Edição 171 14 de agosto de 2007
Um convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar) tornou possível a criação do Centro de Simulação Aquaviária (CSA), localizado no Rio de Janeiro. Equipado com tecnologia de ponta, o CSA é o mais moderno do mundo nesse tipo de simulação.
O objetivo do Sindmar é oferecer cursos de aperfeiçoamento para a comunidade marítima, em especial os oficiais formados pelo Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (Ciaba) e pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), utilizando treinamentos específicos no simulador.
Marcos da Silveira, coordenador do CSA, ressalta a importância dessa interação pioneira entre uma universidade pública e um sindicato: “o CSA agrega a expertise da maior universidade brasileira e a experiência de profissionais do mar organizados no Sindmar. É um importante intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos para o setor marítimo”.
Na parceria, a UFRJ adquiriu os equipamentos do simulador, os quais foram importados dos Estados Unidos e utilizam tecnologia da empresa Transas Marine. O Sindmar, por sua vez, se encarregou de realizar as obras de estrutura e montagem do CSA, além de ser o responsável pela manutenção do centro de simulação.
O melhor do mundo
A instalação do passadiço para embarcação offshore consiste na primeira fase do projeto do CSA. Lá é possível interagir com efeitos visuais, radares, sensores, sons, movimentações, tudo cuidadosamente fiel aos sistemas de controle de navegação de uma embarcação de verdade. Quem não está acostumado com os balanços do mar pode até enjoar.
O CSA é formado por um simulador de navegação marítima interligado a simuladores de Gerenciamento de Crise, de Posicionamento Dinâmico e de Operação e Condução de Máquinas Navais. Seus hardwares e softwares são sofisticados, este último atualizado constantemente através de downloads da internet.
Todos os equipamentos e programas de simulação operam em perfeita integração, o que garante ao CSA o posto de mais avançado simulador aquaviário do mundo, e com um importante diferencial: “Os projetos de outros simuladores aquaviários foram desenvolvidos por técnicos em informática. O CSA, que engloba centenas de situações da vida marinheira, foi idealizado por Oficiais da Marinha Mercante e desenvolvido por técnicos especializados”, destaca Marcos.
O Centro de Simulação em terra permite que o treinamento de oficiais em determinadas operações marítimas críticas, como o desvio de rotas de colisão, seja feito em plena segurança, sem colocar em risco a vida dos tripulantes, do patrimônio e do meio ambiente.
Segundo Marcos, os projetos futuros do Sindmar incluem dar continuidade à qualificação de mão-de-obra nacional especializada através de cursos de simulação, os quais são capazes de reproduzir inúmeras condições de operação das modernas embarcações utilizadas pela Marinha Mercante internacional.
O treinamento em operações relacionadas a atividades econômicas, sobretudo aquelas que envolvem a exploração de petróleo, também estão nos planos do Centro de Simulação.
“Na área de pesquisa, o CSA possibilitará auxílio na avaliação operacional de portos e terminais e em novos projetos de navios, além de maior eficiência de recursos empregados para a prevenção da poluição marinha”, acredita o Coordenador do CSA.
Intercâmbio com a UFRJ
Os estudos da UFRJ realizados no Laboratório de Tecnologia Oceânica do Instituo Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (LabOceano/Coppe) serão complementados com as simulações no CSA, que possibilitam experiências visuais de operações marítimas.
Os professores Paulo de Tarso e Marcelo Neves, ambos do departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica (Poli/UFRJ) e do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, explicam que o LabOceano possui um simulador de manobras de embarcações, mas não a “teatralidade” de uma cabine visual como a do CSA.
“Nós temos os computadores que fazem os cálculos de manobras, no entanto, não temos a sensação de estar em um navio. Na medida em que há esse modelo matemático, no LabOceano, e um simulador visual (CSA) - que corresponde a um outro modelo - a idéia é ver de que maneira esses dois podem interagir, por exemplo, assimilando o que cada um tem de melhor”, informa Paulo.
Com o intuito de fortalecer essa parceria entre a Universidade e o Sindicato, alunos da Graduação do curso de Engenharia Naval também têm a oportunidade de fazer visitas ao CSA. Eles realizam treinamentos - aos quais normalmente não teriam acesso, pois são específicos para marinheiros - que permitem visualizar, de forma mais concreta, como se aplicam as teorias que são aprendidas em sala de aula.
“Muitas vezes, o aluno está inexperiente e não possui uma noção do que significa, na prática, a aceleração do navio em ondas ou uma taxa de variação de dois graus por segundo, por exemplo, que é uma taxa de aplicação de leme. O aluno ganha muito no que diz respeito ao sentimento disso graças ao simulador”, afirma Marcelo.
Ele explica que, em navegação, há a necessidade de antecipar ações em virtude do grande porte das embarcações, o que pode ser treinado e observado nas simulações. “É preciso planejar a parada de um navio quilômetros antes, afinal, ele não tem freio a disco e a pista está sempre molhada”, brinca o professor Neves.
(Obs. Fernando. Fonte de informações específicas sobre o CSA: Revista Unificar, do Sindmar, nº 24 – Janeiro/2007. Entrevistas com: Marcos da Silveira, coordenador do CSA, e professores Paulo de Tarso e Marcelo Neves, da Engenharia Naval e Oceânica).