Edição 205 27 de maio de 2008
Segundo dados da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), a média de produção diária de lixo por habitante na cidade do Rio de Janeiro é de 1,5 kg. Logo, um carioca produz mais de meia tonelada de lixo por ano. Coleta-se diariamente no Brasil cerca de 125.281 mil toneladas de resíduos, sendo que 52,8% dos municípios brasileiros depositam seus resíduos em lixões. Pensando nas conseqüências de tal produção de lixo e nas possíveis soluções para a otimização do processo de coleta e transformação deste material, a Escola de Química (EQ/UFRJ) criou o curso de Coleta Seletiva Solidária.
O curso, organizado por Cecília Cipriano, coordenadora dos cursos de Extensão da EQ, Cheila Gonçalves Mothé, professora titular da Escola, Pólita Gonçalves, consultora sócio-ambiental, e Leandro Valareli, teve sua primeira edição entre os dias 17 e 31 de maio em espaço cedido pela Fundação Escola de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro (FESP).
A idéia do curso surgiu logo após a aprovação do Decreto Federal nº 5940/06 e do Decreto Estadual nº 40.645/07, que instituem a separação dos recicláveis na fonte geradora nas repartições públicas federais e estaduais e a doação do material para as Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis. Muitos não sabem, mas a coleta seletiva é obrigatória, segundo a Lei Municipal de Limpeza Urbana nº 3.273 de 6/9/2001, e cabe à população separar o lixo em casa. Por isso o curso de Extensão é voltado para todos os interessados em conhecer e se qualificar para apoiar os programas de coleta seletiva solidária.
A coleta seletiva tem por objetivo aumentar a vida útil dos aterros e viabilizar os materiais do lixo que podem ser recuperados. Hoje ela é realizada semanalmente no mesmo horário da coleta regular da Comlurb e como condição de sua eficiência é preciso que haja a separação anterior dos rejeitos por parte da população. ”A coleta seletiva é bem mais que colocar lixeiras coloridas em um local” disse ao Olhar Virtual a coordenadora do curso, Cecília Cipriano. “Ela é uma alternativa ecologicamente correta que desvia, do destino em aterros sanitários ou lixões, resíduos sólidos que poderiam ser reciclados. Com isso a vida útil dos aterros sanitários é prolongada, e o meio ambiente é menos contaminado. Já a coleta solidária é aquela que começa em casa e prevê a inclusão social do catador”.
Além dos impactos ambientais provocados pelo lixo, estão os problemas sociais que ele implica. Os catadores, que convivem diariamente com a insalubridade, são figuras centrais no ciclo de tratamento do lixo, por isso o sucesso da coleta seletiva depende da existência de cooperativas de catadores. O curso da Escola de Química pretende promover o conhecimento e a qualificação do aluno para apoiar os programas de coleta seletiva solidária nos quais estes catadores atuam. Segundo Cecília Cipriano, “a Coleta Seletiva Solidária é hoje um processo que necessita de apoiadores qualificados de modo a alcançar resultados satisfatórios no que se refere à qualidade da prestação de serviço, à viabilidade econômica dos grupos e ao protagonismo e autogestão dos catadores de materiais recicláveis”.
O curso teve grande procura e a razão para isto é que “a questão ambiental sensibiliza mais pessoas hoje em dia e muitos procuram conhecimentos mais aprofundados para aplicar a adequação necessária”. Qualquer cidadão pode colaborar para uma melhoria do ciclo de tratamento do lixo: separar os resíduos secos (não orgânicos) é o básico a se fazer. Outra ação possível é procurar cooperativas de catadores que atuem diretamente em seu condomínio ou empresa. A coleta seletiva ainda não é amplamente implantada no Rio de Janeiro, mas o Decreto Federal nº 5940/06 e iniciativas como este curso são um grande passo rumo a um melhor tratamento do lixo.
Passos para a coleta seletiva em casa
1) Conheça o lixo: quantidade de lixo gerado; tipos de resíduo que o compõe; caminho feito, da fonte geradora até o local onde é acumulado para a coleta.
2) Identifique as características de seu condomínio, vila, bairro ou comunidade: instalações físicas, locais para armazenagem e intermediários; recursos materiais existentes (tambores, latões e outros capazes de ser reutilizados); quem são e quantas pessoas fazem a limpeza e a coleta normal do lixo; rotina da limpeza, como é feita a limpeza e a coleta (freqüência e horários).
3) O mercado de recicláveis: doação, aceita por associações ou cooperativas de catadores, triadores e catadores autônomos que vendem ou reaproveitam o material; coleta, verifique junto à prefeitura se ela recolhe o lixo descartável e saiba como é possível obter o serviço.
4) Educação ambiental: listagem dos segmentos envolvidos; provimento da informação adequada a cada segmento; planejamento das atividades propostas para cada segmento – cartazes, palestras, folhetos, reuniões, gincanas, festas etc.
A prefeitura e a Comlurb podem fornecer impressos para a divulgação do programa e até palestras.