A Faculdade de Educação da UFRJ (FE), nascida no emblemático ano de 1968, completa 40 anos. Diante dos desafios da formação de professores no contexto educacional brasileiro, a FE possui uma história de auto-avaliação e renovação no decorrer das suas quatro décadas de existência e ainda conta com uma vitoriosa parceria com cerca de 25 outros cursos da Universidade. Vale ressaltar também o novo trabalho promovido pela FE de formação continuada, voltado a capacitar e atualizar professores das redes municipais e estaduais do Rio de Janeiro. O Olhar Virtual conversou com Ana Maria Monteiro, diretora da Faculdade de Educação, para resgatar um pouco da história da instituição e entender melhor como funciona o programa de reciclagem de professores.
Olhar Virtual: Neste aniversário, quais as perspectivas e desafios na formação de educadores no contexto do ensino atual?
A Faculdade foi criada em 11 de julho de 1968, já completou seus 40 anos. Ela está como sempre esteve: cumprindo sua principal atividade e enfrentando o grande desafio da formação inicial de professores. Ao longo desses 40 anos muitas mudanças ocorreram – como lidar, por exemplo, com as demandas novas em relação à formação e à educação de jovens e crianças. A FE possui o curso de pedagogia, de nossa integral responsabilidade, que originalmente formava professores para serem diretores, administradores, orientadores educacionais e professores que trabalhassem com disciplinas pedagógicas nas Escolas Normais. Em 1992, houve uma mudança no currículo, uma mudança bastante radical, que se deu num contexto mais amplo de discussão da formação dos cursos de pedagogia. A FE e seu curso de pedagogia, então, passam a formar professores que trabalham nas séries iniciais – na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental – e também manteve o curso que forma o professor do Ensino Normal. O curso para se tornar administrador passou a ser, então, uma pós-graduação lato sensu.
Houve um investimento muito grande no sentido de atualizar a formação oferecida em relação às demandas da sociedade, porque uma das críticas sempre recorrentes à formação de professores é de ser extensiva e distanciada de uma prática – que quando o professor vai efetivamente assumir seu trabalho, ele encontra uma realidade que não é bem aquela de sua formação. O movimento dentro da Faculdade, então, tem sido esse – de procurar atualizar e rediscutir as suas disciplinas e o estágio para dar conta da formação de professores e dos desafios crescentes.
Temos, assim, essas duas frentes de desafios e temos também nosso Programa de Pós-graduação que existe desde 1972. É um dos cursos mais antigos em Pós-graduação em Educação no Brasil. Temos mais de mil dissertações e teses. Já passaram por aqui inúmeros professores e pesquisadores que atuam hoje no Brasil. É um Programa que devido à uma crise interna muito profunda, vivida pela FE entre 2000 e 2003, em razão de uma direção muito inábil e autoritária nas condições de trabalho, repercutiu negativamente e a avaliação desse programa caiu. Atualmente esse é outro desafio – melhorar a avaliação da pós.
Olhar Virtual: Há na Faculdade de Educação da UFRJ algum programa de reciclagem de profissionais da área, visando capacitá-los e a atualizá-los? Como esse curso é articulado? Como surgiu a idéia do curso?
O Curso de Especialização Saberes e Práticas na Educação Básica (CESPEB), que será ministrado pela FE, possui a preocupação com a formação continuada. Estamos com inscrições abertas – até dia 8 de agosto – para o primeiro curso de especialização lato sensu em que o foco são professores em escolas da rede pública do Estado do Rio de Janeiro. Ele é um curso oferecido em parceria com o CFCH, o Colégio de Aplicação e atende a várias disciplinas. Iniciaremos os cursos de Políticas Públicas em Educação, História, Educação Física escolar e Alfabetização e Letramento. A idéia é abrir ano que vem cursos para Língua Portuguesa, Sociologia e Geografia.
O curso que possuíamos de Alfabetização e Leitura está agora fazendo parte dessa proposta mais ampla. São cursos de 470 horas, gratuitos, com turmas pequenas – previsão de 30 vagas e o de Políticas Públicas é de 50 – porque apesar de sabermos da pressão enorme por números bastante significativos, entendemos que trabalhar com formação de professores demanda um trabalho próximo, de acompanhamento, de discussão das experiências de sala de aula. Estamos, assim, apostando em um trabalho eminente, com uma marca mais qualitativa do que quantitativa. É uma primeira experiência e ao final vamos avaliar e verificar.
A divulgação desses cursos de formação continuada tem sido feita no site da FE (www.educacao.ufrj.br). Fizemos também folders e distribuímos entre os professores que recebem nossos alunos para realizar estágio nas escolas estaduais e municipais e eles estão vindo à faculdade para fazer as inscrições.
A nossa idéia era de estabelecer uma rede e conseguir que esses professores que recebem nossos alunos estejam conosco fazendo esse curso para que eles estejam afinados, sabendo a maneira como abordamos as questões que são tratadas no estágio, as questões relacionadas à didática dessas diferentes disciplinas e promovendo esse triângulo: aluno, professor formador na prática de ensino e o formador que está na escola.
