Edição 342 14 de junho de 2011
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O Trabalho “Violão e identidade nacional: Rio de Janeiro 1830-1930”, da professora Márcia Taborda, recebeu, em 2010, o Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música. Agora, a tese de doutorado da professora se transformou no livro Violão e identidade nacional. O lançamento da obra acontece na próxima quarta-feira (15/06) com um recital comentado no Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música (Rua do Passeio, 98 Centro). No evento, a professora toca com a participação especial de Andrea Ernest Dias (na flauta) e Henrique Cazes (cavaquinho).
Na obra, o violão é a personagem principal. Não somente o objeto em si, mas o uso e o que ele representa na sociedade. Para entender melhor esse instrumento que envolve todas as classes e a história do Brasil, o Olhar Virtual conversou com a autora.
Olhar Virtual: Como surgiu a ideia de elaboração do livro?
Márcia Taborda: O livro, versão modificada da tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ, com orientação de José Murilo de Carvalho, surgiu do desejo de conhecer e compreender a inserção histórica e social do violão na cultura do Rio de Janeiro. Para isso, foi feita a pesquisa em diversos tipos de documentos, desde relatos de viajantes, fontes hemerográficas, iconográficas e, claro, registros musicais.
Olhar Virtual: Como aconteceu a introdução do violão na sociedade brasileira?
Márcia Taborda: O violão de seis cordas simples surgiu na Europa em fins do século XVIII e chegou ao Brasil em princípios do século XIX. Embora eu acredite que o violão tenha vindo com a corte portuguesa em 1808, o documento mais antigo que encontrei foi um anúncio publicado em 1826, no qual o músico italiano B. Bortolazzi divulga seu trabalho de professor do instrumento. Em poucos anos, o violão se espalhou pela cidade e se tornou o veículo de acompanhamento das canções além de integrar o famoso choro conjunto, grupo instrumental composto de violão, cavaquinho e instrumento solista.
Olhar Virtual: Por que tomar o violão como representante do país?
Márcia Taborda: A compreensão do violão como símbolo da identidade cultural retrata a visão de uma determinada época. Os anos de 1920 marcaram a busca pelo que é nosso... Na discussão e afirmação de uma identidade nacional o violão foi eleito o timbre mais característico – "o alto-falante da alma nacional". Essa visão de mundo ecoa no trabalho de Lima Barreto, que fez seu Policarpo Quaresma proclamar: "É preconceito supor-se que todo o homem que toca violão é um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da poesia nacional e o violão é o instrumento que ela pede".
Olhar Virtual Qual a importância atual do instrumento no Brasil?
Márcia Taborda: O violão está presente em toda a sociedade brasileira, dando suporte rítmico-harmonico aos mais diversos gêneros musicais. Historicamente esteve ligado à modinha, ao lundu, ao samba-canção, à bossa nova. Ainda no começo do século XX, Villa-Lobos deu o passo fundamental para a criação do repertório de concerto e desde então criou-se para o violão brasileiro uma literatura generosa executada por interpretes de extremo apuro técnico e musical.
Olhar Virtual: Na sua opinião, o violão deixou de ser associado à cultura popular, já que, agora, há concertos e estudos mais profundos?
Márcia Taborda: De jeito nenhum.. nem teria sentido. O violão brasileiro é riquíssimo em todos os contextos, todas as formas de apresentação e é aí que reside a vitalidade do instrumento.
Editora: Civilização Brasileira (Grupo Record)
Numero de paginas: 304
Formato: 14 X21
Preço: 34,90