O Universo sempre foi objeto de estudo dos homens que, desde a Antiguidade, se preocupavam em tentar entender suas leis a partir da observação das estrelas. Por volta de 1610, Galileu Galilei, cientista italiano, desenvolveu um instrumento semelhante ao telescópio para poder observar o espaço. Séculos se passaram e o aperfeiçoamento das tecnologias trouxe a possibilidade de novos planetas serem descobertos. Entre eles o 109 Piscium b, 14 Herculis b, 16 Cygni b e o OGLE-2005-BLG-390Lb. Cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, anunciaram, no último dia 15 de setembro, a captura de imagens diretas de um novo planeta fora do Sistema Solar que orbita uma estrela muito parecida com o Sol, através do telescópio Gemini North, em Mauna Kea no Havaí, EUA.
De acordo com os cientistas, o planeta está localizado na Via Láctea, a 500 anos-luz da Terra e possui tamanho aproximado de Júpiter, com massa oito vezes maior. Embora tenham sido encontradas evidências de água e monóxido de carbono na atmosfera do planeta, os cientistas não acreditam haver possibilidade de vida. O Olhar Virtual conversou com Helio Jaques Rocha-Pinto, professor e coordenador de Pós-Graduação do Observatório do Valongo (OV/UFRJ), para falar sobre a descoberta e as principais conseqüências que ela pode trazer para o estudo do Universo.
Olhar Virtual: Os cientistas obtiveram as primeiras imagens de um planeta extra-solar que orbita uma estrela muito parecida com o Sol. Até que ponto essa descoberta é válida?
É preciso demonstrar que o planeta está em órbita dessa estrela, o que deve ser bem mais simples do que a obtenção da foto em si, pois bastará observar mais algumas vezes esse sistema de modo a calcular a órbita do planeta em torno da estrela.
Olhar Virtual: Qual a importância dessa descoberta?
A descoberta é importante por ser a primeira realizada mediante imagem direta. Todos os outros métodos usados para detectar planetas extra-solares usam sinais indiretos: não é o planeta que é observado, mas sim os efeitos causados por ele.
Olhar Virtual: Como essas imagens podem ser obtidas?
As imagens são obtidas por meio de um detector muito semelhante ao usado em câmeras digitais. A diferença é que ele detecta radiação no infravermelho. Nesta faixa de energia, a luz proveniente do planeta é mais copiosa; ainda que menor em intensidade do que aquela emitida pela estrela, é intensa o bastante para permitir que o planeta possa ser observado.
Olhar Virtual: Que tecnologias permitem essas observações?
A tecnologia se chama "óptica adaptativa". Nos telescópios que a tem, o espelho principal é bastante flexível e segmentado. Sob o espelho há um conjunto de equipamentos que conseguem mover milimetricamente cada um dos segmentos que compõem o espelho principal, de forma a modificar sua forma, tornando-a irregular. O truque desse aparato é que a irregularidade imposta ao espelho principal pelos pequenos equipamentos é calculada por um computador de modo a compensar a irregularidade da onda eletromagnética proveniente da estrela observada quando sua luz atravessa a atmosfera terrestre, onde há considerável turbulência. A ótica adaptativa tenta, desta forma, compensar o estrago feito pela atmosfera terrestre. O resultado é que a imagem obtida se assemelha àquela que seria obtida se o observador estivesse acima da atmosfera: a nitidez da observação é muito superior a qualquer observação feita sem essa correção.
Olhar Virtual: De que outras formas planetas fora do Sistema Solar podem ser localizados?
Através dos efeitos que esses planetas produzem no movimento das estrelas ou na luz que elas emitem. O método mais comum para a localização de novos planetas é aquele em que o movimento orbital do planeta em torno da estrela afeta a velocidade desta. O que se observa é a variação da velocidade estelar que leva à conclusão de que há um corpo girando em torno da estrela e o estudo da variação de velocidade indica qual deve ser a massa do planeta. Outra possibilidade é observar eclipses da estrela pelo planeta. Como este é um corpo muito pequeno em comparação com sua estrela, o eclipse não faz com que a luz da estrela desapareça, mas pode diminuir momentaneamente e ligeiramente sua intensidade.
Olhar Virtual: Para o senhor, o que ainda precisa ser avaliado ou investigado quanto a essa descoberta?
É preciso comprovar que o planeta fotografado tem órbita em torno da estrela fotografada ao seu lado.
Olhar Virtual: Diante das informações fornecidas pelos cientistas, o senhor acredita haver possibilidade de existir alguma forma de vida, embora os pesquisadores aleguem que não?
Não deve haver vida. Trata-se de uma estrela muito jovem, e o planeta em questão é tão grande que nem possui superfície, sendo composto basicamente por gás altamente comprimido. A vida não tem como se formar em um ambiente tão hostil, e mesmo que se formasse, não teria tido tempo para evoluir, dada a idade da estrela.
Olhar Virtual: Após divulgarem a descoberta os cientistas afirmam que vão tentar comprová-la. Qual é o próximo passo?
É preciso obter pelo menos mais duas imagens do planeta, em épocas diferentes, para poder calcular sua órbita.
Olhar Virtual: Que mudanças isso trará para a compreensão do universo?
Nenhuma mudança substancial, mas apenas um grãozinho de areia a mais no castelo de conhecimento que o homem vai criando sobre si e seu papel no Universo.