Em 8 de outubro de 1967, Ernesto Guevara de La Serna, o homem que passou para a história como Che Guevara, foi capturado pelo exército boliviano no vale de Quebrada del Yuro, depois de um ano de luta pela implantação do Socialismo na região. No dia seguinte, o presidente norte-americano Lyndon Johnson recebia a informação da morte de um dos principais opositores do sistema capitalista. Che havia sido executado com um tiro no peito pelo sargento Jaime Terán.
Quarenta anos depois, não foram poucos os veículos de comunicação que se esforçaram para relembrar a execução do líder guerrilheiro. As primeiras semanas de outubro de 2007 assistiram a uma saraivada de matérias dos mais variado s matizes ideológic os sobre o quadragésimo aniversário de morte de Che Guevara. Enquanto algumas reportagens enalteceram o lado heróico do argentino, outras trabalharam no sentido de desconstruir o mito que Guevara se transformou ao longo das últimas décadas.
Jessie Jane, diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) e professora de História da América Latina, acredita ser importante revisitar a morte do revolucionário. Mas, para ela, a cobertura midiática tendeu ao maniqueísmo.
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Como Che virou um objeto de consumo, ele vende e, portanto, a mídia não pode deixar de falar sobre ele. Só que a grande mídia acaba veiculando matérias relacionadas a um Che esvaziado de sentido político. Por isso, ele é retratado como herói assassinado ou vilão. As duas abordagens despolitizam a figura. A mídia nunca o localiza como parte de um processo histórico ainda em construção. As duas versões, tanto a boa como a má, matam o Che real, aquele relacionado ao projeto do socialismo –, afirma.
A pesquisadora enumera a existência de três diferentes versões de Guevara: a primeira delas é a do jovem romantizado, assemelhado, inclusive, com a figura de Jesus Cristo. A segunda se refere ao Che apropriado e disseminado pelas narrativas cinematográficas. O último Che é quem participou dos movimentos revolucionários da década de 1960:
– A intenção de algumas reportagens é ir contra ao terceiro Che, que é o mais próximo do desejo de mudanças nas sociedades. Muitas matérias tentam desconstruir a mensagem política e de transformação carregada por esse Che. No fundo, elas expressam a defesa do n eoliberalismo e o desejo de manutenção do capitalismo –, explica Jessie Jane.
A mudança de foco
Durante muito tempo, afirma a pesquisadora, algumas revistas propagaram a idéia de Che Guevara como uma figura romântica, idealista e antagônica a Fidel Castro. Ao opor os dois líderes, setores da imprensa pretendiam vilanizar o atual presidente cubano. Nos últimos anos, no entanto, esses veículos mudaram sua abordagem, aproximando a imagem de Che à de um assassino cruel e frio.
Para Jessie Jane, a mudança de foco de parte da cobertura midiática sobre o líder latino-americano reflete a preocupação de forças conservadoras com a nova conjuntura política da América Latina, em especial de países como Brasil, Bolívia e Venezuela: “Houve um recrudescimento dos movimentos sociais, e se tornou interessante para certos segmentos esvaziar politicamente a figura do Che, principalmente perante os jovens, grupo junto ao qual o líder tem muito apelo”, observa a professora, completanto que o objetivo de tais veículos dificilmente será alcançado, visto que é grande o número de jovens que associa Guevara à “generosidade dos projetos socialistas”.