A dificuldade de encontrar livros didáticos sobre a História da Arquitetura no Brasil fez com que o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ), Francisco Veríssimo, concretizasse um sonho antigo de escrever um livro didático sobre a trajetória da arquitetura colonial brasileira. Chico Veríssimo, como é conhecido, elaborou a obra em conjunto com mais dois autores: William Bittar, também professor da FAU, e o Chico Mendes, historiador.
O texto, organizado em capítulos, abrange o conteúdo programático das aulas dos dois docentes da FAU. A obra trata de evolução urbana, sistemas construtivos, arquitetura oficial, civil e religiosa; todos os temas são fartamente ilustrados com material produzido especificamente para o livro, incluindo algumas considerações pouco discutidas na bibliografia usual. Segundo Francisco Veríssimo, o olhar do historiador confere à obra um caráter mais amplo e embasamento histórico para as questões da arquitetura.
Para contar mais detalhes sobre o direcionamento da arquitetura colonial, percorrendo todo o território luso-brasileiro e estabelecendo conexões e reflexões sobre elementos geradores do fenômeno arquitetônico conforme os diferenciados contextos de sua materialização, o Olhar Virtual entrevistou o professor Francisco Veríssimo. Confira.
Olhar Virtual: Como surgiu a idéia de escrever um livro sobre a trajetória da Arquitetura colonial no Brasil?
A idéia de escrever esse livro é mais antiga do que se possa imaginar. Foi em 1974, quando comecei a lecionar a disciplina Arquitetura do Brasil. Desde então, percebi a dificuldade de encontrar textos sobre a disciplina. Então, escrever um livro com este caráter é um sonho antigo. Em 1982, publiquei um inventário arquitetônico neocolonial. Em 1999, publicamos 500 anos da casa no Brasil, que analisava, do ponto de vista antropológico, a evolução da casa no país. Em 2001, publiquei Vida urbana.
A Arquitetura no Brasil, de Cabral a D. João VI é um livro didático para o ensino da arquitetura no Brasil, conta a história de nossa arquitetura a partir do olhar de dois arquitetos e um historiador.
No próximo ano, pretendemos lançar Arquitetura no Brasil, de D João VI à Semana de 1922, pois a única bibliografia sobre o século XIX existente foi escrita por Paulo Santos, em 1965.
É muito importante tratar as questões referentes à Arquitetura do Brasil, pois ela não segue os critérios cronológico-políticos: Império, Colônia, República. Na verdade, ela segue marcos como, por exemplo, a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil. Daí o título do livro.
Olhar Virtual: Como está estruturado o livro Arquitetura no Brasil, de Cabral a D. João VI?
Está, basicamente, estruturado nas nossas aulas. Cada capítulo é um conteúdo programático. O primeiro capítulo fala sobre os antecedentes europeus e a História do Brasil. O segundo capítulo aborda como as cidades foram sendo estruturadas. O terceiro versa sobre arquitetura colonial e as técnicas construtivas utilizadas à época. Depois vem arquitetura civil e, por último, a religiosa. São mais de 300 páginas contendo ilustrações de construções do período analisado pelo livro.
Olhar Virtual: O que há de mais marcante na Arquitetura daquela época que não existe hoje em dia?
Algumas lições do período foram abandonadas. Um exemplo é área de serviço que está cada vez menor; num clima como o nosso que é necessário lavar roupa freqüentemente, tendo em vista o calor. Hoje em dia, valoriza-se a varanda em detrimento da cozinha e da área de serviço, áreas importantíssimas porque são grandes fábricas. Nunca se deixa de lavar, secar e passar. Está havendo uma involução da setorização da casa. A cozinha até pode ser compactada devido às facilidades tecnológicas do dia-a-dia. Mas a área de serviço não. Do contrário, onde você vai lavar e secar a roupa, por exemplo?
Na casa colonial, por falta de tecnologia, estas áreas eram muito mais amplas.
A diminuição desses espaços são erros que vêm sendo cometidos por conta da falta de bibliografia sobre o assunto.
Olhar Virtual: Quais são os principais elementos da arquitetura colonial?
Do ponto de vista arquitetônico, os traços são bem adaptados ao clima brasileiro e à realidade social da época. Temos a vinda de D. João IV como um marco de modernidade e, de fato, foi. Era nossa Revolução Francesa, trouxe a modernidade importada, mas retirou elementos que eram extremamente favoráveis ao tipo de clima que temos. Isso é um marco fundamental. Hoje se buscam soluções bioclimáticas, mas que já existiam no passado. Do ponto de vista urbano, a arquitetura colonial não foi muito boa.
Alguns itens da arquitetura colonial podem ser estudados e adaptados atualmente sem problemas.
Olhar Virtual: Esses modelos de cozinhas e áreas de serviços muito reduzidos são modelos importados?
São, sim. A nossa modernidade é sempre o que vem de fora tendo como parâmetros os modelos norte-americanos e europeus.
Olhar Virtual: Qual é a importância deste livro para a Arquitetura e, como é um livro didático, qual sua importância para os alunos?
Qualquer livro é registro. Ele é importante na formação do profissional de Arquitetura e também para que ele conheça sua história, a brasileira, que é diferente da chilena, da argentina, da portuguesa, por exemplo.
Olhar Virtual: O que você destacaria do livro?
Destacaria o fato de ele ser didático. O último livro escrito com esta característica foi o de Paulo Santos, publicado há mais de 40 anos.