Edição 342 14 de junho de 2011
Em virtude de sua aposentadoria, o professor Antonio Carlos Secchin, da Faculdade de Letras da UFRJ (FL), foi homenageado na última quinta-feira, 9 de junho, no auditório G-1 da unidade. O evento “A interminável música” reuniu alunos, amigos, acadêmicos e colegas de trabalho de Secchin para assistirem à mesa-redonda sobre a vida e obra do mestre, escritor, crítico literário e colecionador de livros.
Entre os palestrantes estavam a professora Marlene de Castro Correia, da UFRJ, a professora Flávia Amparo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e o professor Alfredo Bosi, docente da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Para mediar e apresentar o evento, foi convidada a professora Rosa Gens, de Literatura Brasileira. Na plateia estavam Claudio Aguiar, presidente do PEN Clube do Brasil, pertencente à Associação Mundial de Escritores, Domício Proença Filho, representante da ABL, e Godofredo de Oliveira Neto, professor da FL/UFRJ e ex-candidato a reitor da universidade, além de vários escritores e estudiosos de literatura.
Com um pronunciamento emocionado, Eleonora Ziller, diretora da Faculdade de Letras e ex-aluna da casa, abriu o evento. Em seguida, a mesa-redonda foi iniciada com a fala de Marlene de Castro sobre o livro Todos os Ventos (Nova Fronteira, 2002), de Antonio Carlos Secchin. Ao dizer que se sentia madrinha do homenageado, a professora leu vários poemas integrantes da obra e fez análises exaltando a técnica e a sensibilidade do escritor. “Tudo aqui me mostra que estamos diante de um poeta incrível”, afirmou. A palestrante disse ainda que Secchin utiliza “a sensualidade das palavras e tem gosto em potencializar ao máximo a musicalidade” e que “seus poemas têm coesão e simplicidade excepcionais, além de mostrarem a beleza do que se vê todo dia”.
Alfredo Bosi leu um texto de sua autoria sobre o livro de Secchin Memórias de um leitor de poesia e outros ensaios (Topbooks, 2010). O professor elogiou a obra, destacando trechos dos ensaios, além de ressaltar a qualidade com que o escritor estuda e aprecia a poesia. “Quando lemos a poesia com todo o coração estamos nos expondo, coisa que Secchin faz tranquilamente, ainda mais com a voz privilegiada e cheia de emoção que tem”, afirmou o palestrante. Com muito humor, Bosi ainda falou sobre a biblioteca cheia de raridades que o exímio colecionador de livros tem em sua casa. “’Santa inveja’ é o que diriam e dirão sobre a coleção de obras que tem o nosso amigo”, brincou.
Por fim, a professora Flávia Amparo, ex-aluna de Antonio Carlos Secchin, leu, emocionada, um texto que escreveu em homenagem a quem considera “eterno mestre”. Ao fazer um pequeno relato sobre a vida acadêmica de Secchin e de seus primeiros contatos com ele, Flávia falou com grande pesar sobre a aposentadoria do professor e disse que o mesmo “não só formou profissionais, como conquistou amigos e admiradores”. Para ela, ao se aposentar com 59 anos, completados no dia seguinte, 10 de junho, “talvez Secchin queira nos surpreender mais uma vez com sua precocidade”, afirmou ela ao se referir a pouca idade com que o homenageado ingressou na faculdade, no corpo docente da FL/UFRJ e na Academia Brasileira de Letras.
Para finalizar o evento, estudantes leram textos e poemas para Antonio Carlos Secchin e o presentearam com o livro Escutas e escritas, feito em sua homenagem por alguns de seus alunos e ilustrado por seu primo, Guilherme Secchin. O professor exibiu, durante toda a cerimônia, um grande sorriso e mostrou satisfação ao ser apenas parte do público ouvinte das declarações e, posteriormente, receber os abraços e os aplausos de tantos amigos.
Antonio Carlos Secchin
Nascido no Rio de Janeiro, em 10 de junho de 1952, Antonio Carlos Secchin, viveu até os 6 anos em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Durante a infância, gostava de dar aulas de português à irmã. Na escola, encantou-se pela poesia durante uma aula de Literatura sobre o Modernismo, na qual a professora, com o objetivo de ridicularizar o movimento, apresentou o poema “No meio do caminho”, de Carlos Durmmond de Andrade. Ao contrário dos colegas, Secchin ficou maravilhado “pela pedra” da história e mergulhou numa paixão que perduraria a vida toda.
Na adolescência, quando lia em bibliotecas públicas, conheceu o livro que elegeria posteriormente o mais marcante desse período de sua vida, A rosa do povo, também de Drummond. Ainda bastante jovem, aos 17 anos, o ex-futuro-advogado ingressou na Faculdade de Letras da UFRJ, onde ainda viveria muitas experiências ao longo de sua vida profissional.
Em 1973, licenciou-se pela FL/UFRJ e em 1975, aos 23 anos, tornou-se professor universitário. Cursou pós-graduação também na UFRJ, desenvolvendo extensa e reconhecida pesquisa sobre João Cabral de Melo Neto, que o levou a morar 4 anos na França. De volta ao Brasil, escolheu morar em Copacabana e desfrutar diariamente de seus encantos. Em 1993, foi aprovado, com nota máxima, professor titular de Literatura Brasileira da UFRJ. Já em 2004 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 19, em sucessão a Marcos Almir Madeira.
Ao longo de sua vida acadêmica já proferiu mais de 300 conferências em mais de dez países, ganhou quase 20 prêmios literários, integrou cerca de 45 conselhos editoriais, foi convidado para ministrar aulas em diversas instituições fora do Brasil, escreveu mais de 400 prefácios e apresentações, participou de mais de 200 bancas e orientou dissertações e teses suficientes para poder abrigar mais de 12 mil volumes em seu acervo pessoal.
Consagrou-se poeta a partir de suas publicações Ària de estação (São José, 1973), Elementos (Civilização Brasileira 1983), Diga-se de passagem (Ladrões de Fogo, 1988); Poema para 2002 (Cacto Arte e Ciência, 2002); Todos os ventos (Nova Fronteira, 2002), uma das mais famosas; e 50 poemas escolhidos pelo autor (Galo Branco, 2006). Como crítico, ficou conhecido por seus vários ensaios sobre as obras de João Cabral de Melo Neto. Além de mestre, escritor e crítico literário, Secchin é também assíduo frequentador de sebos e bibliófilo, fato comprovado pela biblioteca pessoal com inúmeros exemplares de clássicos e raridades da literatura que possui.