Edição 303 14 de julho de 2010
Ilustração:Caio Monteiro |
Com o processo de expansão urbana associada ao crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico no país, inicia-se também a preocupação ambiental com os impactos que todo esse progresso pode trazer. Restaurantes e lanchonetes do bairro de Copacabana, por exemplo, consomem e geram cerca de 130 mil litros de sobra de óleo de soja por ano. O que se discute agora é qual deve ser o destino apropriado e como atenuar os impactos ambientais que causa o despejo na rede de esgotos da substância residual.
Transformar os resíduos do óleo de soja em biodiesel. Essa é a premissa básica que guia o estudo da Coppe/UFRJ premiado pela ONU. Rogério Valle, coordenador do Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção (SAGE), explica que o objetivo é “ter um melhor aproveitamento desse óleo por meio de coleta seletiva e instalação de usina de produção de biodiesel em Copacabana. Assim, poderemos minimizar os riscos que um despejo desse óleo na rede de esgoto poderia causar.”
O Laboratório realiza a análise de ciclo de vida de várias substâncias, dentre elas o óleo de soja gerado nas cozinhas. Por meio de tal análise, é possível identificar e quantificar todos os impactos ambientais que podem ser causados no ambiente. Esse é o primeiro passo para o funcionamento do estudo, originado do projeto do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da Coppe/UFRJ.
O lançamento de óleo na rede de esgotos, por exemplo, pode causar sérios problemas ao ecossistema. “O que podemos apontar é o aumento da quantidade de matéria orgânica na água. Com isso, observamos a mudança na vegetação na região e sua relação com o ambiente”, afirma Valle. O professor citou o fato de o óleo ser uma substância não degradável, o que ocasiona muitas vezes o entupimento dos canos da rede de esgoto.
Mini-usina de coleta seletiva
A proposta resultante do estudo é instalar uma mini-usina no bairro de Copacabana, onde se realizaria coleta seletiva do óleo, que seria encaminhado à outra unidade para a produção de biodiesel. A escolha do bairro se deu pelo fato da existência de muitos restaurantes e hotéis, que contam com volume de produção anual muito significativo de óleo. “O bairro foi escolhido apenas para abrigar a planta-piloto, nada impede que o estudo seja adotado também em outros bairros do Estado do Rio de Janeiro, afinal, é isso que queremos”, diz Valle.
O biodiesel é um combustível renovável que vem sendo bastante utilizado em detrimento de combustíveis oriundos do petróleo. Inclusive, existem leis que preveem maior utilização do biodiesel nos combustíveis de automóveis. Até 2013, a composição química do combustível deve ter até 5% de biodiesel, o que mostra, segundo o professor, grande avanço da utilização de energias renováveis.
Além do benefício ambiental, Rogério aponta também o benefício econômico, a partir da criação de oportunidades profissionais. “Prevemos que possam ser criados, pelo menos, quatro empregos diretos na operação da planta-piloto, mas o numero mais significativo é da oferta de empregos das cooperativas: por volta de 20 pessoas em cada empresa”. Com a criação de postos de trabalho, há esperança de que o projeto se concretize em outros bairros do Rio de Janeiro, e represente um grande avanço para a preservação do meio ambiente.