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Edição 327      8 de fevereiro de 2011


Entrelinhas

O Brasil e a Segunda Guerra Mundial

 

Elisa Ferreira e Paula Araújo

 

 Com o intuito de localizar o Brasil perante os conflitos internacionais dos séculos XX e XXI, o Laboratório de Estudos do Tempo Presente-UFRJ lançou o livro O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. O livro aborda, de forma inovadora, as mudanças que a Guerra gerou no cenário Brasileiro.

A fim de conhecer melhor o trabalho, o Olhar Virtual entrevistou os organizadores do livro Igor Lapsky e Karl Schurster.

 

Olhar Virtual: Qual foi a importância da participação do Brasil na Segunda Guerra?

Igor Lapsky e Karl Schurster: A participação do Brasil não aconteceu somente de forma secundária. A costa do país é um ponto estratégico no controle do Atlântico Sul e as duas forças da Segunda Guerra, os Estados Unidos e a Alemanha, buscavam apoio do país como forma de instalar bases, navios e submarinos, que controlariam a navegação da parte sul do Oceano Atlântico.

A atuação das Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB) também teve relevância na Itália; elas foram responsáveis por invasões a regiões de grande importância para os Aliados obterem sucesso na parte sul do continente europeu.

Olhar Virtual: Pode-se considerar a participação do Brasil na Segunda Guerra um marco na inserção do país na política global?

Igor Lapsky e Karl Schurster: Podemos considerar que foi um passo importante para o país, visto que as negociações entre Brasil – Estado Unidos e Brasil – Alemanha, de forma concomitante, deu ao país uma importância nas relações internacionais durante a Guerra, sustentando esta posição ao final do conflito.

Olhar Virtual: Qual foi a reação da sociedade brasileira à entrada do Brasil na guerra? A maioria da população apoiou a decisão?

Igor Lapsky e Karl Schurster: A partir do rompimento das relações diplomáticas do Brasil com as potências do Eixo, ocorrido em janeiro de 1942 na conferência dos chanceleres, ocorrida no Rio de Janeiro, fica definida a posição política brasileira para o resto do mundo, mesmo que nós já soubéssemos dos acordos com os aliados há muito mais tempo. Naturalmente, os discursos da imprensa mudaram devido ao rompimento e, em certa medida, os murmúrios nas ruas já se posicionavam a favor de uma declaração de guerra devido ao afundamento de nossos navios na costa do nordeste. As mortes causadas pelos afundamentos, com constante aparecimento de fotos nas capas dos jornais sobre o ocorrido e sucessivas matérias perguntando quando o Brasil responderia às agressões das potências do Eixo, levou, sem dúvida, à declaração de guerra em agosto de 1942. A declaração de Guerra não fora feita por um comunicado simples e direto, mas com um grande discurso do presidente Vargas para as massas no estádio de São Januário.

 

Olhar Virtual: Qual foi a importância desempenhada pelos jornais e demais meios de comunicação nesse contexto?

Igor Lapsky e Karl Schurster: Esse período da história brasileira tem uma relação bastante especial com a imprensa. Vemos as mais radicais mudanças de posicionamento político de vários editoriais para permanecer funcionando durante a Ditadura do Estado Novo. O caso mais conhecido no Brasil é o do jornal paulista A Platéia. Defensor assíduo dos alemães e do nacional socialismo, com o aumento do cerco da censura, o jornal muda radicalmente de postura para continuar em circulação, o que não funcionou por muito tempo.

Para nós, a imprensa criou no Brasil uma guerra particular, que chamamos de guerra como metáfora.

Olhar Virtual: O que se pode dizer sobre o contato dos brasileiros com a guerra, em especial, com outros oficiais?

Igor Lapsky e Karl Schurster: Para os soldados da FEB, os impactos foram grandes. Muitos, que antes eram analfabetos, fizeram ao menos dois cursos superiores e estudaram diversos idiomas após a guerra. Outros ficaram traumatizados com a grandeza do conflito.
O contato com os outros oficiais era uma questão um pouco complicada. As ordens saíam de comandos que tinham como membros oficiais norte-americanos; estes não conheciam a língua portuguesa; e os soldados da FEB não possuíam contato com o inglês.

Olhar Virtual: No livro, há três expressões de uso comum quando se trata de Segunda Guerra: “liberdade”, “triunfo sobre o mal” e “nunca mais”. Quais são seus significados no contexto atual?

Igor Lapsky e Karl Schurster: Talvez, o século XX tenha eternizado as expressões e a Segunda Guerra tenha grandes contribuições para isso. Em nosso tempo, estas expressões estão atreladas ao 11 de setembro nos Estados Unidos e à guerra ao terror.

O discurso do então presidente Bush, continha estas expressões que de novas não tinham nada e que lançavam os EUA em uma empreitada militar agora contra um inimigo não formal e não identificável: o terrorismo.

Durante as décadas de 1930 e 1940, essas expressões estavam, em especial, ligadas à necessidade de derrota do Nazismo e de todo o terror do genocídio dos próprios fronts de batalha e dos campos de concentração.

Olhar Virtual: A história é contada por diferentes versões. Como a historiografia consegue driblar isso para se manter fiel aos fatos?

Igor Lapsky e Karl Schurster: Toda historia é possível, o que queremos e tentamos buscar é uma história com rigor, em relação aos métodos, às fontes, às análises. Todos os acontecimentos históricos passam pelo mesmo problema, sempre pensamos que eles pertencem ao historiador, quando, na verdade, são e estão a serviço da humanidade. O historiador apenas retira da sociedade o status de conforto, de quietude. Uma análise histórica dos eventos tende a ser mais rigorosa devido ao método, à teoria, às pesquisas de fontes, e consequentemente, nos dá a impressão de estarmos mais perto dos fatos. Mas não podemos esquecer que todo tratamento dado aos temas são passionais e dependem exclusivamente do posicionamento de cada autor. Um tema como a Segunda Guerra Mundial nunca poderá fica preso à História, simplesmente porque a guerra ultrapassou os limites de entendimento da mesma. Apenas com um olhar multidisciplinar, podemos entender a condição humana neste conflito e, então, poderemos voltar a pensar o que seria uma boa História da Segunda Guerra Mundial. No momento, buscamos construir uma história sobre a Segunda Guerra que aproximem os leitores das mais variadas analises sobre o tema.

 

Número de Páginas: 976 páginas
Editora: MULTIFOCO
Preço Médio: R$ 110,00

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