Ilustração: João Rezende |
A “XXXII Jornada Giulio Massarani deIniciação Científica, Artítica e Cultural” recebeu, na última quinta-feira (07/10), as sessões “Escola e Práticas 8” e “Psicologia 1”, com apresentações de trabalhos complementares. O primeiro foi voltado a programas de alfabetização de jovens e adultos de camadas populares, e o segundo tratou da permanência dos jovens nos estudos, profissionalização e iniciação científica, no contexto familiar inserido na questão.
“Ingresso e permanência de jovens em ambientes de pesquisa no Ensino Médio: um estudo a partir de famílias de camadas populares” foi o trabalho apresentado por Joice Rodrigues Damasio, graduanda do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, e “Um olhar sobre a cultura - relatos de uma experiência no programa de alfabetização de jovens e adultos de espaços populares” foi o programa defendido por Marcos Poubel Araújo de França, graduando pela Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ.
Os projetos podem ser considerados complementares, já que um descreve o processo de alfabetização, o início da vida estudantil, independentemente da idade; e o outro, a permanência e a obtenção de sucesso profissional do jovem, oriundo de camadas populares, na projeção de uma carreira, o que seria a continuidade do processo de estudos.
Marcos França acredita que a introdução de atividades que estimulam o aluno e mostram outras perspectivas e culturas, podem incentivar o interesse pelo conhecimento. E que o ponto forte do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos (Paja) da UFRJ é a integração e o intercâmbio de sabedoria e vivência entre os alfabetizadores e alunos do projeto. Joice Damasio, por sua vez, analisa a participação da família no ingresso e na manutenção de jovens menores de idade oriundos de camadas populares no programa de iniciação científica de excelência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Marcos Poubel Araújo de França
Graduando de Educação Física da UFRJ e bolsista do Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos (PAJA) da UFRJ
“O Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos (Paja) da UFRJ é voltado aos moradores de espaços populares do Rio. Nossa maior atuação é no (Complexo da) Maré, mas também há turmas em Parada de Lucas, Ilha do Governador e Cidade Alta (Cordovil). São 19 turmas de 10 alunos em média, algumas com até 25 alunos. E a divulgação do projeto é realizada diretamente nas comunidades.
O Programa teve início em 2004, a partir de uma parceria entre a Faculdade de Educação (FE), Escola de Serviço Social (ESS), Faculdade de Letras e o Instituto de Matemática (IM). Através da perspectiva de Paulo Freire, instituiu-se um programa de formação continuada também para os alfabetizadores, bolsistas do projeto e graduados que apoiam e participam. Além de aulas, há uma conexão entre a sala de aula e atividades externas, os alunos participam de atividades com intervenções pedagógicas, como sessões de filmes, ida a museus, teatros, espaços culturais, locais que muitos deles jamais visitaram, mesmo morando na cidade do Rio há anos.
Grande quantidade dos alunos veio das regiões Norte e Nordeste do país, o que traz uma diversidade ótima para o aprendizado. Além disso, temos muitos alunos com mais de 50 anos, o que traz também um intercâmbio de experiências de vida e conhecimentos gerais, essa troca de saberes pode ser considerada um ponto forte do projeto.
Nessas atividades externas priorizamos a valorização da cultura popular obedecendo aos parâmetros curriculares do Paja-UFRJ, nosso objetivo é resgatar a cultura popular, ampliar o universo cultural dos alfabetizados e gerar reflexão sobre as manifestações populares atuais. Assim se dá a construção do projeto, como diria o educador Paulo Freire, ‘ensinandoseaprendeeaprendendose ensina’.“
Joice Rodrigues Damasio
Graduanda de Psicologia da UFRJ e bolsista do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ
“O projeto existe há um ano e meio e pesquisa a forma como uma família que acumula tantas deficiências pode levar uma criança de baixa renda a ter sucesso na escola. Nós pesquisamos 15 jovens, moradores do Complexo da Maré, que se formaram no Provoc (Programa de Vocação Científica). Fazemos parte de um projeto maior, que é o projeto “Juventude”, que já acontece há cinco anos e tem o intuito de analisar os processos de socialização na juventude, nas possíveis relações entre os percursos escolares e outras dimensões, como família, religião, trabalho.
Nós escolhemos estudar a relação dos jovens com a escola e com sua família. O que foi muito interessante, pois os resultados foram surpreendentes. Ao analisar a conexão entre família e escolarização dos jovens, primeiro percebemos uma preocupação muito grande de os pais buscarem um futuro melhor para os filhos ao tentarem colocá-los nesse programa de excelência, que é o Provoc. O objetivo do projeto é receber jovens estudantes nos laboratórios de pesquisa da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), visando a incentivá-los a seguir carreiras científicas. Isso demonstra que o favorecimento econômico não é condição para a excelência escolar, quando se possui alguns fatores determinantes na educação de jovem de baixa renda.
Primeiramente, é primordial afirmar que as estratégias adotadas por essas famílias na educação de seus filhos foram fundamentais na trajetória escolar. Como por exemplo, a presença de uma ordem moral e doméstica, com os pais dizendo para os filhos não pensarem em namoro, nem em qualquer outra coisa, antes de atingir os objetivos nos estudos.
A presença do valor dos estudos como busca de um futuro melhor do que o dos pais, a valorização do estudo em primeiro lugar e, principalmente, o incentivo, a admiração dos pais nas trajetórias dos filhos, sendo eles os únicos a se graduarem nas famílias, por vezes, são as grandes motivações para o sucesso desses jovens que, mesmo em condições adversas, conseguem se superar, mostrando o valor da família na educação.
Por fim, acredito que o processo de manutenção e formação dos alunos de camadas populares é atingido, em grande parte, por meio do processo de escolarização através do afeto, tanto dos pais, quanto dos professores, dos próprios colegas de classe, dos exemplos de biografias exitosas e da mobilização diferenciada de suas famílias.”