Quando você troca o celular por um modelo mais moderno, ou o computador por uma versão mais potente, você imagina que os aparelhos antigos irão contribuir para contaminação do meio ambiente e dos seres vivos?
Ao ritmo crescente de produção de tecnologias se alia a nova lógica de consumo, ela torna os produtos obsoletos em um espaço de tempo cada vez menor e gera um descarte crescente de lixo tecnológico – o chamado Classe I – proveniente, por exemplo, de pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos como celulares, computadores e televisões.
A grande questão hoje é saber o que fazer com estes os resíduos, visto que continuam tóxicos mesmo após vencida a validade do produto, oferecem risco de contaminação da terra e dos lençóis freáticos.
Lixo tecnológico
O lixo proveniente de produtos tecnológicos não tem um sistema de tratamento fácil, ao contrário dos resíduos considerados comuns – latas, cobre, alumínio, vidro, plásticos. A dificuldade é devida à constituição desses produtos, uma combinação de vários elementos químicos, inclusive metais pesados.
“A existência de elementos com características químicas diferentes torna o processo de separação, reciclagem e recuperação do material uma tarefa penosa e virtualmente ainda não atingida em termos de sucesso ou viabilidade econômica”, explica Julio Carlos Afonso, professor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IQ/UFRJ).
Sem a possibilidade de reutilização pela reciclagem, os resíduos de Classe I devem ser confinados em locais apropriados para lixos perigosos. No entanto, a legislação ambiental nacional ainda não possui normas a este respeito.
No Brasil, somente pilhas e baterias possuem destinação estabelecida e podem ser descartadas em aterros sanitários licenciados, desde que os teores dos metais cádmio, chumbo e mercúrio estejam abaixo dos níveis determinados pela Resolução 257/99 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
No entanto, não bastasse apenas 10% dos municípios do país possuírem aterros sanitários, a presença de lixo tecnológico nesses reservatórios não é apropriada, já que eles não são concebidos para materiais inflamáveis, tóxicos e explosivos. A destinação adequada dos produtos tecnológicos deveria ser um depósito industrial de resíduos.
De acordo com Julio, porém, quase não existem aterros industriais no país devido não apenas à falta de iniciativa pública, como também à especificidade de áreas próprias para este fim: “os aterros industriais não podem ficar perto de zonas agricultáveis, mananciais de água. Precisam de terreno plano, preferencialmente de natureza argilosa. Por isso existem poucos locais no Brasil”.
Responsabilidade ambiental e social
Um destino para o computador descartado pode ser a doação para programas sociais, que aproveitam seus dispositivos (mesmo desviado de seu uso original) e promovem a informatização de pessoas de baixa renda. “Antes de pensar em reciclagem, temos que reutilizar os produtos”, declara Julio.
No entanto, apesar da grande importância social e ambiental, as ações dos núcleos de inclusão – embora forneçam mais tempo para o desenvolvimento de soluções a respeito do destino do lixo tecnológico – apenas adiam o problema para o futuro. Quando a vida útil dos equipamentos realmente chega ao limite, eles vão mesmo para o lixo.
De acordo com o professor, a solução para o problema do acúmulo de lixo tecnológico no Brasil e no mundo, antes do desenvolvimento de pesquisa de ponta para a reciclagem de compostos químicos e eletroeletrônicos, deve passar pela conscientização das pessoas.
“A cultura da sociedade de consumo é incompatível com a preservação ambiental na sociedade sustentável. A ciência não pode fazer nada se o ser humano não fizer a sua parte. É necessário mudar a mentalidade e o comportamento. Só assim teremos chance”, atesta o professor.