Edição 175 11 de setempro de 2007
A realidade do Brasil é marcada por déficits educacionais acentuados; apenas uma pequena parcela da população tem acesso ao ensino superior. A situação também revela um quadro alarmante quando falamos em estatísticas de número de alunos em relação ao número de professores. Se distribuíssemos por todas as escolas do Rio de Janeiro um docente por disciplina, ainda assim seria insuficiente o número de professores para atender grande parte das instituições do Estado.
Alguns anos atrás, a grande preocupação do governo em relação à educação era garantir a todas as crianças o curso do ensino fundamental. Essa meta foi alcançada e, praticamente, 99% das crianças cumprem essa etapa do processo educativo. Com essa evolução, aumentou a pressão para cada vez mais pessoas cursar o ensino universitário, a fim de ter uma formação profissional melhor, refletida positivamente na economia do país.
Mas como pensar alternativas para universalizar o acesso às universidades? Vários projetos usam as verbas do governo para investir em faculdades privadas, custeando o ensino de um pequeno contingente de alunos. Outros decidem investir verba nas universidades públicas e oferecem oportunidades de cursos de graduação em conceituadas instituições do país; são as metodologias de ensino a distância. Iniciativas que conseguem levar o ensino superior às cidades do interior são extremamente importantes, afirma Marta Feijó Barroso, professora do Instituto de Física da UFRJ, pois não retiram o aluno de seu ambiente de vida e, quando esse profissional se graduar, tenderá a exercer a profissão em sua própria cidade. Isso já não acontece quando o estudante se desloca para os grandes centros e acaba permanecendo nas capitais, inflando ainda mais o mercado de trabalho; enquanto nas pequenas cidades permanece a deficiência de mão-de-obra especializada em diversas áreas.
Marta Feijó relatou ao Olhar Virtual sua experiência com um desses projetos de ensino a distância, trabalhado durante muito tempo: o Consórcio CEDERJ – Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro. Este Centro, vinculado à SECT (Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia) e às seis universidades públicas do Estado, UENF, UERJ, UFF, UFRJ, UFRRJ e UNIRIO, oferece cursos de graduação semipresencial para os alunos aprovados em seu vestibular.
Enquanto o vestibular da UFRJ oferece 6.615 vagas distribuídas em 145 cursos o CEDERJ disponibiliza em seu processo seletivo 3.621 oportunidades, com apenas sete cursos – Licenciatura em Física, Química, Biologia e Matemática; Administração; Tecnologia da Computação e Pedagogia.
“As idéias de democratizar o acesso e capilarizar o ensino universitário são os grandes impulsionadores do ensino a distância”, declarou Marta. A professora, quando conheceu o projeto, não acreditava em seus resultados, mas com a vivência tornou-se defensora deste meio de propagação do conhecimento. Lembra ainda das dificuldades de implantação do CEDERJ, pois foi preciso criar uma organização completamente nova e inaugurar no país uma modalidade de ensino. A idéia não é fazer um curso por correspondência, nem um escolão de 3º grau, como diversos outros já existentes; a idéia é criar uma complexa rede, zelando pelo projeto político-pedagógico dos cursos.
Cada uma das seis universidades ligadas ao projeto fica responsável por algum curso, no caso da UFRJ, temos os cursos de Física e de Biologia, este último em parceria com a UENF. Esses cursos são administrados por professores da universidade responsáveis pela confecção do material didático, pela orientação dos tutores, feitio, correção das provas e acompanhamento do aprendizado do aluno.
O método do CEDERJ incorpora meios e tecnologias de informação e comunicação, tem professores e alunos desenvolvendo atividades variadas em tempos diversos. A tutoria, presencial ou não, é importante para o processo, mas a boa vontade do aluno é essencial para apreender o conteúdo programado. Foi desenvolvida uma metodologia de ensino estimuladora da atitude construtivista como princípio educativo, articulando prática, teoria e levando em consideração o nível cultural dos alunos. “O perfil do aluno do curso a distância é muito diferente dos de curso regular. É preciso ser muito mais autônomo e dedicado. É necessário existir vontade de buscar conhecimento”, lembrou Marta.
O CEDERJ tem um grande diferencial: seus 25 pólos regionais, localizados nas cidades participantes do projeto, por exemplo, Itaperuna, Itaocara, Petrópolis dentre outras. Esses pólos têm uma infra-estrutura muito boa, laboratórios de experimentação, informática; possibilitam ligação física entre aluno e universidade, fator muito importante no processo. A construção desses pólos foi importante para a educação, e também gerou muitos empregos para essas regiões.
Os alunos formados pelo sistema do CEDERJ recebem diplomas iguais aos dos alunos dos cursos presenciais, sem nenhum diferencial quanto a forma de graduação. “Não existe diferença de capacitação entre um profissional formado nos pólos, já que eles passam pelas mesmas avaliações dos demais, com a diferença de terem um mediador entre eles e os professores – seus tutores, parte importante da pirâmide formada para a multiplicação de competências”, afirma Marta.
Apesar de diversos pontos positivos, o sistema de educação superior a distância também passa por problemas: as altas taxas de evasão, por exemplo. Elas podem ser causadas por uma base educacional frágil que não permitem ao aluno acompanhar o ritmo.
“Outro problema é que os alunos dos cursos não presenciais acabam perdendo o contato com a vida acadêmica em si, perdem esse clima de universidade, essencial não só para a formação profissional como para a própria concepção de universidade”, observa Marta. Para evitar a universidade tornada um grande escolão de nível superior, o CEDERJ investe em seminários e projetos que levem aos pólos um pouco dessa movimentação acadêmica.
A criação do CEDERJ e o investimento em educação semipresencial foram para a UFRJ um grande aprendizado. “Trabalhar com os cursos a distância nos fez repensar nossa maneira de agir nos cursos regulares, nos fez procurar melhorias para a qualidade do ensino e para o aprendizado do aluno”, ressaltou Marta e lembrou ainda, a UFRJ é referência nessa modalidade de ensino.
“O grande desafio da área no Brasil é conseguir fazer educação de quantidade com qualidade. O CEDERJ já está no bom caminho e isso é fruto de sua concepção original e mecanismos de implantação muito bons”, finalizou Marta Feijó.