Manchas são consideravelmente indesejáveis, ainda mais quando se instalam em roupas – que o digam os universitários que já passaram por um trote um pouco mais colorido. Às vezes, por mais que o dono de uma peça danificada a lave, a mancha permanece firme e forte onde está. Mas isso pode mudar. Marciela Scarpellini, pesquisadora e professora adjunta do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da UFRJ, participa de uma equipe que pesquisa novos catalisadores a serem acrescentados à formulação dos detergentes para retirar manchas. Um catalisador é uma substância que atua em uma reação ou processo químico, alterando sua velocidade. No caso da pesquisa de Scarpellini, o objetivo é usar esse complemento de modo a aumentar o poder de limpeza e branqueamento dos detergentes e, ao mesmo tempo, diminuir a quantidade de detritos despejados no meio ambiente.
A idéia do tema, segundo ela, veio de um projeto desenvolvido por seu supervisor de pós-doutorado, professor Vincent L. Pecoraro, da University of Michigan, nos Estados Unidos. Uma multinacional havia requisitado de Pecoraro uma pesquisa nesta mesma área; contudo, os segredos industriais impediram que a professora tivesse acesso ao projeto que está sendo desenvolvido. Ademais, foi necessário um ano de negociações para que se iniciasse o estudo e, nesse meio tempo, ela já havia voltado ao Brasil.
Em entrevista ao Olhar Virtual, a pesquisadora fez questão de frisar que a equipe não busca alterar a formulação geral desses produtos, mas sim potencializar sua ação. Ela acrescentou que o grupo não está desenvolvendo uma nova mercadoria e, portanto, não há plano de inserção do resultado da pesquisa no mercado.
− Estamos trabalhando com pesquisa básica para desenvolvimento de catalisadores que possam vir a ser usados nas formulações já existentes, caso alguma empresa de detergentes se interesse e caso tenhamos bons resultados. O que deve ficar claro é que estamos procurando entender quais os fatores que afetam o poder catalítico dos compostos que estamos sintetizando – esclareceu Scarpellini.
É importante ressaltar que ainda é cedo para falar em conclusões, dado o pouco tempo de existência do projeto. Já há novos compostos, mas suas atividades não puderam ser testadas, pois os equipamentos adequados para tal ainda não chegaram ao laboratório no qual a pesquisa está sendo desenvolvida.
Questão ambiental
A opinião pública, devido ao apelo do aquecimento global, parece estar começando a prestar mais atenção na natureza e nos efeitos que o estilo de vida ambientalmente predatório tem acarretado para esta geração e para as que ainda virão. Assim sendo, cabe questionar como ficam os tira-manchas nesse cenário. Será que é possível que um produto de limpeza seja eficiente e não agrida o meio ambiente? Marciela acha que sim, mas pondera a necessidade de pesquisas aprofundadas a fim de se alcançar um equilíbrio entre eficiência de processos e agressão aos diferentes ecossistemas. Ela informou que o desenvolvimento de novas tecnologias pode exigir modificações industriais de produção que tornam o produto final pouco acessível ou até mesmo proibitivo a uma parcela da população. Assim sendo, ainda há muito que se estudar nesse campo, tendo-se em mente que os produtos de limpeza de forma geral deverão atentar não só para a questão da sustentabilidade, mas também para seu custo efetivo e eficácia.