No Foco

Com novos campos do saber a universidade se revitaliza

Bruno Franco

Seguindo as diretrizes do Plano Diretor UFRJ 2020 de expandir o número de vagas, democratizar o acesso e oferecer aos estudantes uma formação acadêmica mais plural e interdisciplinar, a universidade ofereceu, no concurso de acesso para 2010, os seguintes novos cursos de graduação: Ciências Biológicas; Biotecnologia (no pólo de Xerém); Engenharia Nuclear; Nanotecnologia; Nanotecnologia (Xerém); Defesa e Gestão Estratégica Internacional; Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social; Conservação e Restauração; Licenciatura em Dança;  Teoria da Dança;  Licenciatura em Letras (Português—Literaturas,período noturno); Bacharelado em Música (nas habilitações Bandolim; Regência Coral; Regência de Banda; Regência de Orquestra).

Presente ao seminário “UFRJ e os novos cursos de graduação”, realizado no Instituto de Estudos de Saúde Coletiva (Iesc), no dia 30 de março, a pró-reitora de Graduação (PR-1) Belkis Valdman considera a abertura de novos cursos um forma mais lenta de acompanhar as demandas da sociedade, com sua evolução social e tecnológica. No entanto, a professora destaca que a universidade tem experimentado nítida expansão da oferta de cursos de graduação nos últimos 15 anos, sobretudo nos três anos mais recentes. “Atualmente, temos cerca de 140 cursos, damos à sociedade uma resposta bem diversificada”, acredita Belkis.

Como exemplo da adequação às demandas da sociedade, a pró-reitora citou a criação em 2004 de diversas habilitações em Engenharia: Ambiental; de Materiais; de Petróleo; de Alimentos; de Computação e Informação, e de Controle e Automação. A professora justificou a lentidão do processo, com base na tramitação necessária para que ele seja aprovado em diversas etapas, que incluem discussões nas câmaras de Centro, no Conselho de Ensino de Graduação (CEG) e no Conselho Universitário (Consuni).

Bioética
Para a professora Maria Clara Dias, do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs), há uma demanda premente, tanto na sociedade quanto na academia, pela formação de bioeticistas. Não obstante seja filósofa, a professora critica a visão tradicionalista de que a Ética seja puramente de alçada da filosofia.  Em sua visão, um curso de graduação em Bioética deve ser eminentemente interdisciplinar e deveria seguir o modelo das universidades alemãs, com duas graduações concomitantes, uma em Bioética e outra em um dos cursos de Ciências da Saúde.

Maria Clara Dias vai além e apoia, explicitamente, a dissolução de unidades acadêmicas e departamentos. “A composição estamental aprisiona o conhecimento. Precisamos pedir licença para abordar temas de outra área. A sociedade não quer saber de qual departamento vem o conhecimento que ela requer”, explica.

Saúde Coletiva
Com a proposta de uma abordagem generalista e integradora, foi criado no Instituto de Estudos de Saúde Coletiva (Iesc), em 2009, o curso de graduação em Saúde Coletiva. Surgiu como resposta à demanda por profissionais com visão integrada da área de saúde, tendo como fundamento a interdisciplinaridade e com duração de quatro anos, em período integral.

De acordo, com Márcia Gomide, professora do Iesc, os profissionais de Saúde Coletiva podem atuar em programas sociais, controle de doenças, ações de vigilância epidemiológica e políticas de educação, de modo a garantir a integralidade da assistência em toda a sua complexidade.

Defesa e Gestão Estratégica Internacional

O Brasil é o país do futuro, já dizia o escritor austríaco Stefan Zweig, em frase, que, de tão repetida, se tornou lugar-comum e epígrafe das aspirações ufanistas nunca concretizadas. É para que o Brasil seja realmente o país do futuro que foi proposto o curso de Defesa e Gestão Estratégica Institucional, pois — como acredita seu coordenador, Ronaldo Fiani, — não se encaminha o futuro nacional sem estratégia.

Para Fiani, a estratégia não pode ser posta sob exclusividade militar, deve ser discutida pela sociedade e pela academia. “Mantê-la como privilégio de um segmento é o que gera pressão autoritária. Tratar a defesa como tema exclusivamente da alçada militar é o mesmo que defender que a educação seja preocupação apenas de professores ou que a saúde pública interesse apenas aos médicos”, compara.

Fiani mostrou-se surpreso com as pressões que recebeu de outros professores, preocupados com o caráter inovador da ementa do curso. “Há 30 anos, eu era um calouro extremamente pacato. Hoje coordeno projetos que são tidos por meus colegas docentes como ousados. Isso me levou a uma triste conclusão: é muito fácil ser rebelde na universidade, e que a mesma é muito conservadora”, critica o professor.