Edição 339 24 de maio de 2011
Foi lançado oficialmente, na última sexta-feira (20), o site sobre informação na área da violência hospedado no Portal da Saúde do Rio de Janeiro (http://www.saude.rj.gov.br/). O lançamento aconteceu durante o 2º Encontro “Políticas Públicas e a construção de redes de atenção às pessoas em situação de violência doméstica e sexual”, organizado por Ludmila Fontinele, professora da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, no Hotel Atlântico, em Copacabana.
Com o objetivo de apoiar a construção de uma rede intersetorial de estudo, o site contém informações sobre atenção à violência, além de reunir os principais serviços que atuam na área. A ideia é fomentar cada vez mais políticas públicas voltadas à erradicação da agressão doméstica e sexual. Hoje, estima-se que, a cada ano, 2,1 milhões de mulheres sejam vítimas de namorados, maridos e companheiros violentos, ou seja, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. “Fragilizadas, se submetem a violências de todo o tipo do homem, deixando mesmo de acreditarem que são seres humanos”, pontua Ludmila.
Durante o evento, foram apresentados os resultados parciais do mapeamento de atenção às vítimas de violência, projeto fruto de uma parceria entre a UFRJ e a Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil. Desde 2008, profissionais ligados à ESS, a pedido do Ministério da Saúde, enviam questionários a municípios do Rio para verificar a qualidade do atendimento às vítimas de violência nos diferentes órgãos públicos de saúde. Cinquenta e dois municípios já participaram da iniciativa, ainda em curso.
Entre as informações apuradas pela equipe até o momento, está a de que a maioria dos profissionais que lidam com vítimas de violência — médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos — não frequentou cursos específicos para esse atendimento, mas, sim, capacitações. “Percebemos também que muitos municípios dizem praticar o acolhimento dessas mulheres, mas o que eles entendem como acolher é receber com sigilo, em sala destacada. Precisamos de um acolhimento que envolva escuta qualificada, onde se procure atender às expectativas da paciente para o serviço”, pontua Ludmila.
Outra constatação feita pelo mapeamento se refere ao atendimento em casos de gravidez decorrente de violência sexual. Cerca de 5% das mulheres violentadas ficam grávidas por ocasião do estupro, mas apenas o município do Rio de Janeiro encaminha as vítimas para a unidade hospitalar responsável pela interrupção da gravidez. Nas demais localidades pesquisadas, os profissionais de saúde aconselham as grávidas a procurarem o serviço pré-natal, estimulando, assim, a mulher a ter o bebê. “Temos que lembrar que esse é um serviço público garantido pelo Código Penal de 1940. Os serviços de atendimento não podem ter profissionais que se recusem a fazer a interrupção dessa gravidez”, comenta a professora.
O estudo se configura em uma oportunidade também para as secretarias municipais de Saúde enumerarem suas principais reivindicações. Segundo o levantamento até aqui realizado, a maior parte dos municípios reclama não possuir material educativo suficiente. Segundo Ludmila, para suprir essa carência, já estão sendo impressos e serão distribuídos álbuns seriados com informações sobre o atendimento básico a vítimas de violência. Além disso, os municípios assumem que faltam sensibilidade e qualificação profissional a muitos médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais ao lidar com o tema. “Ninguém cuida de quem cuida. Apenas dois municípios possuem serviços de atendimento psicológico aos profissionais de saúde que atendem, pesquisam ou gerem a área da violência. Para ser melhor, esse profissional precisa mais do que mesas e cadeiras, necessita refletir sobre práticas, preconceitos e caminhos”, destaca Ludmila Fontinele.
Um novo encontro será marcado assim que forem apuradas as respostas de todos os municípios ao questionário. A previsão é de que ainda este ano a iniciativa possa ser efetivada.