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Edição 188      18 de dezembro de 2007


Entrelinhas

Economia política do governo Lula

Stéphanie Garcia Pires

capa do livro

A idéia nasceu junto com o primeiro mandato do presidente Lula, em 2003. Reinaldo Gonçalves, professor no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), e Luiz Filgueiras, docente na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade  Federal da Bahia (FCE/UFBA), perceberam a necessidade de preparar uma análise crítica do atual chefe do Poder Executivo. Entre várias hipóteses, apostavam que não haveria mudanças significativas nas estratégias e na política do antigo líder sindicalista que conquistara a presidência. Em 2005, oficializaram a parceria, definiram os fundamentos conceituais básicos e começaram o projeto do livro Economia política do governo Lula, lançado recentemente pela editora Contraponto. Procurado pela equipe do Olhar Virtual, Reinaldo Gonçalves cedeu alguns detalhes a respeito da trajetória na qual explicitou um diagnóstico a respeito do atual contexto político-econômico brasileiro.

Olhar Virtual: Este trabalho tem raízes em outras pesquisas anteriores realizadas pelo senhor e por Luiz Filgueiras?

Reinaldo: Em 2000, Luiz escreveu A história do Plano Real, revisado em 2003. Considero este livro a melhor avaliação da economia brasileira no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) enquanto presidente. Há quatro anos atrás, em A herança e a ruptura, eu também desenvolvi um balanço crítico dos mandatos de FHC. Nossa obra Economia política do governo Lulapode ser considerada uma continuação destes dois primeiros trabalhos, com os aperfeiçoamentos teóricos, conceituais e empíricos necessários. Prosseguimos, em parceria, com nossos esforços de avaliação das estratégias e das políticas econômicas no Brasil.

Olhar Virtual: Na sinopse do livro, diz-se deste período no qual Lula é o presidente do Brasil que “nunca antes neste país houve tanta mistificação”. Como o senhor explicaria isso?

Reinaldo: Esta mistificação única na história brasileira decorre da tentativa de vender “fracassos” como “sucessos”. Isso pode ser explicado por vários fatores, e fica evidente nas áreas de políticas econômicas e sociais. O primeiro é a hipocrisia e o cinismo que atingem os grupos dirigentes brasileiros. O segundo é a pusilanimidade de analistas que, de uma forma ou de outra, sentem-se comprometidos com o governo. O terceiro é a "saia justa” de analistas conservadores que se encontram constrangidos, visto que Lula está implementando as mesmas estratégias e políticas de Fernando Henrique Cardoso. Por fim, há aqueles que estão contaminados pelo imperativo psicológico de que o “Brasil tem que dar certo” depois de quase três décadas de instabilidade e crise. O que procuramos fazer com nosso trabalho científico é trazer uma visão realista para a agenda de debates.

Olhar Virtual: Há uma declaração sua de que “o governo Lula é uma tragédia moral, política, institucional, social e econômica”. Esse é um dos argumentos usados em seu livro?

Reinaldo: Fiz esta declaração na Câmara de Deputados em Brasília, no ano de 2006. Lá, eu me concentrei em demonstrar a questão da tragédia econômica a partir desta minha tese. O livro Economia política do governo Lula traz a fundamentação teórica e empírica que fortalece minha afirmação. Eu e Luiz temos 116 tabelas, gráficos e quadros que dão suporte aos argumentos analisados no livro. E nossa conclusão é essa: o governo Lula falhou.

Olhar Virtual: Um dos pontos abordados é o desempenho em perspectiva histórica do atual presidente. Qual o resultado dessa análise?

Reinaldo: Lula é o quarto pior presidente do período republicano em termos de desempenho da economia brasileira. Além dele, as maiores mediocridades históricas são Collor, Sarney e FHC (segundo mandato). Para chegar a este resultado, trabalhamos com o Índice de Desempenho Presidencial, que abarca seis variáveis macroeconômicas convencionais: crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), inflação, índices de vulnerabilidade externa, crescimento do país em relação a outras nações e a outros governos presidenciais, fragilidade financeira e formação bruta de capital fixo.

Olhar Virtual: Há uma intenção didática neste livro? Qual o público que o senhor e Luiz selecionaram como alvo?

Reinaldo: A questão didática é muito importante, pois o livro não está orientado somente para economistas, estudantes de Economia ou técnicos em áreas afins. Pretendemos atingir um público leigo, ou seja, pessoas interessadas no melhor entendimento da realidade brasileira. Só não nos interessa dialogar com os conservadores doutrinários, os companheiros-cúmplices de Lula e os canalhocratas (aqueles que defendem todo e qualquer governo).

Olhar Virtual: Qual é a principal mensagem de vocês com esse livro?

Reinaldo: Nossa busca foi por desenvolver um trabalho científico que apresenta uma radiografia da realidade brasileira atual, seu diagnóstico, com objetividade na crítica desta trajetória medíocre. No mínimo, o livro fica como um registro que vai a contra a corrente, contra a “sabedoria convencional” repleta de mitos. Nossa principal mensagem é a seguinte: quem apóia o governo argumenta que as políticas econômicas de Lula são diferentes e que os resultados, em relação aos obtidos por FHC, são melhores. A oposição argumenta que as políticas de Lula são idênticas às de FHC e que os resultados deste último são melhores. Nosso argumento é outro! As estratégias e as políticas de Lula e FHC são idênticas na sua essência e os resultados de ambos os governos são medíocres. Os dois são muito ruins. Confrontar Lula com FHC é como comparar a Gol com a TAM. Difícil saber qual é o pior.

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