Ilustração: João Rezende |
Durante muitos anos, todo o lixo da cidade do Rio de Janeiro era levado para o aterro de Gramacho. Recebendo cerca de 8,5 toneladas de lixo por dia, em seus primeiros anos, nada mais era do que um lixão. Apenas posteriormente, quando já havia se formado uma montanha de lixo, o governo tentou realizar alguma forma de controle e amenização dos impactos ambientais. Agora, finalmente, o aterro está sendo desativado e seu lixo transferido para um novo e moderno Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), em Seropédica, inaugurado no mês passado.
Porém, o CTR vem sofrendo críticas de ambientalistas devido à escolha do lugar: o aterro fica sobre o aquífero de Piranema, em uma área suscetível a inundações e por onde passam dois córregos que deságuam no Rio Guandu, responsável pelo abastecimento de toda a capital e parte da região metropolitana. A contaminação desses recursos hídricos é preocupante, mas, segundo o professor Cláudio Fernando Mahler, do Grupo de Estudo em Tratamento de Resíduos Sólidos (Getres) do Coppe, é difícil achar uma região, em especial no Rio de Janeiro, que não tenha algum problema na bacia hidrográfica e certo risco de contaminação em alguma área importante. “A questão é que ninguém quer ter um aterro perto de casa. Ele provoca desvalorização comercial dos imóveis, o que gera reação da população do entorno. As pessoas em geral não sabem diferenciar um lixão de um aterro sanitário. É medo de qualquer cidade ficar caracterizada como lixão.”
Enquanto em um lixão, como era o caso de Gramacho em seus primeiros anos, os resíduos são depositados sem qualquer controle ou monitoramento. Em um aterro sanitário, há impermeabilização prévia do solo, coleta de chorume e, no caso de Seropédica, houve especial preocupação do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) com os procedimentos de monitoramento do lençol freático, para evitar qualquer efeito no subsolo e na bacia hidrográfica. “Se fizerem direito toda essa parte de proteção da manta e coleta de chorume, a probabilidade de contaminação é muito pequena”, acrescenta Mahler.
Ainda sobre as diferenças entre o aterro de Gramacho e o CTR, o professor diz: “Uma coisa é um carro com ar condicionado de fábrica, outra coisa é um adaptado. Ou seja, se já começa com medidas para coleta e tratamento de chorume, coleta e tratamento do gás, e funciona assim, tem menos problemas. Porém, se funcionou de forma completamente descontrolada e depois, quando já tem uma enorme montanha de lixo, você quer colocar mecanismos para controlar, fica complicado”.
A cidade de Seropédica como um todo deveria ser recompensada, buscando acordos com a prefeitura do Rio, para trazer benefícios (como escolas, casas de saúde, áreas de lazer), em troca do enorme benefício que está fazendo para a capital do Estado ao sediar o CTR. Nas palavras do professor do Coppe: “Seropédica precisa estudar seriamente como desse limão fazer uma limonada”.