O assassinato de um estudante no último dia 18, em São Paulo, trouxe de volta à tona a discussão sobre o que se tem feito para manter a segurança nas Instituições Federais de Ensino Superior do país. A vitima, Felipe Ramos de Paiva, já havia sido assaltada no estacionamento do campus onde estudava. Os alunos da USP e de outras universidades pedem por mais segurança.
Armando Luís do Nascimento, diretor da Comissão Nacional de Gestores de Segurança nas Instituições Federais, em entrevista para o portal Vida Universitária, reconhece a existência de violência dentro das universidades brasileiras, principalmente nas públicas. “Os campi vivenciam as mesmas problemáticas de qualquer capital, com todas as suas variedades de tipos e gêneros”, explica ressaltando a importância da criação de uma força de segurança no nível das necessidades das instituições.
A opinião de Nascimento é compartilhada pelo prefeito da Cidade Universitária, Helio de Mattos Alves, que acrescenta: “a violência não ocorre nas universidades. A questão territorial é muito importante, pois os delitos conhecidos ocorrem não no interior das universidades, mas na parte externa dos prédios onde se localizam as universidades”. Números indicam que os principais crimes cometidos são furtos e roubos de automóveis, sendo que na Cidade Universitaria da UFRJ a maior parte deles se relaciona a furto de automoveis.
“Os casos que acontecem no nosso território [os campi da UFRJ] são relativamente menores que no restante da cidade, mas sempre causam muito mais repercussão e reações em toda a sociedade.” afirma o prefeito Hélio. “Isso é bastante amplificado pela grande mídia que tem um foco especial nas universidades públicas. No caso da USP, ocorreu um delito que causou a morte de um aluno e isso repercutiu em todos os cantos. Sempre nesses momentos clamamos por ações e exigimos atitudes das autoridades universitárias. Começamos a questionar sobre o fato da Cidade Universitária com 75.000 pessoas e 45.000 veículos não ter um controle de acesso de pessoas e veículos nas suas quatro entradas, cinco saídas e nas suas fronteiras. As emoções de momento acabam levando a propostas impossíveis de serem colocadas em prática”.
Para o professor Michel Misse, especialista em violência urbana do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, homicídios em campi universitários tendem a ser raros e imprevisíveis, geralmente associados a relações afetivas; quando associados a mercados ilegais, podem ser mais facilmente prevenidos. “Crimes não-violentos, como furtos, tendem a acompanhar a mesma tendência encontrada no restante do município. O que se pode tentar evitar, em função das características dos campi, são os crimes violentos, como roubos, agressões e homicídios. Para isso, é preciso que haja boa iluminação em toda a extensão dos espaços entre os prédios, vigilância por câmeras de modo a inibir a ação continuada de quadrilhas, e postos de vigilantes uniformizados bem posicionados próximos aos prédios, nas áreas de circulação de pessoas. É preciso também a montagem de um sistema de estatísticas sobre as ocorrências dentro do campus para melhor avaliar os hotspots (áreas onde ocorrem mais furtos e roubos), o que permitirá um trabalho preventivo nessas áreas.”
Na UFRJ: aproximadamente R$ 15 milhões anuais investidos em segurança
A Cidade Universitária, que possui uma área de aproximadamente quatro milhões seiscentos e cinqüenta mil metros quadrados (equivalente a Ipanema e Leblon juntos), é um local que conta com quatro entradas e cinco saídas. Diariamente, aproximadamente sete mil pessoas são atendidas no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e semanalmente, a Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) recebe três mil crianças no programa de atendimento a rede escolar municipal. Na Vila Residencial existem três mil moradores, grande parte técnicos-administrativos da UFRJ e seus dependentes. Grandes empresas estatais e privadas possuem centros de P&D nessa cidade. O campus conta também com diversos bancos, uma Farmácia comercial, uma escola municipal e diversos estabelecimentos comerciais de pequeno porte. No final de semana, a Ilha é aberta para lazer e é freqüentada por boa parte da população que reside em um raio de 50 quilômetros. Aos sábados, domingos e feriados, a cidade é ocupada por praticantes de futebol, ciclismo, voleibol, futebol de salão, caminhadas nas ruas e avenidas e diversos esportes. Além de pescarias no fundo na Baia da Guanabara. Como controlar essa quantidade tão grande de pessoas circulando?
“Nessa cidade de médio porte estão situados nossos prédios onde aproximadamente 70% da UFRJ exerce suas atividades. As ocorrências de delitos no interior nesses prédios são pequenas. Temos avançado na melhoria”, diz o prefeito. “A Administração Central investe em serviços de portaria e vigilância terceirizada. Vários prédios possuem sistema de câmeras que é uma ferramenta fundamental para esse serviço. O prédio do CCS onde circulam oito mil pessoas por dia este implantando um sistema de controle de acesso através de crachás para usuários e visitantes. Implantar um sistema desses que hoje e rotineiro em prédios muito maiores não significa nenhum constrangimento. E muito importante o treinamento do pessoal que trabalha nesse sistema.”
Junto com os investimentos,o reitor Aloísio Teixeira e o prefeito Hélio de Mattos se reuniram com José Mariano Beltrame, Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, discutindo o aumento do apoio da Polícia Militar. “Rondas ostensivas a cavalo, de motocicletas, de bicicletas e veículos estão sendo colocadas em práticas e uma base de apoio na Cidade Universitária para dinamizar mais o trabalho da PM. A Policia Civil onde os registros das ocorrências da Cidade Universitária são feitos tem feito um trabalho de investigação que levou recentemente a prisão de alguns bandidos envolvidos em seqüestros relâmpagos.”
A área de segurança é a segunda área com mais investimentos, depois apenas da energia elétrica. Todos os prédios da Cidade Universitária, do Centro da Cidade, em Xerém, Macaé e onde a UFRJ está presente é guarnecido durante 24 horas do dia, inclusive aos sábados, domingos e feriados por um sistema de segurança. São aproximadamente 15 milhões de reais anuais investidos nesse serviço. A Cidade Universitária ganhou uma atenção especial: Além desse sistema de vigilância terceirizada, investe-se no atual sistema de vigilância federal capacitando melhor o atual quadro, melhorando a capacidade material a DISEG com rádios e veículos. Manutenção das áreas verdes não utilizadas com poda e capinas e melhorias no transporte interno. Em 2010, foi implantado um novo sistema de iluminação nas ruas e avenidas, foram R$ 2.500.000,00 do REUNI que levou iluminação a várias ruas e avenidas. O Terminal de Integração inaugurado em 2010 permite o transbordo de passageiros de diferentes locais da Cidade e Estado do Rio e facilita o deslocamento na cidade universitária de forma segura e eficaz.