Olho no Olho

Burnout: o estresse no trabalho

Aline Durães

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O despertador toca, anunciando que é hora de ir trabalhar. O indivíduo, no entanto, continua na cama. Após alguns minutos, levanta-se e, desanimado, se apronta para mais um dia. No trabalho, sente-se mal, cansado, insatisfeito. Nos últimos tempos, trabalhar é um fardo, fonte de estresse e de exaustão mental para ele. Se você se encaixa nessa situação, pode estar sofrendo da Síndrome de Burnout e saiba que não é o único.

A Síndrome de Burnout, embora ainda pouco conhecida pela maior parte da população, afeta, segundo pesquisa realizada pela International Stress Management Association, cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros. Trata-se de uma condição de estresse crônico, acompanhada de exaustão mental, física e de sintomas, entre eles, dores de cabeça, irritabilidade, gastrite e hipertensão. É comum também o trabalhador desenvolver depressão.

Ela acomete, principalmente, indivíduos idealistas, perfeccionistas e muito ligados à área profissional que, apesar de ingressarem no trabalho com perspectivas grandiosas, acabam se sentindo frustrados diante das poucas oportunidades oferecidas pela empresa. A Síndrome de Burnout pode se iniciar quando o funcionário possui um sentimento de injustiça e de falta de reconhecimento. A tendência é que esse trabalhador passe a apresentar queda de rendimento, absenteísmo e despersonalização — condição na qual ele vê com distanciamento e frieza os clientes a quem presta serviço. Muitos abandonam o emprego diante da total falta de motivação vivenciada ali. Outros chegam a mudar de profissão.

Para entender melhor as razões e as conseqüências da Síndrome de Burnout, o Olhar Virtual conversou com dois pesquisadores da UFRJ. Lucia Novaes, professora do Instituto de Psicologia (IP), falou sobre a Síndrome e explicou suas formas de tratamento. Já Joaquim Sérgio, do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (Coppead), ressaltou que somente um bom líder é capaz de lidar com funcionários que manifestem a Burnout. Confira!

 

Joaquim Sérgio
Professor do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração

Assim como a cultura forma a identidade de uma organização, os valores são os traços que caracterizam essa cultura. Logo, sempre que os valores de uma pessoa se contrapõem aos da cultura da empresa onde trabalha, teremos aí uma primeira explicação para o conflito intrapessoal entre essa pessoa e a organização a que pertence.

Outros fatores importantes de desgaste psicológico e emocional do trabalhador são (1) o clima da organização, pesado ou leve; (2) a natureza do trabalho, monótono e repetitivo ou variado e criativo; (3) a pressão do tempo sobre a tarefa, razoável ou desmedida; e (4) a liderança exercida, comedida ou abrasiva.

Todos os trabalhadores são suscetíveis a situações de depressão diante de injustiças e falta de reconhecimento profissional. O que varia é o grau de frustração emocional, que vai da insatisfação e revolta momentâneas até níveis profundos de abatimento que podem resvalar para a depressão propriamente dita. Todavia, há que se fazer um reparo: quanto mais elevado o preparo e a qualificação do profissional, mais sensível ele se torna a situações de desconhecimento do mérito. Poderíamos dizer que ele é assaltado por um sentimento de irrelevância. A Burnout não permite rendimento. Talvez fosse mais adequado falar em prendimento. O trabalhador se bloqueia, não rende: ele prende todo o seu potencial.

E os gestores das organizações andam mal das pernas nessa questão. Acredito que nove entre dez administradores encaram o que está acontecendo como mais um caso de: a) funcionário mal recrutado e selecionado; b) funcionário que era bom e deixou de sê-lo; c) ao se tornar idoso, virou um traste que vive se lamentando. Outros exemplos, deixo à imaginação do leitor.

Para que uma empresa reconheça os sinais da Síndrome, basta ter bons líderes! O líder sabe o que fazer não só em relação à pessoa do funcionário, como também no que diz respeito às funções, às tarefas, ao equilíbrio entre o tempo disponível e a carga de trabalho e, acima de tudo, o líder sabe reconhecer o mérito do empregado. A difícil prática: escolher bons líderes! Eles sempre sabem como despertar a motivação dos seus colaboradores. Nesse campo, jamais esquecem a grande lição: motivar é lapidar diamantes; resgatar motivação é tentar burilar pedra de carvão.

 

Lucia Novaes
Professora do Instituto de Psicologia

A Burnout é uma síndrome, ou seja, uma condição onde se apresentam sintomas característicos e que pode propiciar o desenvolvimento de certas doenças. Temos visto que a Síndrome de Burnout está associada ao estresse ocupacional, sendo vinculada a estressores profissionais. Ela se caracteriza por um estresse crônico que leva a pessoa a manifestar sintomas específicos, tanto emocionais como físicos.

Embora a Síndrome seja estudada, principalmente, entre profissionais assistenciais — aqueles que trabalham com a assistência ao outro, como professores e profissionais de saúde, por exemplo, existem autores que ampliam esse conceito e afirmam que trabalhadores de qualquer área profissional manifestem seus sintomas.

Geralmente, pessoas muito idealistas e fortemente ligadas à área profissional são as mais suscetíveis à Burnout. Ao desenvolver a Síndrome, o indivíduo consegue, em seu ambiente de trabalho, agir bem tecnicamente, mas não olha seu cliente como um ser humano; passa, pelo contrário, a tratá-lo como um objeto. São comuns também comportamentos de cinismo ou de deboche por parte do funcionário, o que, por sua vez, contamina o ambiente de trabalho.

Esses sintomas, apesar de serem gerados no ambiente de trabalho, podem resvalar para a vida pessoal. Bom suporte social e familiar, no entanto, favorecem o não desenvolvimento da síndrome ou possibilitam ao indivíduo lidar melhor com ela.

Na maioria das vezes, as pessoas acreditam que a solução para a situação é deixar o emprego. É bom lembrar, contudo, que, ao abandonar o trabalho, o indivíduo está levando consigo as características que, em combinação às do contexto organizacional, propiciaram o desenvolvimento da Burnout.

O primeiro passo para o tratamento é o trabalhador se conscientizar do problema e entender que serão necessárias mudanças em seu comportamento. O tratamento envolve a inserção de atividades cotidianas de controle de estresse, como atividades físicas, que produzem endorfinas, evitando, assim, que o organismo se desgaste facilmente. Alimentação balanceada e técnicas de relaxamento são outras demandas necessárias. Por fim, pode-se recorrer à terapia, que auxiliará esse indivíduo a se adequar ao contexto do trabalho e a aprender com as adversidades que encontrar, lidando melhor com as frustrações do dia-a-dia.