Edição 326 25 de janeiro de 2011
O Brasil fechou o ano de 2010 com o balanço econômico positivo. O Produto Interno Bruto (PIB) foi superior a 7%, o que demonstra um crescimento extraordinário para o país. O comércio teve aumento significativo e o varejo mostrou um crescimento considerado “chinês”, ambos respaldados pelo aumento da renda e do emprego. No entanto, as expectativas de analistas para 2011 é um avanço mais moderado.
O mesmo deve acontecer com a economia mundial, que deixa uma fase de recuperação pós-crise financeira para um momento de crescimento lento, mas sólido, segundo o Banco Mundial no relatório de Perspectivas Econômicas Globais 2011, divulgado no dia 12 de janeiro. O documento aponta ainda que os países emergentes, entre eles Brasil, Índia e China, contribuirão com 46% do crescimento do PIB em todo o mundo este ano.
Neste novo cenário mundial, onde cresce a importância dos países em desenvolvimento, o Brasil aparece como um importante personagem e é apontado como o líder para o crescimento econômico da América Latina. No entanto, passará por corte nos gastos públicos, contenção fiscal e alta nos juros. Para comentar a situação e apontar as expectativas para a economia em 2011, o Olhar Virtual entrevistou Antonio Luis Licha, professor adjunto do Instituto de Economia da UFRJ.
Olhar Virtual: Podemos esperar que a economia brasileira acompanhe as previsões para os demais países emergentes que, segundo os analistas, terão um crescimento mais moderado?
Antonio Licha: A economia brasileira deve crescer em 2011 entre 4,5 e 5%. A desaceleração do crescimento deve-se ao fato de que, em 2009, o nível de atividade ficou baixo, possibilitando um forte crescimento em 2010, e a que apareceram pressões inflacionárias no final de 2010 que devem provocar aumentos nas taxas de juros. Esses dois fenômenos são características da maioria dos países emergentes.
Olhar Virtual: Que postura deve ser esperada do governo Dilma em relação à questão?
Antonio Licha: O governo Dilma deve continuar a política econômica desenvolvida por Lula nos dois mandatos. Isso significa que a política monetária e fiscal será mais apertada em 2011 devido às pressões inflacionárias. As diferenças devem vir por duas restrições que não estiveram presentes em anos anteriores: por um lado a taxa de câmbio está muito apreciada e por outro a carga tributária encontra-se muito elevada.
Olhar Virtual: É possível manter um patamar elevado de crescimento sem permitir que os índices de inflação disparem? De que maneira?
Antonio Licha: A taxa de crescimento do produto potencial deve-se encontrar hoje por volta de 4,5 a 5%. Crescer de forma sustentada acima dessa taxa deve promover taxas de inflação maiores que a meta de 4,5%. Os salários também devem ficar bastante pressionados com escassez de mão de obra em alguns segmentos.
Olhar Virtual: Esse desaceleramento na economia previsto para 2011 pode diminuir a importância econômica e política que o Brasil vem assumindo no cenário mundial? Por quê?
Antonio Licha: O Brasil, como outros países emergentes, está assumindo um destaque maior nos mercados internacionais, já que deve crescer a taxas superiores que os países desenvolvidos. Estão se conformando uma nova divisão internacional do trabalho e uma nova estrutura econômica internacional em que países emergentes (notadamente do sudeste da Ásia) têm um forte destaque.
Olhar Virtual: Os países emergentes serão responsáveis por quase metade do crescimento econômico mundial em 2011, segundo estimativa do Banco Mundial. O Senhor acha que as economias em desenvolvimento por si só podem liderar a recuperação da crise financeira mundial?
Antonio Licha: No cenário atual de crescimento lento dos países desenvolvidos, os países emergentes devem continuar liderando o crescimento mundial. Mas na ocorrência de uma nova crise financeira que afete os mercados internacionais (por exemplo, em alguns países europeus), os países emergentes terão dificuldades em sustentar o crescimento mundial.
Olhar Virtual: Como deve se desenhar a estrutura econômica mundial nos próximos anos? Os países mais afetados pela crise conseguirão voltar a crescer de forma significativa?
Antonio Licha: É difícil precisar, mas pode-se dizer que a economia americana deve retomar o crescimento a taxas menores que na última década (digamos a taxas médias de 2,4% a.a.). No caso da Europa, a situação é mais delicada, já que vários países devem ter problemas com suas dívidas soberanas. Em especial, alguns deles podem precisar reestruturar suas dívidas públicas, o que deve provocar crises financeiras que vão afetar o crescimento de alguns anos.
Olhar Virtual: O Brasil se beneficiaria ou não disso?
Antonio Licha: Qualquer desaceleração do crescimento dos países desenvolvidos ou crise financeira internacional afeta negativamente o Brasil por vários canais: diminuem os preços e as quantidades das exportações, acontece uma fuga de capitais pelo aumento da aversão ao risco, instabiliza os mercados financeiros locais (dólar, ações, títulos públicos etc.). Uma crise internacional promove perdas para o Brasil.