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Edição 179      09 de outubro de 2007


Olho no Olho

O trabalho na era da informação

Aline Durães

imagem olho no olho

Trabalhar às 3 horas da manhã de sábado; ir à praia na terça-feira; iniciar o serviço às 8 horas da noite na quinta; pegar um cinema na sexta à tarde. Embora esse ritmo de vida ainda pareça estranho a um grande número de pessoas, ele é perfeitamente compreensível para o teletrabalhador. Alheio ao compromisso de comparecer diariamente à empresa e detentor de uma maior flexibilidade na organização de seus horários, o teletrabalhador espelha o redesenho da forma de trabalho provocado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
O desenvolvimento das TICs permitiu ao trabalhador realizar, no momento e da maneira que julgar melhor, suas tarefas diárias sem sair de casa. Os mais otimistas garantem que o ambiente familiar propicia maior capacidade de concentração, aumentando a produtividade do indivíduo, além de diminuir o estresse causado pelos ares de competitividade da empresa.

Os benefícios do teletrabalho se estendem para os empregadores. Estudos norte-americanos evidenciam uma redução da ordem de 30% dos gastos mensais por trabalhador nas empresas praticantes desse sistema. As pesquisas comprovam também a diminuição dos custos imobiliários das companhias. A Ernest Young de Nova Iorque, por exemplo, reduziu seu espaço físico de 35 mil para 28 mil metros quadrados.

Há, no entanto, desvantagens no teletrabalho. O isolamento social do trabalhador, a carência de lealdade deste para com a empresa e a forte dependência do trabalho em relação às tecnologias são alguns pontos negativos do processo.

Para discutir essa questão, o Olhar Virtual entrevistou Bila Sorj, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), e André Urani, do Instituto de Economia (IE). A socióloga comentou os efeitos do teletrabalho em um país periférico e dependente das tecnologias externas como o Brasil. Já Urani enumerou as transformações ocorridas no processo de produção com o advento das tecnologias em rede. Confira.

Bila Sorj

Não dispomos de um mapa da disseminação do teletrabalho no país, deste modo, qualquer avaliação a esse respeito fica prejudicada. Ainda assim, sabemos que são três as pré-condições para o seu desenvolvimento: inserir e disseminar a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação em larga escala em todos os níveis de educação;  melhorar substancialmente o funcionamento das telecomunicações; e ampliar o acesso da população a essa tecnologia.

Os efeitos do teletrabalho sobre o mercado de trabalho local são muito complexos. Sabemos que o teletrabalho demanda trabalhadores nas duas pontas: para cargos de alta gerência e ocupações técnicas de processamento, de conhecimentos, imagens e trabalhadores para tarefas mais repetitivas e fragmentadas. Todavia, é bom lembrar, mesmo para esta última atividade, o mercado de trabalho já exige empregados com o Ensino Médio completo, nível de escolaridade elevado para o Brasil.

Em princípio, o teletrabalho não deve ser encarado como um produtor de desemprego. Se, por um lado, ele pode substituir atividades antes realizadas de maneira “mecanizada”, por outro, também cria uma quantidade imensa de produtos e serviços antes inexistentes e abre novas oportunidades de trabalho. Insisto na importância do investimento educacional para o provimento do  mercado de trabalho nacional com recursos humanos de qualidade e capazes de preencher todas as funções requeridas por esse setor de atividade. Seria lamentável se nós ficássemos apenas com a ponta inferior deste mercado de trabalho globalizado.

André Urani

O teletrabalho é um mundo novo que vem se desenhando há quase duas décadas e que transforma radicalmente a maneira de estruturar a produção, praticamente em todos os setores de atividades. Hoje, existem, na agricultura, grandes colheitadeiras telecomandadas a partir da sede da fazenda. Há, na indústria, cada vez mais máquinas de controle numérico nas quais a pessoa não intervém diretamente com esforço físico, mas telecomandando a distância, na unidade fabril.

Com um notebook, por exemplo, o indivíduo consegue trabalhar em qualquer lugar, seja no escritório, fora do estado ou do país. Ele pode estar sentado em um café em Paris e estar trabalhando sério ao mesmo tempo. Com isso, as noções de Estado e território, a relação entre as pessoas e a hierarquia sofrem mudanças radicais.

No século passado, havia a predominância do modelo de grandes empresas pautadas na jornada de trabalho; nesse modelo, o trabalhador dedicava uma fatia de seu tempo para afazeres ditados por algum chefe. Hoje, estamos caminhando para um mundo muito mais horizontal, no qual as pessoas passam a ser responsáveis por si próprias, elas precisam ser capazes de empreender

O Brasil tem condições de desenvolver tecnologias próprias de Comunicação e Informação para ampliar o teletrabalho. As empresas nacionais e as multinacionais têm certeza de que o Brasil dispõe de capacidade para fazer isso. Não podemos, no entanto, ficar na defensiva diante dessa revolução. A Índia, a Coréia e a China estão mostrando para o mundo que, independentemente, do tamanho de seu território, os países devem comprar o futuro e entrar de peito aberto nesse processo.

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