Além disso, desde o ano 2000, o Ministério da Educação fez uma demanda de dois editais voltados para a formação continuada de professores da área das ciências da natureza, principalmente Física, Química e Matemática. Nós participamos com as equipes do CCMN, mas esses editais duraram um ano e acabaram. Em função dessas três demandas foi criado o programa de educação continuada: os professores que recebem os estagiários, o nosso próprio projeto de formação e essa participação nesses dois editais que nos fizeram pensar nessa construção.
Ele é um curso interessante porque tem seis módulos e o segundo trata de questões mais gerais da sociedade brasileira hoje – como a violência, o estatuto da criança e do adolescente, o jovem hoje – e nós convidamos professores da Sociologia, da Antropologia, da Comunicação e do Serviço Social, por exemplo, para participar conosco desse módulo para justamente aproveitar professores e suas pesquisas a fim de trazê-los junto aos colegas para discutir as questões. É uma Universidade pública e há todo um conhecimento produzido aqui e que precisa ser divulgado, compartilhado além das atividades de Extensão, de uma maneira geral, que já têm esse fim, entendemos que é uma tarefa fundamental, que devemos levar a pesquisa e seus resultados, promovendo essa troca. Sem dúvida é uma das missões da FE, não só atender nossos alunos, na formação inicial, mas também atender essa demanda que vem da sociedade.
Olhar Virtual: Qual a importância da articulação da FE com os demais cursos da Universidade?
Além do curso de Pedagogia, oferecemos também o curso de formação pedagógica das licenciaturas. A UFRJ tem 25 cursos de licenciatura dos quais nós somos parceiros. Essa parceria ocorre desde que a FE foi criada em 1968. Nós oferecemos sete disciplinas teóricas e a prática de ensino que acompanha o estágio de cursos do CCMN (licenciatura em Geografia, Matemática, Física e Química), do CCS (Biologia e Enfermagem), do IFCS (História, Filosofia e Ciências Sociais) e de todos os cursos de Letras – que são doze.
Temos desenvolvido um esforço no sentido de atender melhor essa demanda – porque originalmente os alunos iam à FE na Praia Vermelha para cursar disciplinas da formação pedagógica. Nosso movimento, a partir de 2000, foi de diversificar nossa oferta de turmas para atender os alunos nas unidades onde se localiza seu curso de origem. Isso tem exigido um esforço grande de nossa parte e é a outra frente de nossa atuação.
Agora, com todas essas reformas e essa demanda de cursos novos, ampliação de vagas, os cursos de licenciatura, também por uma demanda do Governo Federal, do Ministério da Educação, precisou rever os seus currículos e nós participamos com as coordenações desses cursos no sentido de reorganizar os currículos, de estar junto nessa expansão. Por exemplo, agora Macaé terá licenciatura em Biologia e em Química, a FE, então, vai precisará estar também lá, oferecendo essas disciplinas em Macaé e em outras unidades que façam parte dessa expansão.
Olhar Virtual: Fazendo um retrospectivo dos 40 anos da história da Faculdade de Educação: o saldo de conquistas foi positivo? Qual a importância da FE para a sociedade brasileira ao longo das 4 décadas?
Nesses 40 anos, nós tivemos altos e baixos mas, acho que, fazendo um balanço geral, a faculdade contribuiu muito com a sociedade, formou milhares de professores que atuam e já atuaram nas redes públicas do Rio de janeiro. Nós temos a formação em Pós-graduação com cerca de mil dissertações, 170 teses de doutorado, quer dizer, nós participamos da formação de toda uma geração, de várias gerações de pesquisadores que estão atualmente em outras Universidades. E a FE teve a qualidade e característica de se avaliar e de mudar. A Faculdade de Educação hoje não é a mesma Faculdade de 40 anos atrás. Ela se renovou, avaliou-se. Temos procurado enfrentar os desafios e as demandas. Acho que a contribuição oferecida é nesse sentido, de pensar a educação, pesquisar a educação, e sempre nos dispondo a sentar com os colegas da UFRJ para pensar alternativas para melhorar essa formação.
Olhar Virtual: O sistema educacional brasileiro passa atualmente por alguns percalços. Qual a mensagem que você, diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, gostaria de deixar às pessoas que pensam em se tornar um professor?
Eu sou historiadora, trabalho com educação, mas minha formação é a história. E a História me ensinou a entender que as sociedades mudam. Então, sempre digo que esse momento difícil, que já se prolonga há algum tempo, é conjuntural, que ele vai mudar. Não é um destino que pesa sobre nós. Essa perspectiva das condições de trabalho dos professores pode e vai melhorar. No momento elas não são as ideais – os salários são baixos e as condições de trabalho algumas vezes também não ideais – mas acho que é uma profissão absolutamente fundamental na nossa sociedade. Com todo o avanço da mídia e da internet, os professores são fundamentais para poderem, não mais trazer informação, pois ela está no mundo, mas sim discuti-las, analisá-las, refletir criticamente sobre o que chega, ajudar a articular e principalmente auxiliar no âmbito da reflexão crítica. É uma profissão muito gratificante. É muito bom trabalhar com conhecimento e com gente.