Edição 186 04 de dezembro de 2007
No final de 2005, a Pró-reitoria de Extensão (PR-5) recebeu um telefonema. Do outro lado da linha, Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, pedia o apoio pedagógico da UFRJ para concretizar na região a idéia de um pré-vestibular comunitário. Um convênio foi firmado então entre a Reitoria e a Prefeitura, e, já no início do ano de 2006, foi criado o Curso Pré-vestibular de Nova Iguaçu.
Em quase dois anos de história, mais de mil jovens passaram pelas salas de aula do projeto que, em 2008, acolherá 700 novos alunos, distribuídos em três escolas distintas (E.M. Rubens Falcão, no bairro de Santa Eugênia; E.M. Júlio Rabello, no bairro de Dom Rodrigo; e E.M. Douglas Brasil, no bairro de Cerâmica). Até o dia 23 de janeiro, os moradores de Nova Iguaçu que tenham concluído ou estejam cursando o terceiro ano do Ensino Médio e que desejarem concretizar o sonho de ingressar em uma universidade, poderão ir até um desses colégios ou à Escola Municipal Monteiro Lobato, no Centro de Nova Iguaçu, e efetuar sua inscrição.
Os candidatos serão selecionados e classificados a partir da aplicação de uma prova com cinqüenta questões objetivas. O exame é dividido em três áreas básicas, Linguagens (Português e Literatura Brasileira), Matemática e Ciências da Natureza (Matemática, Química, Física e Biologia) e Ciências Humanas (História e Geografia), e testa, essencialmente, a capacidade de interpretação e raciocínio lógico dos jovens.
- Mesmo entre os alunos aprovados, existem aqueles que não tiveram aulas de, pelo menos, uma disciplina durante o Ensino Médio. Por isso, a nossa prova, que visa não excluir o aluno há muito tempo fora das escolas, cobra a capacidade interpretativa do jovem e não conhecimentos prévios – elucida Ary Pimentel, coordenador geral do CPV de Nova Iguaçu.
O CPV de Nova Iguaçu conta com 12 turmas, ministradas das 18h30 às 22h30, durante a semana, e das 8h às 12h, aos sábados. O projeto é financiado pela Prefeitura da cidade, que disponibiliza os espaços onde ocorrem as aulas, mas a responsabilidade pedagógica das turmas pertence à UFRJ. A seleção de professores estagiários, a escolha de professores orientadores, a seleção de alunos, a produção de material didático e a coordenação das atividades pedagógicas e culturais são realizadas pela universidade.
Todos os 59 professores do projeto são alunos bolsistas de diferentes unidades da UFRJ, orientados por docentes da instituição. No início do ano, as equipes de cada disciplina se reúnem para montar o programa das aulas. Durante o ano letivo, os orientadores realizam encontros com seus estagiários, nos quais avaliam o rendimento dos pré-vestibulandos nas aulas e discutem apostilas e gabaritos de exercícios.
Leonor Santos, professora da Faculdade de Letras (FL) e orientadora da equipe de Redação do CPV de Nova Iguaçu, enfatiza a importância de os monitores aprenderem a “planejar uma aula, elaborar o material didático e ter jogo de cintura em sala de aula”. A docente explicita ainda que, a despeito do Vestibular, o objetivo principal da disciplina de Redação no projeto é propiciar melhorias textuais a alunos que, na maior parte das vezes, não tiveram a oportunidade de estudar em bons colégios.
Para Leonor, a iniciativa do CPV de Nova Iguaçu ajuda a UFRJ a repensar a própria imagem de universidade, na medida em que permite aos universitários pôr em prática as teorias aprendidas na sala de aula: “a oportunidade de mostrar aos alunos como preparar aulas e material didático — em uma proposta de pré-vestibular que é completamente diferente dos cursinhos que há por aí — é fantástica”, ressalta a professora que trabalha em parceria com Filomena Varejão, orientadora de Língua Portuguesa.
Apesar de serem pensadas e ministradas pela UFRJ, as aulas do Pré-Vestibular estimulam o ingresso dos estudantes em universidades mais próximas de Nova Iguaçu, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que possui um campus avançado na cidade:
- Nós temos a obrigação de pensar a democratização do acesso ao Ensino Superior, mas não podemos desprezar a importância da permanência desses alunos na universidade. Não posso ser irresponsável de pensar apenas em colocar esses alunos no Ensino Superior. Isso é importante, mas temos que pensar em mecanismos para que eles concluam a universidade. Nesse sentido, a UERJ e a Rural oferecem melhores condições de permanência, já que os gastos com o transporte são menores para os alunos do CPV de Nova Iguaçu. O custo é inferior ao que ele terá para ir ao Fundão, à Praia Vermelha ou ao IFCS – explica Ary Pimentel.
Em seu tempo de existência, o CPV de Nova Iguaçu já aprovou cerca de 80 alunos para universidades públicas e para o Programa Universidade para Todos (ProUni). Mas as aulas não são os únicos benefícios dos estudantes do pré-vestibular. Além delas, os alunos do CPV de Nova Iguaçu são contemplados também com uma série de atividades extraclasse, que compreendem aulas de campo em diferentes pontos da cidade de Nova Iguaçu, do Estado do Rio de Janeiro, visitas a museus, teatros e exposições.
Essas experiências extracurriculares, segundo Ary Pimentel, são tentativas de promover o acesso desses estudantes a níveis maiores de capital cultural: “O nosso maior desafio está no universo cultural. A Baixada sofre uma exclusão que é social, que é econômica, mas que também é cultural. Esse território da Baixada é muito distante dos principais pólos de cultura, dos principais pontos que poderiam oferecer cultura aos alunos. Queremos promover a formação de um cidadão crítico que possa se inserir na universidade e também na sociedade como um todo. Desejamos que eles sejam agentes de transformação da realidade da região”, salienta Ary.