Ilustração: Caio Monteiro |
No final do mês passado, uma série de abalos sísmicos atingiu o Chile e a costa do Oceano Pacífico. Foi um momento trágico e de grande comoção, que atraiu a atenção e a solidariedade de vários países do mundo, assim como ocorreu no terremoto no Haiti.
Diante de um acontecimento dessa proporção e com ajuda da tecnologia, a mídia noticia tudo o que está acontecendo, em tempo real e com atualização minuto a minuto. Foi exatamente isso que aconteceu, quando, no dia 27 de fevereiro, um tsunami iria atingir o Havaí, segundo especialistas de diversas áreas.
A rede americana CNN enviou uma equipe de reportagem ao estado americano para que fizesse uma cobertura no exato momento em que a onda gigante atingisse a praia. Milhares de espectadores acompanharam a programação dos canais da CNN pela televisão ou pela Internet, mas nenhuma grande tragédia, por sorte, parecia se aproximar. Diante da demora nos acontecimentos, o repórter presente no local se irritou e demonstrou profunda frustração com a ausência da grande catástrofe.
A atitude do repórter pode ser explicada pelo fato de que a mídia vive da atenção do público e tem como combustível a audiência. Para Muniz Sodré, professor de Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e presidente da Fundação Biblioteca Nacional, esse tipo de cobertura (a de catástrofe) provoca reações emotivas, que, em geral, conquistam o espectador e, consequentemente, audiência.
Uma das sensações que a mídia provoca com mais frequência é a emoção que nos faz arrepiar, ter nojo, criar simpatia quase que instantânea pela imagem de alguém. Os meios de comunicação, segundo o professor, geram o fracasso da razão e provocam explicações puramente emocionais. “O sensacionalismo”, acrescenta Sodré, “não é uma tendência natural da mídia, mas uma tendência cultural.”
Os órgãos de informação não têm a intenção de explicar ou questionar as causas dos fatos. A briga pela audiência é a maior prioridade da mídia, e sua principal finalidade é atrair a atenção do público. Por isso, o terror que as situações de tragédia provocam, prossegue o professor, é tão largamente noticiado pela mídia. Essas situações de pavor criam emoções na audiência. Sensações de solidariedade e de alívio se misturam, e as imagens fortes de calamidades provocam e estimulam obsessões de agressão, e consequentemente, identificação com o sofrimento das pessoas atingidas pela tragédia. Muniz Sodré explica: “a catástrofe em si não tem sentido, os espectadores não veem sentindo nenhum nelas. A mídia é que injeta sentido à catástrofe”.
A mídia, segundo ele, exacerba os efeitos catastróficos e causa mais medo no espectador, que já está amedrontado. “Acreditamos que estamos no controle tecnológico das coisas, até que um fenômeno que foge a esse controle causa medo, pânico”, aponta Sodré. No fundo, complementa ele, os espectadores têm sensação de estarem assistindo a um espetáculo, algo ficcional, e a mídia explora essas sensações.