obras acadêmicas me interessaram para esta pesquisa, mas também pude fazer uso de filmes, livros e músicas para esclarecer melhor alguns conceitos que ficavam por trás.
Olhar Virtual: Por que abordar esta temática?
Além da amplitude da questão teórica, havia um ponto de vista que eu tentava defender. Muito do que se apresenta hoje no cinema e na literatura, como os filmes nacionais Tropa de elite e Cidade de Deus, é veiculado com um interesse do público e da crítica por privilegiar a violência, a pobreza, o grotesco, a crueldade.
Em contrapartida a tudo isso, eu quis valorizar uma outra tendência contemporânea que lida com temas como a delicadeza, a leveza e a sutileza. Não é por se tratar destes temas que me desvinculo da realidade. Eles tratam da realidade também, mas sob uma outra perspectiva, que não é melhor ou pior, é apenas uma outra visão, que pode ajudar a melhorar a compreensão do momento presente. É uma tentativa de reposicionar valores pouco valorizados.
A estética da Comunicação não caracteriza um estilo; é uma área de conhecimento que tem várias tendências e correntes teóricas, que procuram trabalhar os mass media ligados, intimamente, à Arte. Para um estudante de Comunicação é importante conhecer e estudar os fenômenos das telenovelas, dos reality shows e das novas tendências, mas é indispensável que este aluno conheça também a Arte. Esta conexão deve ser feita em via de mão dupla, os graduandos de Arte devem conhecer mais a fundo os fenômenos culturais e comunicacionais, sem se prender à visão hegemônica de imprensa.
Olhar Virtual: A delicadeza: estética, experiência e paisagens. Por que a escolha por este título?
O título é sempre complicado de escolher. Eu poderia ter escolhido um título mais acadêmico ou talvez mais explicativo, mas acho que a delicadeza é uma palavra capaz de atrair a atenção. Remete a algo sentimental, fora de moda, mas ao mesmo tempo traz o questionamento de como, em meio a tantos problemas cotidianos, a delicadeza pode fazer algum sentido. A delicadeza pode ser encarada como um posicionamento diante do mundo e, até mesmo, diante das outras pessoas.
A questão não é somente estética, é também ética. É possível que na sociedade em que vivemos ainda existirem valores como a leveza, gentileza, delicadeza. É possível que tudo isto seja um sonho, uma bobagem? Em meio a tantas guerras, gosto de pensar que não; a delicadeza ainda está presente na sociedade.
Olhar Virtual: Se fosse preciso propagandear esta obra, como o Sr. convenceria um leitor da importância deste livro? Este livro pretende pensar e discutir um tema pouco abordado no Brasil que é uma estética da Comunicação, temática importante para as áreas de Comunicação e Artes. É uma área que, contraditoriamente, não tem muita contemplação na formação de seus profissionais. A delicadeza: estética, experiência e paisagens não é único, mas é um dos textos que apontam para esta área de discussão.
O livro é também interessante para qualquer pessoa que tenha desejo de refletir sobre questões contemporâneas e sobre produtos culturais massivos, como por exemplo, seriados da Sony, filmes hollywoodianos e obras sofisticadas ou experimentais.
Um aluno de Comunicação que tem interesse em Comunicação e Cultura de massa precisa conhecer um pouco de Arte e, por sua vez, um aluno de Arte precisa conhecer um pouco de cultura de massa, já que as duas áreas se complementam. Do ponto de vista acadêmico, fazer esta interface é a questão do meu livro.
Outro ponto que pode ser interessante para o leitor é o fato de o livro ser escrito em tom ensaístico, com um forte lado literário e pitadas de crítica, o que pode atrair um público não-especializado.