No Foco

90 anos de história

Vanessa Sol

Foto: Gabriela d'Araujo

A UFRJ, uma das maiores universidades do país, completa 90 anos em 2010. O aniversário será comemorado no dia 7 de setembro, data oficial de sua criação. Desde o Império, havia o projeto de se construir universidades no país. Porém, apenas no período da República, elas foram criadas, atendendo prioritariamente aos interesses acadêmicos da intelectualidade brasileira e dos professores das faculdades existentes.

Ao longo de sua trajetória — em 1920, era Universidade do Rio de Janeiro; em 1937, Universidade do Brasilomente em 1965, tornou-se  Universidade Federal do Rio de Janeiro e se constituiu como uma das instituições de referência no ensino superio. A característica primeira da universidade, assim que foi criada, era a pesquisa. Hoje, ela está aliada ao ensino e à extensão, formando tripé indissociável através do qual a UFRJ alicerça suas atividades.

No entanto, um traço foi herdado do passado: a fragmentação.  Desde os primórdios de sua concepção, a estrutura da universidade foi marcada por tal característica. Em 1920, quando ainda era Universidade do Rio de Janeiro, sua composição se deu através da justaposição de instituições já existentes: a Escola Politécnica de Engenharia, de 1875, a Faculdade de Medicina, criada em 1808  - descendente direta das cadeiras de anatomia e cirurgia - e da Faculdade de Direito, que era resultado da estatização de duas faculdades privadas.

O ensino superior no Brasil nasce, em 1808, marcado pela junção de escolas profissionais sem ligação entre si. Essa era a política de ensino superior da Revolução Francesa, modelo copiado no Brasil, que marca o ensino superior brasileiro até hoje.

De acordo com o professor da Faculdade de Educação (FE/UFRJ) Luiz Antônio Cunha, esses fatos reforçam a fragmentação da universidade existente ainda hoje e podem ser comprovados, por exemplo, quando alguém pergunta a um professor da instituição onde ele trabalha, na intenção de saber a qual unidade ele pertence. “Professores e alunos, mesmo antes de fazerem parte da universidade, estão marcados como se fosse por ‘ferro quente’ por essa concepção. Eles já entram para um quadro fragmentado objetiva e subjetivamente. Essa fragmentação está na estrutura da instituição e na cabeça deles, ou seja, são educados para a fragmentação”, comenta.

Para muitos pesquisadores, a reforma universitária ocorrida em 1968, durante o endurecimento do regime militar, apesar de ter permitido mais recursos financeiros para a pesquisa, trouxe, em contrapartida, mecanismos que reforçaram a fragmentação dentro das universidades, como a criação de departamentos e centros.

Na opinião de Cunha, o problema da fragmentação na universidade pode percorrer um caminho inverso. Para ele, o fim dos centros - estruturas de níveis intermediários para mediar a relação entre a unidade e administração superior - é um deles. Outra mudança  importante para o fim da fragmentação, na visão do professor, é o diploma ser assinado pelo reitor ou por um delegado deste para reafirmar que o aluno pertence à universidade e não, à unidade.

Democratização

Atualmente, a universidade, aliada à atual política de governo, vem trabalhando para democratizar o acesso ao ensino superior através, dentre outras medidas, da ampliação da oferta de cursos, do número de vagas, da criação de cursos noturnos. Cunha relembra que na década de 1920, quando a UFRJ foi criada, o acesso ao ensino superior já eraum desafio a ser enfrentado Embora houvesse, nessa época, uma pequena expansão das universidades, sobretudo, privadas, conquistar uma vaga em uma instituição pública era para poucos. Havia uma concepção errada de que existiam muitos alunos, quando, no entanto, eram poucos. Em função dessa perspectiva, foram criadas medidas restritivas ao acesso ao ensino superior, entre elas a criação do vestibular, a limitação do número de vagas de cada curso e a conclusão do ensino secundário seriado. “Através dessas medidas, queria-se manter a raridade do diploma para conservar o seu alto valor econômico e simbólico. O diploma era entendido como um distintivo e ainda hoje continua sendo”, enfatiza.

Desafio

Para o professor, há uma incongruência entre a capacidade na produção e difusão de ciência, cultura e tecnologia e o entrave organizacional, resultado do acúmulo de limitações que persistem na estrutura da universidade até hoje. Cunha afirma que o grande desafio da UFRJ é alcançar essa sintonia. Ele ainda destaca que é “um grande perigo para a UFRJ, nos 90 anos, preferir celebrar-se a conhecer suas virtualidades e potencialidades”.