Em um contexto no qual jornal e livro em papel estão sendo postos em xeque, Letra impressa: Comunicação, cultura e sociedade reúne ensaios de diversos autores brasileiros e estrangeiros analisando a história e função sociocultural da palavra impressa. O livro é dividido em duas partes principais. A primeira aborda a letra impressa de um ponto de vista histórico e recebe o subtítulo “História, comunicação e impresso”. A segunda parte do livro trata da subjetividade de um ponto de vista mais filosófico, antropológico, literário e até político. Essa parte recebe o nome de “Impresso, cultura e subjetividade”. Ao todo, o livro reúne 13 ensaios. Os textos foram organizados pelo professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Márcio Souza Gonçalves e pelo professor da Escola de Comunicação da UFRJ Eduardo Granja Coutinho, que concedeu entrevista sobre o livro que ajudou a organizar:
Como surgiu a ideia de organizar o livro?
Coutinho: Eu venho trabalhando com história da imprensa há um tempo. Eu escrevi Os cronistas de Momo: imprensa e carnaval na Primeira República e, a partir daí, comecei a escrever alguns artigos sobre o jornalismo no Brasil, sobretudo o contra-hegemônico. Então, eu encontrei o Márcio Souza Gonçalves, professor da Uerj, que tem um trabalho sobre a história do livro. Aí decidimos fazer um livro sobre a letra impressa, envolvendo livros, jornais, cartazes, enfim, sobre a cultura do impresso. Daí convidamos referências na área, incluindo quatro autores estrangeiros. Um deles é considerado um dos grandes historiadores da área da cultura, Roger Chartier.
Qual você acha que será o futuro do impresso e como o assunto é abordado no livro?
Essa questão é recorrente no livro. Cada autor tem sua resposta. Essa não é uma questão que eu tematize, mas eu acho que a cultura do impresso vai permanecer, por mais que o meio digital seja o dominante. Afinal, a cultura manuscrita permanece até hoje. Uma das outras questões abordadas no livro dá conta dos impactos dessa nova tecnologia na cultura contemporânea. Novamente, cada autor tem sua resposta e essas respostas se articulam e dialogam entre si. Essa é a riqueza do livro.
Como a profissão de jornalista pode ser afetada com um possível fim do impresso?
Essa profissão está em constante transformação. A passagem da máquina de escrever para o computador é um exemplo. Acho que as escolas de comunicação devem estar preparadas para acompanhar as mudanças, preparando seus alunos para conviver com as novas tecnologias. Elas devem ser capazes de prepará-los não apenas do ponto de vista tecnológico, para dominar novas mídias e linguagens, mas também de um ponto de vista cultural. A cultura está em transformação também, não é só o meio. O papel do comunicador é colocar a sociedade em comunicação consigo mesmo. A questão tem uma dimensão política evidente. Durante muito tempo, o impresso assumiu esse caráter político. A cultura burguesa é a cultura do impresso e esse era um dos papéis do jornal. Até o surgimento dos rádios, havia um equilíbrio das forças ideológicas por meio da comunicação impressa. Com o rádio, houve um desequilíbrio enorme. Com a televisão, isso aconteceu mais ainda. Mas a história dá voltas. Agora, a digitalização coloca no campo cultural uma nova forma de comunicação, que pode ser hegemonizada, mas pode também alterar novamente a correlação de forças. Surge aí novamente um espaço de luta cultural. Um impresso foi um meio de luta pela cultura.
Qual é o público que mais se interessará pelo livro?
Esse livro vai interessar a historiadores de um modo geral, mas particularmente os de imprensa, estudiosos de comunicação e de literatura. Os estudiosos de ciências humanas de um modo geral se interessarão.