Há duas semanas, o Museu Nacional (MN/UFRJ) apresentou — durante uma coletiva de imprensa — o Guarinisuchus munizi, uma nova espécie de crocodilo marinho pré-histórico, que habitou o planeta há cerca de 62 milhões de anos. José Antônio Barbosa, paleontólogo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alexander Kellner, pesquisador do Museu Nacional, e Maria Somália Sales Viana, da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA/CE), desenvolveram juntos o trabalho científico descrevendo a espécie, publicado na revista inglesa Proceedings of the Royal Society B. O crocodilo — encontrado em 2002 na região de Mina Poty, situada ao norte de Recife, em Pernambuco — foiapelidado de “guerreiro dos mares” por ter sobrevivido à grande crise biológica que extinguiu os dinossauros no passado.
Na ocasião, a imprensa brasileira e internacional compareceu significativamente ao auditório da biblioteca do Museu Nacional, o que ocasionou a publicação de diversas reportagens sobre o assunto horas após a coletiva. Para Alexander Kellner, a presença massiva da imprensa reflete o interesse não só dos meios de comunicação pela ciência, mas também a curiosidade da população pelos fósseis.
— Esta foi a sétima coletiva de imprensa que eu organizei e da qual participei. Pude perceber que há um crescente interesse por parte da mídia pela divulgação de descobertas paleontológicas. Na minha opinião, esse interesse midiático reflete também a curiosidade da própria população. Os fósseis mexem com o imaginário das pessoas e fazem com que elas se interessem por questões científicas que envolvem a diversidade biológica do passado. Isso vai ao encontro da função dos pesquisadores no Museu Nacional, que é também de atrair as pessoas para dentro da instituição. Quando elas chegam aqui, vêem não somente o objeto de interesse e o que foi divulgado nos jornais, mas também muitas outras coisas, o que faz com que passem a ter um conhecimento maior sobre o mundo que as cerca, seja relacionado ao passado ou à atualidade — afirmou Kellner.
O pesquisador também comemorou a cobertura midiática da apresentação do Guarinisuchus munizi. “As reportagens foram excelentes. Acredito que o Museu Nacional já conquistou um certo prestígio na imprensa, porque toda vez que fazemos uma coletiva desse tipo somos muito bem atendidos. É claro que alguns veículos dão mais atenção à divulgação, outros menos. Hoje, se digitarmos Guarinisuchus munizi no Google, recebemos mais de 16 mil entradas, o que demonstra com evidência o interesse gerado por este tipo de pesquisa. Naturalmente, a imprensa sempre comete algum pequeno deslize. Mas é importante se colocar na posição dos jornalistas, porque é realmente difícil traduzir um conhecimento científico para uma linguagem mais simples e acessível. É completamente normal erros e excessos acontecerem”, analisa o paleontólogo, fazendo alusão ao jornal carioca que denominou o fóssil como jacaré ao invés de crocodilo.
Segundo Kellner, agora editor dos Anais da Academia Brasileira de Ciências, a mídia começou a mostrar maior interesse pelos fósseis em 1999, quando o Museu Nacional realizou a exposição “No Tempo dos Dinossauros”.
— O sucesso da exposição, que recebeu quase 70 mil visitantes, transformou o cenário da Paleontologia no Brasil. A mídia, pela primeira vez numa escala maior, descobriu o pesquisador de fósseis no país, e isso trouxe uma repercussão enorme para o Museu Nacional. Hoje, quando fazemos coletivas de imprensa, nossa intenção não é formar paleontólogos nem pesquisadores. Se despertarmos esse interesse nos visitantes, ótimo, mas não é nosso objetivo. Nosso propósito é fazer com que as pessoas tenham mais informações a respeito de dados científicos. Acredito que a função de todo pesquisador que trabalha numa instituição do tipo museu é divulgar os resultados das pesquisas e traduzir o conhecimento científico para uma linguagem que possa ser compreendida por toda a população — concluiu o paleontólogo, ressaltando que a falta de recursos financeiros é um fator limitante para a realização de pesquisas no Brasil: “O país precisa equacionar isso, porque estamos muito atrás quando comparados a outros países, como Argentina, China e, mais ainda, os Estados Unidos”, desabafou Kellner.