Em seu primeiro ano como aluna do curso de pintura da EBA, Helenise Guimarães, começou a trabalhar no barracão da Paraíso do Tuiuti e já dava seus primeiros passos no mundo das escolas de samba.
Hoje sua relação com o carnaval dura mais de 10 anos. Doutora e professora da EBA, ela foi carnavalesca e jurada do quesito Alegorias e Adereços por dois anos.
O julgamento lida com as emoções do Carioca, que torce por sua escola do coração e na quarta-feira de cinzas acompanha atentamente a divulgação das notas. Eleger o vencedor do Carnaval é uma tarefa delicada e fascinante. Em entrevista para o Olhar Virtual, Helenise Guimarães nos fala de sua experiência como jurada dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
“Ser jurado de uma festa como o Carnaval é uma experiência ótima para quem é pesquisador e a própria Liga busca na universidade julgadores. Outros professores da EBA já foram jurados, eu não fui um caso a parte. Já havia recebido o convite desde 1991, quando ainda estava escrevendo minha dissertação de Mestrado, mas não me sentia com bagagem para assumir essa responsabilidade. Em 2004, coordenando o projeto de estágio nos barracões, o presidente da Liesa me convidou para ser jurada. Meu currículo passou por uma avaliação e eu aceitei. Foram dois anos de julgamento e depois fui afastada.
Julgar é muito difícil, tem toda uma orientação do que você deve avaliar e é muito minucioso e absolutamente técnico, enquanto o julgamento do povo, das escolas é absolutamente emocional. O nosso julgamento tem que ser frio, você olha a alegoria e tem que tirar pontos conforme o regulamento, por elementos quebrados, defeitos ou uma alegoria que não se encaixa no enredo. A orientação é valorizar ao máximo o 10. Às vezes um décimo é um conjunto de fatores.
Nós seguimos orientações, mas há também a imperícia, quando a pessoa não está habilitada para julgar. Mas essa inabilidade só se dá a partir do momento em que você olha o conjunto das notas. Se forem muito discrepantes, a pessoa deixa de ser jurada, por conta de votação secreta dos presidentes das agremiações.
Todas as escolas partem do pressuposto de que investiram um ano de trabalho, todas querem 10. São 40 julgadores, divergências são normais. Não se pode deixar pressionar pelo peso do nome da escola e ser ético o bastante para servir às 14 agremiações. Cada décimo que foi tirado é justificado por escrito e exposto ao público. Nem sempre uma escola que é favorita transmite isso para o júri, ainda mais em quesitos muito técnicos. No final das contas o julgamento é subjetivo.”