Ilustração: Caio Monteiro |
O “Super Notícia”, de Belo Horizonte, e o “Extra”, do Rio de Janeiro, são os jornais mais vendidos em bancas no Brasil, segundo dados do relatório de Março do Instituto Verificador de Circulação (IVC). A notícia mostra uma queda na venda tradicional de periódicos como a “Folha de S. Paulo” e “O Globo”. O relatório aponta ainda que, das dez publicações mais vendidas do país, seis são populares.
Segundo Gabriel Collares, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, esses jornais, na verdade, não podem ser definidos como populares, mas sim como popularescos. “Os jornais populares deveriam tratar de assuntos do cotidiano e que vão interessar às classes populares, por exemplo, com uma forte editoria em Cidade, Serviços e Utilidade Pública”, analisa. Segundo Collares, os jornais popularescos, no entanto, abusam da extrapolação e do sensacionalismo, além de terem uma credibilidade discutível.
A influência e circulação destes jornais é ainda maior quando se analisa a quantidade de leitores por exemplar, afirma o professor. “Sabe-se que os jornais popularescos são lidos por quatro a cinco pessoas cada exemplar, em média, enquanto que os jornais tradicionais são lidos por, no máximo, duas pessoas. Então, se você for projetar isso, o Extra, que tem tiragem média de 300 mil, pode ser lido por até 1,5 milhão de pessoas”, comenta.
A explicação para o fenômeno ainda é uma incógnita. “Pode ser econômica, já que hoje em dia o poder aquisitivo das classes C e D aumentou muito, ou também, a uma estratégia de marketing. Não se sabe”, sugere Collares. Mas a mudança no perfil mercadológico dos chamados “quality papers”, segundo o professor, é uma realidade. “Não houve uma migração dos leitores dos jornais tradicionais para os popularescos. O que ocorreu é que os leitores desses jornais encontraram novas mídias para se informar, como a TV fechada e a internet, por exemplo”, explica.
Novo significado
Encontrar um novo significado para os jornais impressos é o desafio dos periódicos “tradicionais”, na busca por uma nova gama de leitores, acredita Collares. “A internet é rápida e dá o ‘furo’, mas também é muito superficial. O jornal impresso poderia entrar aí, apresentando reportagens mais aprofundadas, mais bem elaboradas, perfis, entrevistas etc.”, opina.
Para o docente, os jornais populares devem prezar a credibilidade, o serviço aos leitores e não o sensacionalismo. “Mas isso vêm como uma mudança em toda a sociedade, sejam os profissionais de jornalismo, as grandes empresas de comunicação e uma população mais participativa, ativa e crítica em relação ao conteúdo do jornal”, analisa. Na opinião dele, o importante é uma diversidade de opiniões e informação, mas cada veículo deve deixar clara a própria identidade. “Sem a suposta neutralidade, que não existe”, conclui.