Edição 350 9 de agosto de 2011
Divulgação |
O samba está na moda e atingiu definitivamente seu lugar cativo na indústria fonográfica. Felipe Trotta, doutor em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ e pesquisador de Mídia e Música Popular pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), desbrava as peculiaridades deste gênero da música brasileira, sua relação com o mercado e com o pagode em seu livro “O samba e suas fronteiras -‘Pagode romântico’ e ‘samba de raiz’ nos anos 1990”, publicado pela Editora UFRJ.
Olhar Virtual: O livro é fruto da sua tese, defendida em 2006. Como foi e quanto tempo durou o processo de pesquisa?
Felipe Trotta: A pesquisa surgiu de minha experiência como músico, atuando no mercado de samba desde o início dos anos 1990. O doutorado foi um desdobramento de inquietações que apontam para essa experiência.
Olhar Virtual: O que contribuiu para que o pagode alcançasse tanto sucesso? É possível falar em um contexto que teria sido favorável?
Felipe Trotta: Na minha tese, afirmo que um fator decisivo para o pagode e o samba ocuparem os postos mais altos do mercado foi a dissolução de uma relação paradoxal entre os sambistas e as instâncias mercantis de circulação de música. Em outras palavras, os grupos de pagode encaravam o mercado (gravadoras, showbizz, imprensa) como aliado e não com desconfiança. Isso parece ter sido uma mudança fundamental para alcançarem sucesso comercial.
Olhar Virtual: Como pode ser explicada a resistência e o preconceito contra o pagode? Ele ainda é visto como "subgênero"?
Felipe Trotta: O pagode atingiu o topo das vendas, mas foi muito criticado pela intelectualidade. Talvez por ter negociado com o mercado mais de perto e ter se afastado um pouco do fundo de quintal (tanto simbólico quanto real). Mas acho que hoje essa cisão se enfraqueceu.
Olhar Virtual: Como você defende em sua tese, o samba está na moda. Como se deu essa passagem de um lugar periférico para o centro da indústria cultural?
Felipe Trotta: Pois é, tudo por conta dessa mudança de estratégia frente ao mercado instituído. Ao invés de renegar as gravadoras e a mídia, os grupos de pagode se aliaram a eles. E foram muito eficientes e competentes nisso, fazendo sua música reverberar e ocupar um espaço no mercado que estava sendo ocupado pela música americana.
Olhar Virtual: Passados os anos 90, o pagode conseguiu definitivamente conquistar um lugar na música brasileira?
Felipe Trotta: Definitivamente. O pagode e o samba hoje ocupam todas as searas do mercado.
Olhar Virtual: Qual a atual relação entre samba e mercado? Houve mudanças de 2006 para cá? Quais as perspectivas para essa década que se inicia agora?
Felipe Trotta: Acho que o que está na tese sobre 2006 permanece até hoje, intensificado. O mercado mudou muito por conta da internet, ficou amais diversificado e variado, mas não necessariamente mais democrático, como pregam os mais otimistas.
Olhar Virtual: Quais são seus novos projetos de pesquisa?
Felipe Trotta: Estou escrevendo um livro fruto de uma pesquisa de cinco anos sobre o contexto do forró no Nordeste, que apresenta hoje uma tensão bastante semelhante à do samba na década de 1990. Deve ser lançado no início do ano que vem.