Foi-se o tempo em que a relação entre empresas e jornalistas muitas vezes era distante e até mesmo tensa. Com o advento das novas tecnologias e o fluxo quase que instantâneo de informações, a comunicação empresarial é vista hoje como ferramenta fundamental para ambos os lados. Para Gabriel Collares, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO–UFRJ), “as empresas que valorizam a comunicação, que a entendem como investimento e não como custo, sabem que ter os jornalistas como parceiros é de suma importância, ainda mais em momentos de crise. Não dá para criar uma boa relação de uma hora para outra”.
Essa mudança estratégica na filosofia empresarial afetou também a profissão do jornalista. A função do assessor de imprensa passou a ser mais valorizada. “Como jornalista você tem o dever de procurar mapear os riscos, levar à direção da empresa o que eventualmente está errado, o que deve ser feito para mudar. Por isso, fala-se agora em gestão de comunicação e o jornalista, por formação e conceitualmente, é capaz de atender essa necessidade”, diz o professor.
Universidade não acompanha mudanças
No entanto, mesmo com essas diversas mudanças no mercado de trabalho, Collares não enxerga uma mudança significativa no currículo das instituições de ensino. Para ele, poucas disciplinas são oferecidas, nas faculdades de Comunicação Social, para os alunos que se interessam pelo campo da Comunicação Empresarial, e uma mudança já deveria estar ocorrendo dentro das universidades. “Já é tempo de se pensar em uma nova habilitação para as escolas de Comunicação. O que se percebe também é que existe certa miopia com quem trabalha com comunicação institucional universitária”, afirma.
Para Collares, essa demora na adaptação das universidades não deve desviar a conduta do assessor. Segundo o professor, todo jornalista deve ter compromisso com a sociedade, e não somente com a empresa. Collares condena também atitudes ainda comuns no ramo, como o chamado “jabá” (reportagens que divulgam o trabalho de empresas ou grupos privados, em detrimento do interesse público). “Antes de tudo, todos são jornalistas e o compromisso é sempre com a sociedade”, analisa o docente.
A mídia muda sua visão
A maior profissionalização do trabalho de um assessor de imprensa fez com que a própria imprensa passasse a enxergá-lo de maneira mais positiva. Muitos jornalistas deixaram, na última década, as redações para trabalhar no campo da comunicação empresarial, e a experiência deles como repórteres foi de fundamental importância para a mudança na maneira como os assessores atuam. “Os releases são mais bem redigidos, ou seja, praticamente prontos para a publicação, sem erros ou imprecisões. Nesta estrutura de comunicação empresarial, pode-se também atender aos jornalistas com celeridade”, explica o professor.
Tais mudanças levaram a imprensa a valorizar mais o trabalho dos assessores de imprensa. Um estudo feito pela Escola de Comunicação da UFRJ mostrou que aproximadamente 35% do que sai nos jornais diários do Rio de Janeiro é resultado do trabalho das assessorias. “O tempo em que os assessores eram malvistos pelos colegas da redação ficou para trás. Existe hoje uma grande e profícua parceria. O que não dá para tolerar é uma parcela ínfima de assessores que ainda se valem de recursos espúrios para conseguir espaço, tempo ou exclusividade junto à mídia”, conclui.