Tecnologia ecológica e 100% brasileira, assim é o novo Modificador Reológico Polimérico Biodegradável para Fluidos de Perfuração de Base Orgânica, desenvolvido pela professora do Instituto de Química da UFRJ e superintendente do Pólo de Xistoquímica, Regina Sandra Nascimento e pelo mestrando Juan Manuel Mongollón. O projeto recebeu o segundo lugar no prêmio Latin America Innovation Prize, concedido pela Bayer, em maio desse ano, na Feira Internacional da Indústria do Plástico. A UFRJ recebeu menção honrosa por ter sido a instituição com maior número de projetos inscritos.
O prêmio visa incentivar projetos inovadores desenvolvidos pelas universidades nas áreas de química, química de polímeros e macromolecular, engenharia química, ciência de materiais, que apresentassem novas aplicações para os produtos da Bayer ou modificações em seus processos de produção atuais. Em entrevista ao Olhar Virtual, a professora Regina Sandra fala de seu premiado projeto, sua aplicabilidade e da relação da universidade com a indústria.
“O prêmio era dirigido a pesquisadores, pois a Bayer queria premiar uma proposta inovadora. Esse foi um projeto que ainda não havia sido realizado, foram três meses desenvolvendo a idéia. Posteriormente, foram obtidos os resultados que confirmaram a eficácia do conceito proposto.
Foi desenvolvido um polímero para fluidos de perfuração em poços de petróleo. Esses fluidos têm uma função importante durante a perfuração, a de carregar o cascalho produzido para superfície. O fluido sai da broca e retorna carregando o cascalho pelas paredes do poço.
Quando a perfuração é interrompida o fluido deve ficar viscoso, com a consistência de um gel, e tornar a ficar fluido com a retomada da perfuração. Tal característica do fluido é chamada de pseudoplasticidade.
Os fluidos podem ser de base óleo ou aquosa. O fluido de base óleo, que é uma emulsão de fase inversa, tem mais dificuldade para desenvolver a pseudoplasticidade, no entanto eles são necessários para perfurações em poços com ganhos de ângulo, poços curvos, comuns em águas profundas. Durante a perfuração são usados diferentes tipos de fluidos de acordo com a necessidade.
Atualmente, a pseudoplasticidade nos fluidos utilizados na perfuração de poços de petróleo é dada através da presença de partículas de argila organofílicas. Se a perfuração for em formações frágeis, as partículas sólidas (argilas organofílicas) podem danificar essas formações.
A novidade da nossa proposta é um aditivo para o fluido de base óleo. Nós propomos um aditivo para esse fluido obter a pseudoplasticidade que funciona de forma completamente diferente. De maneira geral, os aditivos que existem no mercado atuam no óleo. Nós olhamos a emulsão como um todo e pensamos em um aditivo que forme uma rede transitória com as gotículas de água presentes no fluido de base óleo, dando a viscosidade necessária para a perfuração.
O novo polímero forma uma rede entre as partículas de água presentes no fluido de base óleo. Essa tecnologia permite que um poço de petróleo seja perfurado mesmo em formações frágeis, sem as danificar, o que é de extrema importância, pois danificar uma rocha pode significar perder o poço.
Esse polímero, como todos os nossos projetos, é biodegradável e não tóxico. Não faz sentido gastarmos tempo e dinheiro para desenvolver uma tecnologia que mais dia menos dia, não vai mais poder ser usada.
A proximidade com a indústria é válida, o caminho é esse. Não dá para a universidade ficar isolada e apenas ser financiada pelos órgãos de fomento e nós, pesquisadores, ficarmos gerando conhecimento para que outros países apliquem. Esse modelo do governo subvencionar 100% da pesquisa deve evoluir para uma parceria com as indústrias. Se a pesquisa é subvencionada pelos órgãos de fomento e seu resultado é apenas uma publicação, corre o risco de não ser gerada uma tecnologia que reverta benefícios para o Brasil. Não se pode deixar que empresas dirijam os caminhos da pesquisa na universidade, mas em parceria com os órgãos de fomento, os desvios nesse sentido podem ser corrigidos.
Todo concurso é estimulante e são necessárias ações que instiguem o pesquisador. Um prêmio como esse torna pública a pesquisa de qualidade que é feita na universidade. É muito bom para a instituição.
Nós, pesquisadores, temos que patentear. É preciso fazer um esforço para patentear nossos trabalhos, antes mesmo de fazer uma parceria com a indústria. É muito importante”.