Edição 321 23 de novembro de 2010
Ilustração: João Rezende |
Muitas são as batalhas travadas no cotidiano e, a cada dia, diferentes personagens rivalizam entre si. Neste cenário, dois novos protagonistas entram em ação: O Jornal Impresso e a Internet. O jornal que, desde sua criação, possui lugar cativo nos lares vem, aos poucos, perdendo espaço. A maioria das pessoas atribui essa mudança de hábito ao surgimento da internet. A dinamicidade e a rapidez da rede seriam, então, responsáveis pela queda do impresso.
Alguns especialistas revelam que os jornais podem estar assumindo um papel reflexivo, ou seja, as matérias publicadas passaram apenas a analisar e repercutir o fato que antes já foi noticiado em outras mídias. Os impressos teriam perdido seu posto de fonte primária de informação. Para o professor da Escola de Comunicação da UFRJ, Eduardo Refkalefsky, “mesmo o jornal mais aprofundado deve, com o tempo, ser substituído pela internet, na medida em que os aparelhos menores, mais leves e baratos forem inundando o mercado”.
Com o objetivo de se adaptar ao novo modelo, os jornais passaram a adotar uma linguagem mais sintética se distanciando um pouco das grandes reportagens e tentando se aproximar, cada vez mais, do formato digital.
No entanto, essa aproximação vem sendo criticada por muitos. Levanta-se a hipótese de que a linguagem da internet possa promover uma espécie de “superficialidade do conhecimento”. Os textos curtos e sem profundidade levariam os leitores a restringirem a expansão de seus conhecimentos. Hipótese da qual Refkalefsky discorda: “Há mais de 100 anos já falavam isso do telégrafo (chamada de "internet vitoriana", pois foi o primeiro meio de comunicação on line). O telégrafo também foi uma das causas para a criação das técnicas de redação jornalísticas, no início do século XX, que trouxeram objetividade e concisão. A internet, seja com o computador ou com os gadjets, trouxe uma novidade: os links, mesmo um texto curto pode se abrir para um maior e mais profundo. Isso, por exemplo, o telégrafo não fazia.”
A alternativa
A concorrência das mídias digitais fez com que os jornais buscassem uma alternativa para tentar minimizar a crise. Alguns veículos adotaram um formato Berliner, no qual a página possui uma medida entre o convencional Broadsheet e o compacto Tabloide. No Brasil, essa foi a opção escolhida recentemente pelo jornal Diário de São Paulo, que reduziu o número de editorias, passando a contar apenas com três macro-editorias (“Dia a Dia”, “Viva” e “Esportes”), e modificou o formato de suas páginas (modelo Berliner). O Jornal carioca O Dia, que já possuía o modelo Berliner, elaborou recentemente uma reforma que diversificou o quadro de colunistas, ampliou o espaço destinado ao leitor e aumentou o número de colaboradores nos artigos.Já o tradicional Jornal do Brasil aderiu a uma alternativa mais ousada: eliminou sua versão impressa e hoje conta apenas com a edição digital.
Na opinião de Eduardo Refkalefsky, os jornais ainda possuem como diferenciais sua fácil portabilidade e a credibilidade que, ainda hoje, é concedida a qualquer papel impresso por possuírem o status de documentação. Refkalefsky ressalta, no entanto, que os jornalistas continuarão produzindo conteúdo adaptados às diferentes formas. “A tendência é uma maior convergência entre os meios, tanto em termos de mercado quanto das técnicas e ferramentas de produção”, afirmou o professor.