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O que acontece com o mundo árabe?



Gisele Motta

 

O setor de Estudos Árabes da Faculdade de Letras (FL) promoveu, na última segunda-feira (21), a palestra “As revoluções no Oriente Médio: causas e consequências”, ministrada pelo professor Hani Hazime, especialista da UFRJ em assuntos islâmicos.

Diante de toda a agitação que se abate sobre o mundo árabe, a importância de fontes fidedignas é grande. Isso porque os países que sediam os acontecimentos não possuem liberdade de imprensa assegurada e muito do que chega ao Ocidente são fatos fragmentados. Segundo Hazime, o que acontece no mundo árabe são manifestações muito peculiares e distintas.

Embora não veja um estopim prático e concreto que seja responsável pelo início dos protestos, o professor acredita que havia na região uma pressão acumulada: “acontece a revolução quando a pressão chega ao máximo, como uma panela com água fervente”.

Hazime contesta as afirmações populares de que a cultura dos povos árabes é incompatível com a democracia, que é mística e irracional. Rebate isso afirmando que “as raízes da liberdade e democracia existiam no princípio, na primeira dinastia. Foi apenas nas dinastias seguintes que os árabes começaram a seguir o modelo bizantino, persa, tornando o poder hereditário”.

O povo parece querer de volta a democracia que encontrou nos primórdios. Hazime traça um comparativo dos protestos atuais com os movimentos revolucionários de 1968, onde também havia grande quantidade de jovens, estudantes e um número notável de mulheres.

Os protestos que aconteceram e acontecem no Egito, na Líbia e em outras regiões, segundo o professor, apresentam características inovadoras: a falta de slogans religiosos ou ideológicos, um caráter notadamente laico, ausência de líderes destacados ou carismáticos, meios modernos de disseminação dos acontecimentos (uso de redes sociais como o twitter, facebook e uso de celular) e especialmente a falta de hostilidade contra outros grupos e países. Ou seja, o que o povo de fato quer é democracia e liberdade. Não há outros inimigos além da repressão.

Hazime destacou que os movimentos organizados internacionais estão paralisados diante das explosões contra as ditaduras. “O Oriente Médio é feito de um povo cansado de golpes militares e políticos corruptos. A população perdeu a esperança no Ocidente, pois este, apesar de apoiar ideologicamente a liberdade e a igualdade, protege os regimes autoritários em prol de seus interesses”, completa.

O professor acredita que os protestos do mundo árabe podem chegar à Palestina e modificar a realidade de intensos e incessantes conflitos no local. De acordo ele, as recentes investidas, por serem laicas, podem ajudar a resolver o imbróglio entre esses dois povos, na medida em que promova a aceitação de ambas as culturas e religiões. “Por que o povo árabe e o povo judeu não podem viver em comum acordo para formar um novo povo? Assim aconteceu com os espanhóis e nativos, formando os hispânicos e com os portugueses e nativos, formando os brasileiros”.

Foram necessárias muitas formas de repressão e lutas internas até o povo perceber que a liberdade está essencialmente ligada à harmonia. Sendo assim, o pesquisador espera que a última luta seja essa e que a vitória traga finalmente o desejo de milênios: paz.